Em entrevista à Fisenge, o conselheiro do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, Paulo Metri aprofunda o que está por trás dos escândalos de corrupção na Petrobras e a campanha de desmoralização da empresa pelos meios de comunicação. Metri ainda alerta para a importância da apuração e responsabilização dos envolvidos; como também da importância da engenharia nacional e da defesa da Petrobras. A matéria completa poderá ser lida no próximo número da revista da Fisenge.
Entrevista por Camila Marins (Ascom/Fisenge)
Como você avalia essa ofensiva dos meios de comunicação e da direita em campanha pela desmoralização da Petrobras?
Esta campanha atinge vários objetivos, simultaneamente. O primeiro é transmitir a ideia de que o fato da Petrobras receber áreas para pesquisar e produzir petróleo é prejudicial para a sociedade. Isso porque os ladrões existentes nela vão roubar o que é público. Todos nós já ouvimos o comentário: “Se fosse uma empresa privada, não haveria roubos”, o que é um engano. Os roubos nas empresas privadas só são mais bem escondidos, pois o dono não quer mostrar a fragilidade da sua empresa.O segundo objetivo já foi, de passagem, mencionado: de preparar a população para uma futura privatização da Petrobras. A lista de políticos envolvidos segundo as delações dos bandidos Paulo Roberto Costa e Youssef não foi divulgada, ainda. Notar que os cidadãos são bandidos, mas suas delações são consideradas como de “homens de bem”. Mas, se houver o envolvimento de algum político, não se pode envolver todo o partido dele como sendo coparticipe do roubo.
Esta manobra tem o objetivo de mudar o marco regulatório do petróleo?
Também. À medida que não se pode entregar áreas à Petrobras, por causa dos roubos e sua suposta incapacidade financeira, a solução seria chamar as empresas estrangeiras. Estas só se sentem atraídas para investir aqui se for através de concessões e, não, através de contratos de partilha. A Petrobras tem capacidade financeira, bastando para isso que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) retire a pressa desmesurada de implantação dos diversos projetos da empresa. Pressa esta que significa que o petróleo a ser produzido estará sendo exportado na pior época do preço do barril. Na verdade, este órgão busca estrangular a capacidade financeira da Petrobras para ela não participar de muitos leilões e, assim, sobrar mais áreas para as empresas estrangeiras. A verdade é que o novo marco, o dos contratos de partilha, representa uma conquista de soberania para o país e de mais recursos fluindo para a sociedade, em prejuízo das empresas estrangeiras.
Também estamos assistindo a uma campanha de destruição das empresas nacionais de engenharia e da própria engenharia brasileira. A que se deve? Qual o papel da engenharia na construção da Petrobras?
A destruição das empresas nacionais de engenharia se deve ao interesse do capital internacional. No exterior, existem interesses comuns entre as grandes petrolíferas e as empresas de engenharia. Então, se o governo brasileiro não forçar a participação de empresas nacionais de engenharia, não será a Chevron ou a Exxon ou a BP ou a Shell ou a Total, por exemplo, que irá contratá-las. Agora, é triste ver a própria Petrobras querendo “matar” as empresas nacionais. Os dirigentes corruptos das empresas de engenharia devem ser julgados e, sendo as acusações verídicas, devem ser penalizados. Mas, as empresas não precisam ser penalizadas. E será um atraso muito grande se forem. Resumidamente, a Petrobras é o que é graças à Engenharia, aqui representando todas as atividades tecnológicas (Engenharia propriamente dita, Geologia, Geofísica etc).
Os ataques do capital internacional à Petrobras são frequentes. De que forma é possível fortalecer uma Petrobras estatal e 100% pública?
A primeira medida para ela voltar a ser do Estado brasileiro é a recompra das ações que estão na Bolsa de Nova York. Quando estas ações foram vendidas lá, durante o governo FHC, perdemos graus de liberdade na administração da empresa, o que representa uma perda de soberania. Hoje, nos defrontamos com a possibilidade de diversas ações contra a empresa, em fóruns hostis, representarem perdas com multas e outras cobranças de centenas de milhões de dólares. Eu sempre fui a favor da Petrobras ser 100% pública, incluindo o atendimento de políticas públicas, como ajudar a política de conteúdo local. Algumas pessoas pregam que ela deve ser extremamente rentável para dar excelentes dividendos. Isto só seria bom para prepará-la para uma privatização, o que eu repudio.
A que se deve a baixa dos barris de petróleo? Podemos afirmar que há em curso a operação dumping?
Não se pode afirmar com segurança que o preço do barril baixou por manobra dos grandes exportadores, principalmente do Oriente Médio, para matar (dumping) a indústria nascente do xisto nos Estados Unidos ou se foi uma manobra geopolítica dos Estados Unidos, com apoio principal da Arábia Saudita, para criar enormes dificuldades para as economias da Rússia, Irã e Venezuela. Ou para atingir estes dois objetivos, ao mesmo tempo.
A corrupção é um problema estrutural da sociedade. A defesa de uma Petrobras 100% pública pode diminuir casos de corrupção? Que outros instrumentos são importantes para coibir estes casos?
Com uma Petrobras 100% pública, que inclui transparência nas suas operações, com mínima ingerência de partidos políticos, sendo auditada pelos órgãos da administração pública e com controle social, que é um tema importante e pouco debatido, ela ficará mais imune à corrupção. Lembro-me do financiamento público de campanhas, pois a arrecadação de doações por políticos junto a empresas privadas para suas campanhas pode ser considerada como o início do processo de corrupção em órgãos públicos.