Especial 8 de março: A evolução da mulher no meio político-social

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Desde os tempos da Antiguidade, a mulher sempre foi vista como um acessório ou mero objeto em um mundo regido pelos homens. O seu papel se limitava a cuidar dos filhos e afazeres de casa e, externamente, trazer leveza e enfeitar os ambientes. As que tentavam se sobrepor a este domínio masculino se viam perseguidas e até condenadas por disseminarem pensamentos distintos dos até então vigentes. Apesar de terem sido silenciadas ao longo de muitos anos, esta opressão também foi importante para que a mulher soubesse se armar e utilizar de suas próprias estratégias para fazer parte, de fato, do jogo do poder político em suas diversas esferas.

Com o passar dos anos, por conta da extensa luta das mulheres, temos visto uma mudança substancial neste quadro. Mesmo com algumas dificuldades, a imagem da mulher vem se modificando e está claro que além de trabalhadora, ela é capaz de contribuir de diversas formas para a construção de uma sociedade melhor. Tanto no Brasil, como no mundo, é notável esta evolução e, por conseqüência, o aumento da importância do personagem feminino em todos os espaços da sociedade. Espaços estes que antes abrigavam majoritariamente homens, mas agora contam com mulheres em posições de grande destaque.

Mas o caminho percorrido por estas mulheres não é nada fácil. O modelo patriarcal imposto pela nossa sociedade impede que elas enxerguem a vida pública como uma possibilidade real. Como ainda são as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e cuidados dos filhos, muitas não conseguem dividir os afazeres com o marido e abdicam da participação mais ativa na sociedade. Contudo, mesmo com os constantes desafios ao enfrentar a chamada “jornada tripla”, muitas mulheres driblaram as dificuldades e os preconceitos para assumir as suas posições atuais.

Um dos principais exemplos dessa superação é a eleição da primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff, em outubro de 2010. Militante histórica de organizações de esquerda no combate à Ditadura Militar, ela começou sua vida pública na prefeitura de Porto Alegre. Em 2003, já no Governo Lula, foi a primeira mulher a assumir o ministério de Minas e Energia e, depois, tornou-se também a primeira mulher na história do Brasil a ser nomeada ministra-chefe da Casa Civil.

Outra que fez história nos últimos dias é a engenheira Maria das Graças Foster, empossada no último dia 13 de fevereiro como presidente da Petrobras, se tornando a primeira mulher no mundo a comandar uma empresa petroleira do porte da estatal. Porém, para chegar ao extraordinário feito, ela teve que percorrer um longo caminho que começou em 1978, quando entrou como estagiária na empresa. Ao tomar posse, prometeu continuidade na gestão anterior e lembrou emocionada sua história na estatal.

O bem sucedido exemplo de Graça Foster nos mostra que é possível reverter o quadro de predomínio masculino, mas também aponta para as enormes dificuldades que as mulheres ainda têm de enfrentar quando se deparam com desafios deste porte na carreira. Muitas se queixam e afirmam ter a impressão de que a mulher precisa provar mais do que o homem sua capacidade e firmeza ao estar em uma posição de destaque profissional.

Um bom exemplo disso é a presidente do Clube de Regatas do Flamengo, Patrícia Amorim. Ex-nadadora olímpica, ela fez história em 2009 ao se tornar a primeira mulher eleita presidente do rubro-negro, que conta com nada mais, nada menos que a maior torcida do país. Por causa disso, inclusive, Patrícia sofre, desde que assumiu o comando do clube, muita pressão e cobranças, seja por parte da diretoria do clube – composta por homens em sua totalidade – seja por parte da imprensa. Em uma entrevista concedida ao jornal “Diário do Nordeste”, no ano passado, ela afirmou que a desconfiança é algo que a acompanha desde o início da sua trajetória na presidência do clube. Segundo ela, a presença de mulheres em ambientes que sempre foram ocupados por homens, como a política e o esporte, irá se tornar cada vez mais normal e corriqueira.

No quadro sindical, também há uma série de nomes que se destacaram como a atual secretária da Mulher Trabalhadora da Central Única de Trabalhadores (CUT), Rosane da Silva. Começou sua luta política cedo, no Sindicato dos Sapateiros e tornou-se membro da Executiva Nacional a partir de 2000. Oito anos depois, assumiu a Secretaria da Mulher Trabalhadora, defendendo as cotas de gênero e uma formação sindical voltada às mulheres. Além da tarefa de organizar as mulheres trabalhadoras para intervirem nas questões do mundo do trabalho e sindical, a Secretaria também é responsável por elaborar, coordenar e desenvolver políticas na Central Única dos Trabalhadores a partir de perspectivas das relações sociais de gênero e classe, visando a superação das desigualdades entre mulheres e homens.

Nessa luta pelo reconhecimento e necessidade de uma diretoria exclusiva para desempenhar e tratar de políticas especiais para as mulheres, foi criada, no último CONSENGE, em 2011, a Diretoria da Mulher, na Fisenge. Para a primeira Diretora da Mulher, Simone Baía, “no mundo da engenharia,  onde a predominância é masculina, a criação da Diretoria da Mulher demonstra um salto de importância e de valorização das profissionais. Todos sabemos da dificuldade das engenheiras no mercado de trabalho – remuneração desvalorizada, discriminação, dificuldades de crescimento vertical e horizontal, entre outras –, por isso, a Diretoria da Mulher da Fisenge é o início de um processo de evolução na categoria, onde podemos levar esse debate para dentro dos sindicatos filiados à Federação, além de debater este assunto junto a sociedade e nas negociações coletivas.

Além disso, uma das diretoras executivas da Fisenge, a engenheira agrônoma Giucélia Figueiredo, foi eleita presidente do CREA da Paraíba, tornando-se a primeira mulher nos 46 anos de fundação do Conselho a presidi-lo. Na acirrada disputa, ela apresentou uma plataforma de administração baseada em pontos como a informatização da estrutura burocrática do Conselho e a participação efetiva em mídias sociais.

No âmbito internacional, um grande destaque é a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, considerada pela revista Forbes, em 2009, como a mulher mais poderosa do mundo. Além de ter feito história em um país fortemente carregado de questionamentos acerca de preconceitos, como a Alemanha, Merkel vem liderando, ao lado do presidente da França, Nicolas Sarkozy, uma frente européia para tentar aplacar a gravíssima crise financeira que tem afetado a economia dos países do velho continente.

Entretanto, o desafio é grande. De acordo com uma pesquisa feita pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), as mulheres no Brasil representam mais da metade do eleitorado e não ocupam nem 10% das vagas do Congresso Nacional. No mundo, as mulheres representam apenas 19% das parlamentares.

Na 3ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres, realizada em dezembro do ano passado, em Brasília, a ex-presidente do Chile e atual diretora-executiva da ONU Mulheres, Michelle Bachelet, destacou que, durante sua trajetória como ministra e ex-presidente, pôde perceber que políticas neutras não bastam para alcançar as mulheres, é preciso fazer leis exclusivas para elas. “A crescente presença de mulheres em postos de decisão no Brasil deve servir de inspiração para muitas mulheres, oferecendo uma oportunidade única para repensar o sistema político e eleitoral e ajustá-los a esta nova realidade”, discursou Bachelet.