Crise da Petrobras, intensificação da polarização da política brasileira e atuais medidas econômicas. Estes foram alguns dos pontos perpassados pela economista e socióloga, Tânia Bacelar, durante palestra realizada no dia 5/3, ao final da reunião do Conselho Deliberativo da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge). “Estamos vivendo uma conjuntura delicada. Isso porque o pós-eleição presidencial desencadeou um ferrenho processo de polarização no país, arrefecido pela repercussão da operação Lava-Jato da Petrobras. Precisamos defender a engenharia nacional e o Brasil”, alertou o presidente da Fisenge, Clovis Nascimento. Tania iniciou a palestra falando sobre o contexto internacional e suas consequências na economia brasileira. “A crise vem de 2008 no coração da esfera financeira. Parte da crise, hoje, na indústria vem da abertura comercial e financeira dos anos 1990. Quanto aos países emergentes, ocorreu recentemente (entre 2012 e 2014), uma desaceleração, influenciada em grande parte pela economia chinesa (passa de 10% para 7%)”, afirmou a economista. Um outro ponto importante levantado foi a dívida pública. De acordo com Tania, o impacto da dívida pesa e é duplamente pernicioso. “Com a rentabilidade assegurada com simples aplicação na dívida pública, os bancos deixam de buscar o fomento à economia. Por sua vez, empresas produtivas, em vez de fazer investimentos, preferem financiar o governo”, disse.
2015 já sinaliza que será um ano de ajustes, com previsões convergindo para baixo crescimento do PIB e persistência de inflação ainda alta. Tudo isso acompanhado pelos efeitos econômicos e sociais provocados pela repercussão da Operação Lava-Jato, uma vez que os meios de comunicação intensificam a cada dia uma campanha de desmoralização da Petrobras, um legítimo patrimônio brasileiro. ” É isso que interessa aos produtores e investidores internacionais: querem o modelo de concessão, e não o de partilha. Aécio, durante a campanha, defendeu o fim do regime de partilha e estamos enfrentando risco de desnacionalização da economia. Há um projeto de desnacionalização do petróleo brasileiro e dos investimentos em infraestrutura. Na ausência das empresas nacionais, serão grandes empreiteiras internacionais. A pergunta é: quem vai fazer? As nossas ou as deles?”, provocou Tania, que vai além: “No pacote de corrupção, temos de enfrentar uma discussão mais profunda. O Brasil não aguenta esse modelo de campanha eleitoral, como é nos EUA, que adotamos desde a democratização do país. Cerca de 1 bilhão de reais para eleger um deputado federal. Temos que mudar para financiamento público de campanha”, disse.
Ao final, a economista colocou desafios ao conjunto de trabalhadores. “Precisamos disputar o ajuste fiscal e colocar o debate profundo sobre mudança do sistema tributário; fortalecer e ampliar as políticas de distribuição de renda e aumento do salário mínimo; fazer uma discussão profunda sobre a inflação e suas causas; reduzir/zerar alíquotas dos tributos indiretos e é preciso que estejamos atentos à delicada conjuntura política interna brasileira e a de outros países, especialmente a América Latina”, finalizou.