Desenvolvimento com Inclusão Social

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Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o economista Márcio Pochmann (foto, no palanque) foi o palestrante da cerimônia de abertura do 8° Congresso Nacional de Sindicatos de Engenheiros (CONSENGE), em Florianópolis de 3 a 6 de setembro no Praiatur Hotel (Ingleses). Pochmann, que é também professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre “Engenharia, Desenvolvimento e Inclusão Social”.  “O projeto da sociedade do conhecimento é aquele em que 60 a 70% dos jovens estejam na Universidade. De pouco ajuda a quantidade de informações que temos hoje se não houver capacidade de análise e de síntese”, disse. Pochmann acrescentou ainda a importância de se procurar o aperfeiçoamento sempre. “Antigamente o conhecimento acumulado por quatro anos de Faculdade ia permitir a pessoa trabalhar por quarenta anos. Hoje estamos na sociedade do trabalho autônomo, menos heterônimo e mais criativo”.


Formação profissional

Nesse aspecto, o presidente do IPEA complementou o ponto de vista de outro palestrante do Congresso, o engenheiro agrônomo e consultor de ensino superior MEC/UNESCO, Paulo Roberto da Silva (foto, à esquerda): “Não temos a cultura do aperfeiçoamento continuado e permanente. Embora muitos engenheiros a pratiquem como forma de se manterem atualizados e em constante mobilidade no mercado de trabalho, a imensa maioria ainda não adentrou nesse novo pensar e modo de agir”, afirmou Paulo Roberto, palestrante que apresentou a tese sobre formação profissional e ensino da engenharia.


 
 

Energia e meio ambiente

No dia 5 de setembro, o físico Luiz Pinguelli Rosa (na foto abaixo com o então presidente da Fisenge Olímpio Alves dos Santos) falou sobre petróleo, agroenergia, aquecimento global, fontes alternativas de energia e pequenas centrais hidroelétricas. Reservar o petróleo do Subsal para consumo nacional e investir em fontes alternativas de energia. Essas são algumas das sugestões do ex-presidente da Eletrobrás para o futuro energético do país.

O hoje secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudança Climática defende que o país discuta atentamente o volume de petróleo estimado em áreas descobertas recentemente pela Petrobrás, especificamente o Campo Tupi, que é parte da Bacia de Santos, e a área do pré-sal como um todo. Estima-se que em Tupi haja algo em torno de oito bilhões de barris de petróleo, o que equivale a cerca de metade das reservas atuais do país e deve haver, pelo menos, cinco vezes mais petróleo na área do pré-sal, ou seja, 40 bilhões de barris de petróleo. Entretanto, segundo o ex-presidente da Eletrobrás, levará de cinco a seis anos para começar a produção de Tupi e para se saber com precisão o real volume de petróleo na área do pré-sal.

Até lá, Pinguelli Rosa sugere que não se aumente a exportação de petróleo do país em decorrência dessas descobertas.  Hoje consome-se no Brasil 730 bilhões de barris de petróleo por ano e a expectativa é de que se chegue a 1,5 bilhões em alguns anos. Os 40 bilhões de barris de petróleo estimados na região do pré-sal, por exemplo, poderão garantir conforto nessa área ao país pelos próximos 26 anos, mas não para que o Brasil seja um grande exportador.

O ex-presidente da Eletrobrás defende ainda que parte da renda petroleira deve ser voltada para as fontes alternativas e para a eficiência energética, como forma de mitigar o aquecimento global. Aponta para as pequenas centrais hidroelétricas como alternativas para suprir a demanda do país, já que não enfrentam as mesmas críticas ambientais dos reservatórios das grandes usinas.  Pinguelli Rosa cobra ainda um esforço de pesquisa e desenvolvimento de fontes alternativas nas universidades, centros de pesquisa e empresas, abrangendo biomassa, energia solar, uso de resíduos urbanos e agrícolas, energia das ondas e de marés e de hidrogênio.
 

