Embrapa cria dispositivos que tratam de esgoto em propriedades rurais

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Afastadas dos grandes centros urbanos, onde estão concentradas as estações de tratamento de esgoto, fazendas e sítios devem tratar de seus dejetos. A proximidade com corpos d’água, como lagos, rios e nascentes aumenta essa necessidade. Pensando em solucionar esses problemas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Instrumentação, em São Carlos (SP), desenvolveu uma série de estruturas que tratam a água captada pelos fazendeiros e os dejetos produzidos nas casas.Atualmente, a Embrapa tem três equipamentos no sentido de tratar a água e o esgoto de sítios e fazendas. O primeiro, desenvolvido em 2000, é a fossa séptica, que transforma o esgoto do vaso sanitário em um eficiente adubo líquido. O segundo é o clorador, que permite colocar cloro na água captada pelas propriedades rurais. O mais recente é o jardim filtrante, que trata da água produzida no banho, pias e lavanderias. “Disponibilizamos os esquemas em nosso site e damos consultoria técnica e totalmente gratuita pra quem quer construir essas estruturas”, comenta Wilson Tadeu Lopes da Silva, pesquisador da Embrapa Instrumentação.

Ele conta que esses equipamentos estão em pelo menos 6 mil fazendas e sítios de todo país. “Como não cobramos royalties pela construção, mais gente pode ter construído e não temos como saber”, comenta Wilson.

Fossa biodigestora

O primeiro equipamento a ser desenvolvido foi a fossa séptica biodigestora. Ela é composta por três caixas d’água vedadas, que estão interligadas por uma tubulação de PVC. Wilson explica que o esgoto do vaso sanitário cai na primeira caixa, quando começa a ser fermentado. A medida que o tempo passa, o material se deposita no fundo e é transferido para o segundo reservatório.

Após mais um tempo de fermentação, chega no terceiro, de onde sai na forma de um líquido inodoro e quase transparente, repleto de nutrientes para as plantas. Wilson conta que os materiais para construir o sistema custam em torno de 1300 reais e é tão simples de ser montado que muitos produtores o constroem por conta própria. Mas, quem quiser contratar mão de obra, poderá desembolsar mais 1000 reais. “Como fica vedado, não favorece o aparecimento de ratos, baratas e outros insetos e não emite mau cheiro”, comenta Wilson. Ele destaca que a única manutenção que é feita é a colocação de 5 litros de água e de esterco de vaca fresco a cada mês.

“O esterco dos bovinos é rico em bactérias que digerem as fibras não processadas pelo organismo dos seres humanos”, comenta. O líquido que sai da fossa biodigestora pode ser utilizado para adubar plantas, especialmente pomares.

Clorador

Muitas propriedades rurais captam a água de fossas e poços do local. Essas fontes podem estar contaminadas por fezes humanas e de animais, transmitindo doenças como diarreia, hepatite, tifo e salmonelose.

Pensando em prevenir esses males, o pesquisador Antônio Pereira de Novaes criou o clorador. A estrutura, composta por dois registros de água e tubulação é colocada entre a bomba e a caixa d’água e facilita a colocação de cloro no líquido que será consumido nas casas. Wilson conta que o clorador é muito barato e simples de ser feito. Raramente, os materiais custam mais do que 50 reais para serem comprados e a montagem é feita pelo próprio fazendeiro. Para cada mil litros de água reservados, o proprietário deve colocar entre 1,5 e 2 gramas de cloro granulado. Em apenas uma hora, a água estará livre de germes, estando própria para consumo.

Jardim filtrante

Depois de ser utilizada em pias, no chuveiro e na lavanderia, a água tem uma grande quantidade de detergente e sabão, por isso não pode ser jogada na fossa biodigestora. “A chamada água cinza tem tanto dessas substâncias que mataria as bactérias que digerem os dejetos. Para tratar essa água, a Embrapa desenvolveu o jardim filtrante. Apesar de tão simples de construir quanto os outros, o jardim é mais caro. Os materiais para construí-lo custam entre 1700 e 2000 reais.

Além de enfeitar, o jardim filtra, removendo substâncias químicas e impurezas da água que podem contaminar rios, nascentes e lençóis freáticos. Wilson conta que, para uma casa de cinco pessoas, é construído um tanque de 2m de largura, 5 m de comprimento e profundidade de 50 cm. O fundo é impermeabilizado com PVC ou equivalente. Depois são colocadas camadas de areia e pedras, sobre as quais ficarão as plantas, como lírio do brejo e copo de leite. “Como a água escorre por meio da areia e pedras, não há locais para a criação de mosquitos”, destaca Wilson. As plantas farão a filtragem da água, que escorrerá limpa do outro lado.

Limpos, mas com limitações

De acordo com Wilson, o clorador pode ser instalado em qualquer propriedade, mas as outras duas estruturas exigem grande quantidade de água, logo só podem ser instaladas em regiões com grande disponibilidade de água. “No nordeste, com carência hídrica muito forte, não podemos trabalhar com fossa biodigestora”, destaca Wilson. O pesquisador explica que a fossa também não pode ser instalada em áreas de proteção ambiental e em locais com lençóis freáticos muito rasos. “Quando o lençol está próximo da superfície, ele diminui a temperatura do solo, reduzindo a eficiência das bactérias”.

Fonte: G1 – Globo Ecologia