Larissa Rodrigues Mendes Silva tem 19 anos e mora no Capão Redondo, na periferia da zona sul de São Paulo. Desde os 10 anos, ela sonha em construir prédios importantes na cidade. A jovem estudou em escola pública, conseguiu 100% de bolsa de estudos em um cursinho renomado e conquistou uma vaga no curso de Engenharia na Universidade de São Paulo (USP).
Enfrentando barreiras no dia a dia, a universitária conta que não é fácil ser mulher, negra e da periferia numa faculdade em que 82% dos estudantes são homens e 59% pertencem à classe A, como aponta pesquisa da própria USP.
“A gente sempre acha que não isso é para a gente, por mais que meus pais estimulassem a fazer universidade pública. Mas mesmo assim, você aquilo como algo tão distante que acha nunca vai acontecer”, conta a jovem, em entrevista à repórter Vanessa Nakasato, da TVT.
A estudante afirma que, como sempre estudou em escola pública, sofreu com a falta de professores e excesso de aulas vagas. Entretanto, entrou para um cursinho renomado. Acordava às 4h para chegar as 7h. Além da longa viagem, também sofreu com o preconceito dentro da sala de aula.
“Eu tive crise ansiedade, com vontade de desistir, porque eu nunca tinha visto isso. Eu estava numa sala que tinha 200 alunos e era eu e mais um menino negro. Eu sempre ouvi alguns comentários do tipo ‘você tem não medo que algum bicho entre no seu cabelo?’, ou ‘você não tem cara de engenheira, tem cara de humanas’. Teve até uns casos mais extremos em que um rapaz estava conversando com outro e falou: ‘quando eu vejo um preto com dread tenho vontade de atropelar’. Então, foi muito difícil para mim”, relata.
Se conseguir chegar ao fim do curso, Larissa será uma das 10 alunas negras a se formar em Engenharia na USP, em 124 anos. A falta de cotas na universidade faz com que ela se sinta sozinha. “Os problemas das questões sociais na USP existem muito ainda. Como ela não tem cotas, quase não têm negros aqui dentro. As únicas pessoas negras que tem são seguranças, as moças da faxina, porque os alunos mesmo quase não têm. Até mesmo o curso de Letras, que é considerado o mais inclusivo, não chega a ter mais de quatro negros na sala.”
A jovem contesta o argumento da meritocracia sobre a ‘falta de esforço para que negros conquistem as vagas na USP’. “A grande maioria não tem noção da realidade do próximo e quando reivindicamos alguma coisa, eles falam que é ‘mimimi’ ou ‘falta de esforço’, como se fosse uma questão de esforço e não de oportunidade.”
Fonte: Rede Brasil Atual