Nesta quinta-feira (14/12), a engenheira Ana Arai recebeu o primeiro lugar do Prêmio Elisa Frota Pessoa, em reconhecimento a trabalhos acadêmicos produzidos por mulheres. A premiação aconteceu no Museu do Amanhã e contou com a participação da ex-diretora da mulher da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros), Virginia Brandão.
O prêmio é uma iniciativa do Museu do Amanhã em parceria com a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio e tem o objetivo de enfrentar as desigualdades de gênero na academia.
Dentre os 22 artigos premiados, Ana Arai venceu o primeiro lugar com o artigo intitulado: “Representatividade feminina nos cursos de engenharia em instituições da cidade do Rio de Janeiro”, na categoria Doutorado na área de Ciências Exatas. O texto foi desenvolvido com o apoio do Grupo de pesquisa RioBIM, do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio, liderado pela professora Elisa Sotelino. “Elisa é uma engenheira à frente do seu tempo, sendo a grande incentivadora, com uma visão ampla da questão da desigualdade de gênero na engenharia acadêmica, sugerindo as análises dos dados, revisando o estudo e contribuindo para um melhor trabalho possível”, contou Ana.
A representatividade feminina na carreira de Engenharia é bem menor quando comparadas a outras carreiras, como apontam os dados do Sistema Confea (2022). De acordo com Ana, dos profissionais registrados apenas 19,28% são mulheres, percentual bem abaixo da parcela da população brasileira de mulheres que é de 51,1%. “Além disso, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU em uma das metas é o aumento do uso de tecnologia de base para promover o empoderamento das mulheres. Neste contexto, o objetivo do estudo foi realizar uma análise quantitativa da representatividade feminina, discente e docente, em cursos de Engenharia Civil, Elétrica, Mecânica e de Produção, nas diversas fases da trajetória acadêmica (graduação, pós-graduação e docência), de instituições da Cidade do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)”, explicou a pesquisadora.
Os resultados da pesquisa apontaram que o percentual de mulheres ingressantes nos cursos de graduação em todas as engenharias levantadas e nas três instituições é de 28%, mantendo-se quase constante até o mestrado e com um aumento no doutorado, chegando a 35%. Mas há redução no corpo docente (24%) da graduação e ainda mais quadro de professoras da pós-graduação, sendo de 16%. Além disso, o artigo mostra esses percentuais separadamente para cada curso, sendo os cursos de Engenharias Elétrica e Mecânica com a menor representatividade em todas as etapas acadêmicas, tendo os menores percentuais no corpo docente de graduação, que é de 5% (Elétrica) e 16% (Mecânica).
“A partir da revisão da literatura foi possível verificar as possíveis causas dessa baixa representatividade feminina na engenharia que se inicia no ingresso dos cursos como o estereótipo de gênero, falta de incentivo e suporte familiar facilitando a escolha pela área, experiências em sala de aula no ensino básico que podem ser fatores que diminuem o interesse das meninas”, pontuou Ana.
A pesquisadora ainda destacou que alguns estudos apontaram que a falta de diversificação de gênero compromete a qualidade científica já que os trabalhos de mulheres orientadas por mulheres obtiveram maior impacto científico. “Portanto, é necessário uma reflexão sobre as ações necessárias para mitigar a baixa participação feminina nos cursos de engenharia, como o desenvolvimento de políticas que acelerem o crescimento da parcela feminina de docentes e pesquisadoras na academia, que visem desde o aumento do número das ingressantes nos cursos como de professoras”, concluiu Ana que agradeceu ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, em especial à Prof.ª Elisa Sotelino, aos professores do DAU/UFRRJ pelo incentivo e pela contribuição com uma visão mais igualitária em um ambiente de trabalho com uma alta representatividade feminina; e aos seus alunos que são sua fonte de inspiração para seguir na trajetória acadêmica, em especial, as alunas a quem dedicou este trabalho por um futuro mais equânime.