Entrevista: Antonio Carlos Spis

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email

 

O Fórum Social Mundial 2008 será marcado por ações descentralizadas em todo o mundo, no dia 26 de janeiro, Dia de Mobilização e Ação Global (ver www.wsf2008.net). Para esclarecer o significado desta mobilização, o departamento de imprensa da Fisenge conversou com Antonio Carlos Spis, membro da executiva nacional da CUT e representante da entidade na Coordenação dos Movimentos Sociais. Leia a seguir a entrevista.

 

 

Este ano, o Fórum Social Mundial terá uma edição marcada pela descentralização e auto-organização. Quais as vantagens e desvantagens desta forma de articulação?

 

O Fórum Social Mundial (FSM) é uma conquista de todos os movimentos sociais, sindicais, estudantis, ONGs, etc, e tem sua construção pautada pela autogestão das atividades. No caso da Ação Global, este viés extremamente positivo será muito enfatizado.

 

Qualquer grupo de amigos pode criar uma atividade cultural, política, etc, num bairro de sua cidade, por exemplo, e inseri-la no portal do FSM. Ou seja, teremos uma somatória mundial de atividades.

 

Tenho certeza de que vão eclodir milhares de atividades pelo mundo. No Brasil, diversos Estados estão se mobilizando.

 

 

A Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) está chamando atos para o dia 26/1. Como está a organização em São Paulo? Quais serão os eixos/bandeiras da manifestação?

 

A CMS orientou que todos os seus núcleos estaduais (estamos organizados em 14 Estados) se integrem desde os debates até a construção das atividades. Em São Paulo, mesmo com o feriado da cidade, dia 25, deliberamos fazer uma adaptação da dramaturgia da peça Rei Lear, de Sheakspeare. Nos reunimos dia 11 e temos mais um encontro dia 18 na CUT para acertarmos os últimos detalhes.

 

Fechamos um panfleto convocando a atividade, que será distribuídos nos dias 25 e 26 pela manhã, chamando a sociedade para comparecer na mobilização. A concentração será a partir das 11h, em diferentes locais da cidade. Cada local estará identificado com uma cor: Prefeitura (branco), Praça Ramos (amarelo), Rua Direita (vermelho) e Libero Badaró (azul). Definimos as entidades e os temas que cada uma das cores representará; tivemos a presença de dois diretores de teatro que ficaram com a responsabilidade de traduzir o debate na dramaturgia, o que será analisado dia 18.

 

A Prefeitura simbolizará o poder, e após os três grupos se locomoverem até lá, implementaremos uma mística que levará os expectadores a compreenderem que um novo mundo só será possível com a miscigenação das cores e com o socialismo (os diretores também estão pensando nisso!).

 

Concluiremos a atividade com um ato político defronte ao Teatro Municipal por volta das 15h.

 

 

Em sete anos de FSM, quais foram os principais avanços do movimento social?

 

Acredito que os debates acumulados até aqui, os enfrentamentos, etc, exigiram uma reflexão profunda em diversos países, principalmente na América Latina e no Caribe, e essas sociedades passaram a exigir instrumentos de inclusão social, com participação popular.

 

Essa conscientização fez avançar a democracia, o que dificulta que nosso maior inimigo – o Imperialismo representado hoje pelo Bush – tenha facilidade no processo de dominação. Que fique claro: ainda somos dominados! Bush/banqueiros/mídia, etc, ainda são muito fortes!

 

Será, por exemplo, que o “aquecimento global” estaria pautado com a seriedade que está sendo hoje sem as denúncias/esclarecimentos que as entidades que tratam do tema não tivessem o espaço privilegiado do FSM para fazê-lo?

 

 

A mídia burguesa em geral não dá muito espaço e não aprofunda as discussões do FSM. Isso chega a ser um problema ou a imprensa alternativa consegue dar conta de popularizar as discussões do encontro?

 

A mídia burguesa cobre o Fórum de Davos e cita de maneira pejorativa as atividades “paralelas” (?!). Não podemos esperar nada da Globo, SBT, Band, etc! Triste é saber que eles dominam um sinal público de TV (o governo acabou de renovar o sinal de alguns deles).

 

Entendo ser um ponto negativo do governo Lula: se era inevitável a renovação da concessão da Globo, porque não concedeu ao mesmo tempo que renovava com a “família Marinho” a TV MST, a TV UNE e assim por diante? Quem questionaria? Estava renovando com a Globo por mais 15 anos… Quem teria autoridade para questionar o direito do MST, da UNE?

 

Infelizmente somos trabalhadores sem voz, sem-terra sem voz, estudantes sem voz… O Lula é sem voz! O próprio presidente tem o direito de pedir rede nacional de 10 minutos, e os donos da mídia tem todo o tempo do mundo pra colocar uma única versão dos fatos. Na própria Rede Pública é assim. Ainda mais com a Tereza Cruvinel/Globo como presidente do Conselho!

 

Devemos usar todos os meios a nosso alcance para socializar a informação, mas não se esqueça que estamos num país continente onde 70% da população é analfabeta funcional.

 

Então, ver e ouvir são fundamentais. Precisamos construir redes.

 

 

O FSM popularizou o slogan “um outro mundo é possível”. Para o senhor, o que seria este “outro mundo possível” e de que maneiras podemos construir as mudanças necessárias?

 

É muito importante não desistir nunca!

 

Nossos temas precisam ser mantidos nos sindicatos, nas igrejas, nas associações amigos de bairros, na central sindical, no partido, com o vizinho, na hora do almoço, etc, para que a possibilidade de sensibilizar as pessoas esteja sempre presente.

 

Assim, cada um, não abrindo mão de sua parte nesta responsabilidade, podemos acreditar que a sociedade exigirá “um outro mundo”.

 

Crédito da foto: www.cut.org.br

 

Leia também:

Agentes culturais, artistas e movimentos sociais unidos no centro de São Paulo
http://www.cut.org.br/site/start.cut?infoid=15748&sid=6

CUT-RJ terá tenda sobre mundo do trabalho em evento
http://www.cut.org.br/site/start.cut?infoid=15796&sid=6