Mudanças urgentes no marco regulatório

Chamado à mesa para somar com a sua experiência no setor energético, representando a AEPET, Fernando Siqueira (à esquerda) acrecentou questões relacionadas ao pré-sal. Ele lembrou que, pela Constituição brasileira, o petróleo pertence à União e criticou a incoerência da Lei do Petróleo.”Os artigo 3 e 21 dizem que as jazidas e o produto da lavra do petróleo pertencem à União. Mas, de acordo com o artigo 26, emplacado pelos lobbies internacionais no Congresso, dá propriedade a quem extrair”, explicou.

Siqueira criticou, ainda, o marco regulatório atual. “As reservas do pré-sal pode conter 90 bilhões de barris de reserva. Se esse petróleo for extraído dentro das condições atuais, 55% dele será da empresa que extrair, que não investiu e nem correu riscos. Ela compra um bloco e, do dia para a noite, passa a ser dona do petróleo. A nossa advertência é de que o petróleo pertence ao povo brasileiro e não pode ser entregue dessa maneira”, afirmou.

Segundo ele, os benefícios que o pré-sal pode trazer para o país são imensos. “A previsão do preço do petróleo é de subida, porque estamos no limiar do terceiro e definitivo choque, onde a oferta de petróleo mundial está chegando ao pico, enquanto a demanda está crescendo. Acredito que no início da produção do pré-sal, o preço do barril estará em 200 dólares. Logo, esses 90 bilhões de barris a este valor representariam 18 trilhões de dólares que pertencem ao povo brasileiro e podem pagar investimentos em infra-estrutura, educação, saúde etc. Enfim, seria o suficiente para colocar o Brasil na rota do desenvolvimento e garantir o fim da miséria no país”, declarou.

Siqueira chamou à responsabilidade os presentes no 8º Consenge para ajudarem numa campanha em defesa do petróleo nacional. “Além de restaurar a riqueza para o povo brasileiro, vai restaurar o desenvolvimento tecnológico, a criação de empregos em grande escala para os técnicos do nosso país etc. Se for entregue à empresas estrangeiras, virão técnicos do exterior e tomarão os nossos empregos. O Consenge precisa estimular o engajamento nesta luta para defender o mercado de trabalho e a Engenharia nacional.
 
 

Mulheres discutem gênero

Na palestra Gênero e Desenvolvimento, com a diretora da Contraf/CUT, Neide Fonseca (foto, de pé), e a diretora da Secretaria de Mulheres da CUT-RO, Guelinda Jacob (foto, primeira à esquerda), várias abordagens mostraram a importância da luta contra a discriminação de gênero e a necessidade em se compartilhar as relações a fim de que as participações sejam mais democráticas.

“As relações sociais foram construídas mostrando que as mulheres tinham que cuidar da casa e dos filhos. Onde está escrito isso?”, questionou Neide

Guelinda Jacob enfatizou a imprtância em falar, nas Universidades, sobre sindicalização. “Precisamos avançar na filiação das mulheres engenheiras”, enfatizou.
 

 Consenge amadurecido

Os quatro dias de debates confirmaram que o Consenge tem tudo para se firmar como um dos mais importantes eventos da Engenharia, pois estimula e provoca discussões de temas de relevância nacional e serve de base para ampliar o debate nos Sindicatos de Engenheiros. O crescimento do Consenge está diretamente relacionado ao amadurecimento das relações sindicais entre os engenheiros do país. A percepção da necessidade de inserir o caráter social no debate profissional – muitas vezes restrito ao conhecimento técnico – faz do Consenge um evento com sensibilidade para tratar das questões que ainda são entraves ao verdadeiro desenvolvimento do país.

Em sua fase embrionária, o Consenge já se mostrou importante em diversas lutas ao redor do país. Amadurecido, espera-se que se absorva muito mais deste Congresso. Sabe-se, no entanto, que temos muitos desafios pela frente, mas é clara a necessidade em atuar junto às esferas de poder, apresentando, sobretudo, alternativas às experimentadas nos últimos anos, a fim de ver o país crecer igualitariamente e devolver à Engenharia o papel de destaque na construção de um país mais justo.

Com Clarissa Mazon e Marta Bertelli, assessoras de imprensa do VIII Consenge

Foto: Artefloripa Fotografia Digital