Em cinco anos, o número de trabalhadores e trabalhadoras afastados por ansiedade, depressão e outros transtornos metais aumentou mais de 50%. Em 2015, foram afastados 170.830. Em, 2020, foram 289.677.
Isso sem contar os casos não registrados que, em 2020, foi maior por causa da suspensão da perícia médica presencial no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), durante a fase mais grave da pandemia do novo coronavírus.
Várias foram as causas do aumento de afastamentos por transtornos mentais, entre elas, o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Remígio Todeschini, cita o isolamento na crise sanitária, desemprego, sobrecarga no trabalho e assédio moral.
A análise sobre os afastamentos por transtornos mentais feita pela Assessoria de Saúde e Previdência da Federação dos Trabalhadores do Ramo Químicos da CUT do Estado de São Paulo (FETQUIM/CUT/Intersindical) é uma importante contribuição para alertar a sociedade, em especial, os empresários sobre o problema neste Setembro Amarelo, mês em que, desde 2014, é realizada uma campanha nacional de prevenção ao suicídio. A campanha é organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa acontece durante todo o ano. Atualmente, o Setembro Amarelo® é a maior campanha anti estigma do mundo! Em 2022, o lema é “A vida é a melhor escolha!” e diversas ações já estão sendo desenvolvidas.
As fontes da pesquisa da Fetquim/CUT foram os dados abertos da Previdência sobre afastamentos coletado no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e nos ministérios do Trabalho e Previdência.
O estudo, que analisou os dados de afastamento por incapacidade temporária (auxílio-doença) entre 2015 a 2020, revela que o porcentual de transtornos mentais e comportamentais passou de 8,43% para 12,45% do total de CIDs (Código Internacional de Doenças) registradas.
Entre as 100 CIDs referentes ao capítulo V, de transtornos mentais, três se destacaram mais intensamente com percentuais elevados de transtornos mentais entre os trabalhadores:
– F-32 (episódios depressivos),
– F-41 (transtornos ansiosos), e
– F-43 (estresse grave e transtorno de adaptação).
Em 2011, 44% de todos os casos de afastamentos por incapacidade previdenciária temporária e 78% dos casos de incapacidade acidentária estavam relacionados a essas três CIDs.
Em 2015, foram 45% dos casos no auxílio-doença comum (previdenciários), e cresceram para 84% dos casos acidentários.
Em 2019, houve mais um aumento: 53% dos casos previdenciários e 83% dos casos acidentários.
Essa elevação de casos manteve-se no ano de 2020, com 53% dos casos previdenciários em 2020 e 84% dos casos acidentários.
“Esse sofrimento mental de deprimidos, ansiosos e estressados requer novas modalidades de intervenção para ampliar o bem estar e a qualidade de vida junto às comunidades, famílias e empresas para não agravar, um dos graves problemas de saúde pública que é o suicídio em ascensão no Brasil”, alerta o pesquisador.
Suicídio em alta
A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia o suicídio como uma das dez causas mais frequentes de morte. A depressão é uma das causas determinantes, com outras associações de sofrimento mental, o que exige das famílias, sociedade, empresas o cuidado redobrado com a saúde mental o ano todo além do mês de setembro.
Segundo o DataSUS, o total de óbitos no país por lesões autoprovocadas dobrou. Foi de 7 mil para 14 mil nos últimos 20 anos, sem considerar os casos que não foram notificados.
Dirigentes sindicais da Fetquim atentos às questões de saúde mental
As causas de depressão e estresse no local de trabalho são conhecidas e precisam ser combatidas, diz André Alves, secretário de Saúde da Fetquim.
“Há uma pressão enorme por produção, e metas de produtividade. Um assédio moral infernal, e em muitas fábricas são exigidas jornadas de 12 horas e os trabalhadores são chamados para trabalhar nos finais de semana e folgas em vez de termos jornadas de turnos que respeitem o descanso dos trabalhadores como jornadas de 5 turmas para que tenham sua saúde mental preservada”, afirma o dirigente.
O coordenador político da Fetquim, Airton Cano, concorda e acrescenta que “é preciso avançar com um governo que respeite a regulamentação da legislação de saúde do trabalhador tanto física como mental”, se referendo as eleições de 2 de outubro quando será escolhido o novo presidente da República.
“Há necessidade de um governo voltado para os trabalhadores que não casse direitos e imponha respeito e trabalho decente e principalmente que dê proteção mental, psicológica, salário justo e qualidade de vida para todos e que desfaça a reforma trabalhista que buscou desrespeitar nossa negociação coletiva”, ressalta Airton.
Fonte: CUT Brasil