Para homenagear o Dia Nacional da Mulher, entrevistamos a engenheira agrônoma Anildes Lopes, diretora suplente do Coletivo de Mulheres da Fisenge. Mineira de Montes Claros, mãe de três filhas, Anildes foi criada em uma propriedade rural onde só era possível estudar até a quarta série primária. Nesta entrevista, ela conta sobre os desafios de estudar em um meio onde isso não era prática comum entre as mulheres, ainda mais em uma área dominada por homens, como a agronomia.
– Quando você optou pela engenharia, uma profissão de maioria masculina, pensou alguma vez em desistir por ser mulher?
Fazer segundo grau para as meninas da zona rural era luxo, aí veio um novo desafio que era fazer um segundo grau com a opção por um curso técnico em agropecuária, onde a grande maioria era de homens e cujas aulas práticas requeriam certo esforço físico mais apropriado aos meninos. Motivo pelo qual tive que esconder da família que estava fazendo um curso técnico em agropecuária, me matriculando inicialmente em um curso técnico em economia doméstica, sob risco de voltar para casa. A opção pela engenharia, neste caso agronômica, foi motivada pela própria origem rural e pelo fato de ver na engenharia agronômica a possibilidade de mudança da realidade do meio rural principalmente sob a ótica da pequena propriedade, extremamente decadente naquele período e acreditando que as técnicas e tecnologias apreendidas ajudariam a participar de algum modo dessa mudança. A opção pela engenharia também foi mais que uma opção por uma profissão até certo ponto masculinizada, mais uma decisão de encarar os desafios que esta escolha traria pelo próprio exercício da profissão. Ser mulher neste contexto fez desta conquista ainda mais saborosa.
– Já sofreu muito preconceito na sua vida profissional por isso?
Diversos preconceitos, boicotes cercaram o início da carreira, já que a insegurança própria da formação inicial, sem muita experiência, se confunde e se mistura com aparente fragilidade feminina, mas, aos poucos, o tempo e a maturidade vão nos ensinando a lidar e combater este preconceito, aprendendo a usar melhor nosso diferencial enquanto um ser feminino.
– Como você entrou para o movimento sindical?
A entrada no movimento sindical se deu a partir de um convite de colegas (homens) com quem já convivia em outros espaços de articulação, ligados a entidades representativas de entidades de classe. Como ainda somos poucas também nestas entidades acabamos participando em diferentes espaços. Como mulheres que já enfrentamos vários desafios, sendo o primeiro deles o de garantir uma formação profissional, quando entramos no movimento sindical, trazemos na nossa bagagem um pouco desta capacidade de superação e da resistência necessária ao enfrentamento de todas as questões próprias do meio sindical, que também é um ambiente majoritariamente composto por homens.
– Como você vê a participação da mulher no movimento sindical? E as perspectivas futuras?
Penso que a ocupação dos espaços pelas mulheres tende a crescer mais e mais e isso já é uma realidade em nosso país. Temos uma presidenta, símbolo máximo do poder e isso faz com que cada vez mais e mais mulheres possam disputar em condições de igualdade espaços antes vistos como estritamente masculinos. Daí sim podemos esquecer se somos homens ou mulheres, mas cidadãos que acreditam na construção de um outro mundo possível.
– Percebe que a predominância masculina está mudando?
Com certeza, hoje não somos mais uma minoria nas universidades, temos nos qualificado mais, mas tudo isso ainda não foi suficiente para garantir a mudança que almejamos, onde o fato de ser mulher não nos descredencie a ocupar igualitariamente melhores cargos, melhores salários, em reais condição de igualdade com os homens.
– É mais fácil para uma mulher ser engenheira nos dias de hoje?
Se formar como engenheira com certeza sim, pelas próprias condições de aumento da oferta de curso em nosso país, mas no exercício da profissão nossos desafios continuam, pois continuamos a ser mães, esposas, donas de casa, boas profissionais, ter TPM, etc. Isso requer de nós uma eterna negociação. Não perdemos o nosso bom e velho hábito materno de agregar, aconchegar e cuidar e penso que este pode ser o nosso diferencial para a engenharia. Não queremos construir um mundo melhor para nós, mas para os que nos cercam, e esta essência nos acompanha no exercício da profissão e na lida dentro do movim