No mês em que se comemora o Dia Nacional da Mulher, em homenagem ao nascimento da fundadora do Conselho Nacional das Mulheres, Jerônima Mesquita, o Coletivo de Mulheres decidiu prestar sua homenagem a algumas mulheres que fazem parte da atual diretoria executiva da Fisenge. Uma delas é a engenheira de alimentos Silvana Palmeira. Nesta entrevista, ela conta como ingressou na engenharia e, posteriormente, no movimento sindical.
– Quando você optou pela engenharia, uma profissão de maioria masculina, pensou alguma vez em desistir por ser mulher?
Nunca me passou pela cabeça. Desde quando fiz Escola Técnica Federal, no curso de Química, as turmas eram bem equilibradas em termos de gênero. Quando ingressei no curso de Engenharia Química, as turmas também eram bastante equilibradas. Então não nos tratávamos de forma diferente. Interrompi os estudos, e depois de muito tempo concluí a graduação em Engenharia de Alimentos, uma das modalidades que tem muitas mulheres. Sendo assim, durante minha trajetória, nunca tive motivos para me sentir discriminada por questões de gênero e desistir da profissão. Já sofri preconceito por ser nordestina. Mas esta é outra discussão.
– Como você entrou para o movimento sindical?
Entrei para o movimento sindical em 2009, convidada pela companheira Márcia Nori, que me chamou para conhecer o SENGE Bahia. Passei a frequentar o Sindicato e fui indicada para ser conselheira suplente da Eng. Wânia no CREA- BA. Como Wânia fazia parte da Câmara de Química, então desta forma, fui aos poucos, participando das reuniões do CREA, das reuniões de Câmara e das atividades do Sindicato. Posteriormente passei a fazer parte do Coletivo de Mulheres da FISENGE. Participei de 3 Conselhos Deliberativos da FISENGE: o de Salvador, de Vitória e o do Rio de Janeiro, quando foi realizado o Seminário das Mulheres. Fui indicada para Delegada no 9º Consenge, em Rondônia. Lá fui indicada pelo SENGE-BA para compor a chapa da FISENGE, como uma das Diretoras Executivas. De forma resumida, esta foi minha trajetória no movimento sindical.
– Como você vê a participação da mulher no movimento sindical?
Vejo como um assunto de vital importância, pois a primeira vez que me senti discriminada por causa de gênero, foi no meio sindical. E confesso que fiquei estarrecida. Neste sentido, acho que a FISENGE deu um salto para o futuro, quando no 9ºConsenge, pela primeira vez, deliberou uma cota de participação das mulheres e pelo que sei, pela primeira vez, tem um percentual de 30% de mulheres em sua Diretoria, ainda que esta proposta tenha sido rejeitada no Consenge.
Creio que a participação feminina enriquece a discussão, porque permite uma forma nova de ver as coisas. De fato, um fenômeno, assim como uma peça, tem diversas perspectivas. Para se ter uma visão mais realista de um objeto, bem como de um fenômeno, é interessante ter uma noção de várias perspectivas diferentes. Esta diversidade complementa a compreensão e possibilita uma aproximação da realidade.
– Você dá aula em uma universidade. Percebe que a predominância masculina está mudando? É mais fácil para uma mulher ser engenheira nos dias de hoje?
Eu dou aulas para Engenharia Civil. De fato, a predominância masculina está aos poucos diminuindo. Mas ainda ouço queixas de minhas alunas, que sentem discriminação por causa do gênero. Como disse anteriormente, a depender da modalidade, é mais fácil ser engenheira. Nas engenharias de processo, como a Química e de Alimentos, a discriminação não é tão observável. Já em outras modalidades, a exemplo da Engenharia Naval e Aeronáutica a predominância ainda é masculina. Com as discussões cada vez mais emergentes a respeito da participação feminina na vida profissional, alavancada pelo advento da presidenta Dilma, creio que esta realidade de que homens e mulheres são capazes de construir uma nação mais justa e igualitária vai fluir de maneira cada vez mais natural.