Por Paula Zarth Padilha, para o Terra Sem Males
A Livraria Antonio Gramsci, parceira do Núcleo Piratininga de Comunicação, referência em comunicação popular e sindical com sede no Rio de Janeiro, lançou em 2016 a oitava edição da cartilha “A Origem Socialista do Dia da Mulher” e a camiseta em comemoração do aniversário de Rosa Luxemburgo, que nasceu em 5 de março de 1871.
A origem do 8 de março como Dia Internacional da Mulher é permeado de informações contraditórias, relacionadas à resistência e luta das mulheres. A cartilha, com texto de Vito Giannotti e Claudia Santiago e ilustrações do cartunista Carlos Latuff, questiona a versão de que o 8 de março teria começado a partir de uma greve ocorrida em 1857 em Nova Iorque, quando teriam morrido 129 operárias queimadas vivas.
A obra lembra que o Dia Internacional da Mulher tem origem socialista, e que a data 8 de março foi fixada a partir de uma greve iniciada no dia 23 de fevereiro de 1917, na Rússia, em uma manifestação organizada por tecelãs e costureiras de Petrogrado, estopim da primeira fase da Revolução Russa.
Confira entrevista com Claudia Santiago Giannotti sobre a importância de celebrar o Dia Internacional da Mulher:
Terra Sem Males – Qual a importância de ano após ano reafirmar a data 8 de março como Dia Internacional da Mulher?
Claudia Santiago Giannotti – O machismo é uma coisa muita séria e muito entranhada na sociedade em homens e em mulheres. As mulheres ainda são vistas como objeto de cama e mesa, como nos ensinou Heloneida Studart, nos idos dos anos 1980. Cuidamos da casa, dos filhos, cuidamos dos familiares mais velhos ou que necessitem de atenção especial. Além disso, estudamos e trabalhamos. Mesmo assim somos vistas como cidadãs de segunda categoria por sermos mulher. Somos tratadas como se não fôssemos capazes de dirigir nossas próprias vidas, nossas entidades de classe e que dirá, um país. Nossa remuneração é menor e nossa voz tem menos peso. Ainda há um longo caminho a percorrermos, daí a importância de ano após ano reafirmar a data 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Não como dia de receber flores, mas como dia de reafirmação de nossos direitos. E ainda temos que ter cuidado porque o mercado anda querendo se apropriar da data para vender seus produtos. Se não abrirmos os olhos e reafirmarmos a história do 8 de março, daqui a pouco vamos receber caixa de bombom no 8 de março.
Como foi produzida a cartilha que questiona a versão das mulheres queimadas vivas como a origem do 8 de março?
O Núcleo Piratininga foi alertado, no início da década de 1990 pelo jornalista Gustavo Codas, que hoje trabalha na Fundação Perseu Abramo. Ele nos disse que estávamos contando uma história que não havia acontecido. A partir deste momento Vito Giannotti se dedicou ferozmente, como tudo que ele fazia, à pesquisa da outra história que não era contada. Mandou buscar livros na França, leu tudo o que havia sobre o assunto no Brasil e me convenceu de nós devíamos produzir este caderno. E assim fizemos. Ele pesquisava, me passava e eu escrevia. As ilustrações feitas pelo Latuff foram todas pensadas por Vito. Desde então, estamos divulgando nossas descobertas. Não sei se ainda não deu tempo de os grupos de esquerda se apropriarem dela, ou se há interesse político em manter a primeira versão.
Quais ações afirmativas devemos ter na rotina em referência ao que a mulher enfrenta de violência?
Primeiramente exigir do Estado políticas públicas para as mulheres, como creche, atendimento pré-natal, redução da mortalidade materna, redução do parto cesárea, prevenção da gravidez na adolescência, enfrentamento à violência contra as mulheres, a violência sexual é a que mais atinge as mulheres, prevenção ao câncer de mama. A existência de um grande número de mulheres com essa doença, ou que faleceram devido ao câncer, mostra falhas na descoberta da enfermidade. Essas falhas podem ter acontecido devido a não realização do exame clínico das mamas e a não realização de mamografias para mulheres acima dos 40 anos de idade. No caso das regiões empobrecidas da cidade, as mulheres dependem do sistema público de saúde. Precisamos criar grupos de mulheres para que elas se percebam, se conheçam e juntas descubram as diversas formas de violência moral a que estão submetidas. Garantir direitos específicos para as mulheres nos acordos coletivos; denunciar a comercialização do corpo da mulher pelos meios de comunicação.
A oitava edição da cartilha “A origem socialista do Dia da Mulher” pode ser adquirida por R$ 10 na Livraria Antonio Gramsci. Informações (21) 2220-4623 ou livraria@piratininga.org.br.
Fonte: Terra Sem Males
(Foto: Joka Madruga)