A engenharia no Brasil teve origem na educação militar no início do século XIX e, com o passar dos anos, foi estendida aos civis. Mas hoje, quase 200 anos após o seu surgimento, ela continua sendo uma ciência predominantemente masculina. De acordo com o resultado do Censo de Educação Superior, realizado pelo Ministério da Educação, o número de mulheres que ingressam na profissão tem crescido lentamente. Em doze anos, a representatividade feminina em relação ao total de matrículas subiu de 17,4% para 20,3%. Se considerarmos áreas particulares, como a Engenharia Elétrica, este número é ainda mais baixo.
As conquistas femininas, que vêm crescendo cada vez mais, principalmente com a eleição da primeira mulher à presidência da República, pode ser um fator determinante para a mudança deste quadro. No entanto, os avanços não implicam necessariamente em facilidade ao se impor e obter sucesso nesse meio, predominantemente masculino. Já no âmbito acadêmico é possível perceber essa diferenciação. Há uma grande necessidade das mulheres se adaptarem ao ambiente, onde existe uma maioria de alunos do sexo masculino.
Muitas alegam que sofrem, desde o início da carreira, uma desvalorização profissional por serem mulheres. Outras afirmam que a convivência com homens é positiva, porque eles supostamente dão mais espaço a elas, enquanto companheiras do mesmo gênero procuram competir. Seja qual for a opinião, todas concordam que a mulher precisa se esforçar mais do que o homem para ser respeitada e crescer no mundo da engenharia. Porém, este requisito não se dá por qualquer dificuldade que as mulheres tenham em exercer a profissão, pelo contrário, as conquistas femininas na engenharia mostram que, atualmente, as mulheres se destacam tanto quanto ou até mais que os engenheiros.
Sendo assim, por que será que o balanço entre homens e mulheres na engenharia não aumenta na mesma proporção que nas outras profissões? Pelo que é visto nas universidades, ainda há um interesse pequeno do gênero feminino em ingressar na carreira. Uma explicação para esse fato é a grande discriminação que as mulheres sofreram ao longo dos últimos anos. Segundo Pedro Carlos da Silva Telles, autor do livro “A História da Engenharia no Brasil”, houve uma época em que as mulheres não sentavam nas salas de aula com os rapazes. Havia cadeiras especiais para elas, colocadas à frente da primeira fila. Outra ideia equivocada que também afasta as mulheres é a de que a engenharia estaria ligada ao trabalho braçal e, portanto, não poderia ser realizado por elas.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriu que as mulheres não são tão propensas quanto os homens a seguirem essa carreira porque não estão seguras de sua capacidade, ou seja, não têm confiança. Os pesquisadores sugerem que os professores criem um ambiente em que as dúvidas sobre confiança sejam discutidas abertamente. Também é importante que existam mais aulas práticas nas faculdades. Isso pode ajudar tanto os homens como as mulheres a desenvolverem confiança em si mesmos. Afinal, quanto opta pela engenharia, como qualquer outra carreira, a mulher é tão bem sucedida quanto o homem.
De qualquer forma, ainda nos deparamos com alguma discriminação, que pode ser provada pelos números. A conquista de um diploma de curso superior não garante às mulheres a equiparação salarial com os homens. Segundo o estudo Mulher no mercado de trabalho: Perguntas e respostas, divulgado em março pelo IBGE, na comparação da média anual de rendimentos dos homens e das mulheres, verificou-se que as mulheres ganham em torno de 72,3% do rendimento recebido pelos homens.