O presidente Jair Bolsonaro (PSL) enfrentou sua primeira grande manifestação no cargo. Estudantes de todo o país paralisaram as atividades contra os cortes de 30% nas universidades federais, técnicas e ensino básico. Em Curitiba, movimento reuniu pelo menos 15 mil pessoas para cobrar a retomada dos investimentos e fim à perseguição contra a educação. O presidente, no entanto, menosprezou os protestos. Ele chamou os estudantes de “idiotas úteis”.
O levante de 15 de maio contra o governo reuniu estudantes, secundaristas, professores e militantes sociais na capital paranaense. Durante a caminhada que saiu na Praça Santos Andrade e terminou no Palácio Iguaçu, os manifestantes criticaram os ataques que a educação estão sofrendo do governo de extrema direita. Com cartazes, faixas e muito ativismo nas redes sociais, a manifestação disse que Bolsonaro apoia as milícias enquanto precariza a educação.
Os cortes previstos pelo Ministério da Educação atingem a UFPR, o IFPR, a Unila e a UTFPR. Ontem (14), o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, esteve na Câmara Municipal e defendeu a necessidade de a sociedade se mobilizar contra os cortes. Ele apontou que do orçamento total da UFPR, de R$ 1,543 bilhões, cerca de R$ 1,38 bi é para pagamento da folha de pagamento de ativos e inativos. Deste total R$ 515 milhões são para o pagamento de aposentados e pensionistas. “Não há mais gordura para queimar. Desde 2017, quando assumi a reitoria, estamos fazendo cortes. Não há desperdício na UFPR”, citou.
A Universidade comemorou o fato de todos os deputados paranaenses se posicionarem contra os cortes. “A Universidade Federal do Paraná informa que, após divulgação pela imprensa de lista dos deputados solidários a UFPR, UTFPR, Unila e IFPR, o coordenador de articulação da bancada parlamentar federal, Deputado Toninho Wandscheer, nos comunicou que a totalidade dos deputados federais paranaenses se posiciona favorável às instituição e contra os cortes”, observa nota.
Na Assembleia Legislativa do Paraná, os deputados usaram a tribuna para repudiar o governo Bolsonaro. Em parte ao deputado professor Lemos, a deputada Luciana Rafagnim disse que “a educação está parando o Brasil, parando para que o povo olhe com atenção o que o governo vem fazendo com a educação do nosso país”. Já Lemos destacou que “essa mobilização deve fazer com que o governo federal se sensibilize e mude de ideia. Que não corte recursos da educação, pois ela é fundamental para o desenvolvimento do nosso país”.
Embora as ruas e os políticos demonstrem oposição às medidas, o presidente Jair Bolsonaro menosprezou os protestos. “É natural, é natural, mas a maioria ali é militante. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis que estão sendo usados de massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais no Brasil”, declarou.
O governo e o presidente se envolveram em uma lambança que terão que explicar na Câmara dos Deputados. Ontem (14) uma comitiva de deputados governistas se reuniu com o presidente que teria ligado para o ministro da Educação Abraham Weintraub ordenando a suspensão dos cortes. Em seguida, governistas desmentiram a informação, o que levou à convocação do ministro pelos deputados. Parlamentares presentes no telefonema cobraram Bolsonaro.
“Eu estava na reunião e fui convidado para ir ao Palácio do Planalto. Eu me surpreendo com a notícia dizendo que o ‘contingenciamento permanece. O governo Bolsonaro sabe o que faz. O resto é boato barato’. Quem criou isso foi o governo. Eu não vou admitir, sendo aliado do governo, presenciar o presidente da República pegar um celular e ligar para um ministro na presença de vários líderes partidários e, com todas as letras dizer que o corte está suspenso. Se o governo não sustenta o que o presidente falou na frente de 12 parlamentares, não sou eu que vou passar por mentiroso perante a nação. o governo tá batendo cabeça”, acusou o capitão Wagner (Pros/CE).
Escola sem partido
Os protestos não se restringem apenas aos cortes financeiros na educação. Os estudantes também questionam a perseguição no ambiente escolar em projetos como “Escola sem partido”, também conhecido como “Escola com mordaça”. De acordo com a Assembleia Legislativa, “representantes da diretoria da OAB-PR estiveram nesta quarta-feira com o presidente da Alep, deputado Ademar Traiano (PSDB), para entregar um parecer sobre o projeto de lei que institui o programa “Escola sem Partido”. Segundo o presidente da entidade, Cassio Telles, trata-se de um parecer dentro das normas constitucionais e do Direito brasileiro.
Depois de mais de um mês de discussão do projeto de lei conhecido como “Escola Sem Partido”, na Comissão de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o parecer favorável ao texto, apresentado pelo deputado Luiz Fernando Guerra (PSL) foi aprovado. Agora ele já pode tramitar em plenário.
Por Manoel Ramires/Senge-PR
Foto: Luciana Santos