De mulher para mulher: loja Marisa, estupro e como corrigir seus erros

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Errar é humano. Desde crianças aprendemos que quando algo sai do nosso controle e tem um resultado que a gente não gostaria/esperava devemos pedir desculpas. Com sinceridade. Mas os adultos esquecem que existem erros desculpáveis e erros.
Quando você trabalha para uma empresa que investe muito dinheiro em algo, você não pode errar, não pode mandar um “ops, chefe, foi mal, perdemos 1 bilhão”. E quando se trata, então, da imagem de uma marca ou pessoa, muito menos. Esses erros não se resolvem com desculpas.

E é aí que entra o problema que aconteceu com a loja Marisa, aquela com o slogan “de mulher pra mulher”: ela estava vendendo uma camiseta infantojuvenil com a frase “ótimos estupradores hoje a noite”, em inglês. Ok, foi um erro de ortografia, mas não foi só um errinho.

Uma loja que se diz a melhor amiga da mulher, que entende o mundo feminino, jamais poderia ter errado dessa forma. Já teve, no último ano, o caso de uma propaganda que muita gente achou que incentivava a anorexia. Não dá para deixar a imagem assim, sendo arranhada diariamente.
É claro que as pessoas viram a camiseta e começaram a questionar aquilo nas redes sociais. O que a empresa deveria ter feito? Pedido desculpas e tirado o produto do ar. Na hora, sem pensar duas vezes. Desculpem, mulheres, somos mesmo suas melhores amigas, erramos e acreditamos que o estupro é um ato de violência que nunca deveria ser aceito. Algo assim.
Mas o que aconteceu foi… UM DESCONTO! Não é piada. A loja vendia a camiseta por R$ 25, depois das críticas foi lá e baixou para R$ 9,90. Gente, vocês estão de brincadeira com todas as mulheres que passam por humilhações públicas diariamente e são traumatizadas por estupros, né?

Depois de mais uma enxurrada de críticas – as notícias vão se espalhando e as pessoas vão ficando mais bravas, chocadas e tal – a loja resolveu tirar o produto do site e oferecer o dinheiro de volta. Mas ainda não houve nenhum pedido de desculpas.
O estupro é uma das violências contra a mulher que ainda causa mais questionamento na sociedade. Uma mulher estuprada não é vista sempre como vítima, ela é apontada, julgada e ainda precisa ouvir comentários de que “pediu” aquilo porque se vestiu de certa forma, saiu a noite, bebeu ou qualquer outro motivo.
Alguns dados sobre o estupro no Brasil e no mundo:
De acordo com um estudo da Universidade de Nova York, 35% dos homens disseram que cometeriam um estupro se não fossem penalizados por isso;
Segundo o levantamento de Maria Berenice Dias, no estudo Falando em estupro, 54% dos abusos são cometidos pelo marido da vítima;
O estudo acima ainda diz que 20% das mulheres no mundo sofrerão violência sexual na infância;
Uma em cada três mulheres sofrerá algum tipo de abuso sexual durante a vida, de acordo com a ONG internacional Action Aid;
Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam que o número de estupros aumentou 157% nos últimos quatro anos.
As empresas adoram falar sobre responsabilidade social, mas esquecem que dentre os diversos pilares desse conceito está a ética. E a ética vai muito além de não poluir ou fazer doações a projetos sociais. Você não pode, em nenhuma etapa do processo do seu negócio, ofender uma pessoa, fortalecer preconceitos ou estereotipar. A gente sabe que a publicidade vive basicamente disso, mas você não vê um cara que faz comercial sexista dizendo que é o melhor amigo da mulher, vê?

Fonte: Carol Patrocínio/ Blog Preliminares