Entrevista: Trabalhadora rural fala sobre sua rotina no campo e a importância da agricultura familiar

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email

25 de julho é dia da trabalhadora rural. Entrevistamos Noemi Margarida Krefta, integrante do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), no município de Palma Sola, em Santa Catarina. A trabalhadora rural nos contou um pouco da rotina da mulher no campo, das dificuldades encontradas no ambiente doméstico e da importância da agricultura familiar, responsável, de acordo com Ministério do Desenvolvimento Agrário, por 70% dos alimentos que chegam à mesa da população brasileira.

Como é a sua rotina como trabalhadora rural?

Eu acordo muito cedo e começo meu dia tratando dos animais, cuidando da casa, da horta, da roça e da família. Além disso, faço militância no Movimento de Mulheres Camponesas. É bastante trabalho o ano todo, mas eu gosto do que faço. Para mim, trabalhar na terra me dignifica. É uma relação de troca, de cuidados. Sinto-me realizada neste trabalho.

Há divisão de tarefas entre homens e mulheres? 

Na minha família, há contribuição de todos: marido, filho, neto. Eu sempre reforço que todos são responsáveis pelas tarefas domésticas.

 

Quais as dificuldades que vocês enfrentam sendo mulheres no meio rural? 

A nossa luta pela agricultura camponesa agroecológica é árdua e começa em casa onde se tem que fazer o convencimento. Falta subsídio para dar conta da produção. A assistência técnica não tem preparo para trabalhar no nosso projeto. Além disso, o agronegócio propaga e usa agrotóxicos que nos prejudicam demais. A violência que acontece no meio rural tem vitimado muitas mulheres e a maioria não tem coragem de denunciar, temendo violência maior. Isso tem nos exigido um grande trabalho de conscientização das mulheres no campo.

Na sua opinião, o que falta para as pautas do campo serem mais valorizadas, especialmente nesse momento de mobilização popular?

 Um governo que trabalha para o agronegócio não trabalha para agricultura camponesa, ou seja, não vai assumir dois modos antagônicos. A maioria no Congresso é representante do latifúndio, e eles fazem as leis para eles. Nossa luta vai ter resposta se ela for forte o suficiente para mudar a correlação de forças no poder.

Para você a reforma agrária é um problema estrutural?

 A reforma agrária é essencial para o campesinato. Não se produz alimento sem ter um pedaço de chão e as condições necessárias para produzir e viver dignamente, ou seja, habitação, crédito, educação, lazer, transporte. Enfim, é uma série de ações que devem vir acompanhando a reforma agrária.

O que falta pra a política nacional de agroecologia e produção orgânica ser efetivada?

 Acabar com os agrotóxicos, fazer a reforma agrária, ter subsídio para produção, sementes crioulas reconhecidas e valorizadas e assistência técnica preparada. Falta vontade política para em prática um modo de vida e de produção que tem o cuidado com toda forma de vida no seu centro. E claro, tudo isso com o fim da violência contra as mulheres e a efetiva participação delas nas decisões sobre a produção de alimentos saudáveis e diversificados.