Curso Geopolítica do Petróleo aborda importância estratégica, mercado e perspectivas na produção do óleo

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O Sindicato dos Engenheiros da Bahia (Senge-BA), a Fisenge, o Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindpetro-BA) e o Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (APUB Sindicato) realizaram, entre os dias 21 e 23 de outubro, o curso “Geopolítica do Petróleo”, ministrado pelo professor titular da UFBA José Sergio Gabrielli.

No primeiro dia, Gabrielli falou sobre a importância estratégica do petróleo para a sociedade moderna, tornando-o recurso fundamental para o funcionamento e desenvolvimento das economias. “Tudo que existe hoje tem petróleo na sua composição ou foi transportado por ele”, disse. Daí, a necessidade de discutir os aspectos relacionados à descoberta de novos poços e a recuperação dos já em atividade, as cadeias produtivas, particularidades da extração óleo e as perspectivas do mercado. Em relação ao acesso às reservas, por exemplo, Gabrielli explica que hoje o aumento da produção vem dos reservatórios antigos, através da aplicação de novas técnicas de extração. Apesar disso, entre 2007 e 2010 houve um pico de descoberta: o pré-sal brasileiro.

Pré-sal e a necessidade de um novo marco regulatório

Sobre o pré-sal, Gabrielli lembra que, após a primeira perfuração, em 2006, quando de fato se comprovou sua existência e extensão, houve suspensão do leilão previsto, pois se percebeu que era necessária a criação de um novo marco regulatório. “Ser operador único é fundamental porque o conhecimento vem do processo operacional”, afirmou. Ele avalia que embora estejamos atravessando um momento no qual há um sobreprodução, haverá um agravamento das disputas por novas reservas, causado por um futuro aumento de demanda e das regulações ambientais para o uso do óleo e que o Brasil ocupa posição de destaque, pois é uma das áreas com mais potencial de contribuição para novos poços. “A discussão sobre quem vai se apropriar da renda gerada pelo petróleo é fundamental para entender também o que vai acontecer com o Brasil, o que vai acontecer com a educação e com a desigualdade no Brasil”, afirmou o professor.

Fontes de energia alternativas

No segundo dia do curso, foram abordados os tipos de petróleo existentes, traçando as diferenças entre os óleos leves e pesados e o papel das refinarias no processamento. Sobre o caso específico brasileiro, Gabrielli explicou que atualmente produzimos cerca de 2 milhões e 300 mil barris por dia e que, embora as refinarias brasileiras estejam atualizadas e em boas condições, sua capacidade de crescimento é limitada. Desse modo, para destilarmos maior quantidade de petróleo teríamos que necessariamente construir novas refinarias. “Se a demanda [por petróleo no Brasil] aumentar, teremos que importar derivados”, disse.

Em relação às fontes alternativas de energia, Gabrielli afirma que ainda é difícil encontrar um substituto para o petróleo, tal é a dependência que a sociedade tem do produto. “Somos ‘viciados’ em petróleo”, ele diz. Especialmente, no uso para os meios de transporte. Na eletricidade e na indústria, utiliza-se o carvão e o gás natural. A energia solar é a fonte alternativa que mais cresce, principalmente na China, seguida da eólica; ainda assim, todas as fontes alternativas reunidas representam apenas 1,5% da matriz energética mundial. Razão pela qual Gabrielli é taxativo a afirmar que “o petróleo vai demorar muito ainda para ser substituído”.

História e geopolítica

Uma parte do curso foi voltada para expor as variações do consumo de petróleo ao longo da História, em nível mundial. Gabrielli apresentou um panorama de 1965 a 2015, ressaltando que o consumo vem aumentando em países fora da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, formada por 34 países, entre eles Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Reino Unido). Significa que o consumo começou a crescer fora dos países desenvolvidos, notadamente nos BRICS, em especial China e Índia. Já o consumo da OECD vem em declínio a partir de 2005. No Brasil, o consumo acelera a partir de 2003.

Diante do quadro de uma dependência de petróleo que deve se manter pelas próximas décadas e da escalada do consumo nos países em desenvolvimento, Gabrielli afirma que o óleo torna-se, cada vez mais, uma commoditie estratégica e que a tendência dos Estados é aumentar seu controle sobre ele. “O Brasil está fazendo o inverso”, alerta.

Também no sábado (22), o curso focou na parte histórica dos usos do óleo, disputas internacionais e formação do preço dos barris. O professor José Sérgio Gabrielli partiu desde antes da I Guerra Mundial, quando a exploração de petróleo ainda era precarizada e predatória. Nessa época, havia produção especialmente na região da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em Baku, no Mar Cáspio e na Pérsia. Os Estados Unidos eram o maior produtor mundial através da empresa Standard Oil que, posteriormente, foi forçada pela lei antitruste (Sherman Act, 1890) a se fragmentar em empresas diferentes para evitar o monopólio. Gabrielli destacou a forte interferência estatal na formação da indústria do petróleo no país.

Da primeira para a II Guerra Mundial, houve um aumento significativo no uso do petróleo para atividades bélicas, tanto no transporte de armamentos e pessoas, quanto nos ataques aéreos e no uso de veículos blindados. “Para se fazer guerra, era preciso garantir o acesso ao petróleo”, disse ele.

No pós-guerra, o Oriente Médio torna-se o maior fornecedor internacional devido ao baixo custo de extração, apenas 0,10 de dólar por barril. Assim, as empresas petrolíferas norte-americanas que atuavam em seu próprio país forneciam para o mercado interno, enquanto as que atuavam no Oriente Médio forneciam para a Europa. Antes da criação da OPEP (Organização dos países produtores de petróleo) o mercado era dominado pelas chamadas “7 irmãs” – Shell, Anglo-Persian Oil Company (hoje BP), Texaco, Gulf Oil, Esso, Socony e Socal – que ajustavam o preço dos barris com o objetivo de evitar ao máximo o pagamento de impostos. Apesar disso, entre 1946 e 1960 o preço mante-se em patamares estáveis, chegando até a cair, em termos reais, por conta da valorização do dólar.

Perspectivas para o futuro

No último dia do curso, no domingo (23), o foco foi o a finalização do percurso histórico da indústria petrolífera no mundo, passando pela criação da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo), o declínio e desintegração da União Soviética e as gerras do Golfo Pérsico.

Sobre o momento atual da indústria, Gabrielli afirmou que a produção norte-americana tem se reduzido devido à baixa nos preços dos barris, enquanto o Irã aumenta sua exportação. Segundo ele, porém, no longo prazo, a tendência é que a demanda interna do Irã impeça o crescimento dessas exportações, embora ele já continuar a ser, juntamente com a Arábia Saudita, dos países de maior produção dentro da OPEP. Fora da Organização, Brasil, Cazaquistão e Canadá são os que mais se destacam. Ele ressalta que há uma recente queda na demanda interna brasileira, devido à crise, em contraste com o cenário mundial, que é de aumento. Há, portanto, óleo excedente para o mercado externo. “Nossa tendência é crescer a exportação”, disse.

Ao final, o diretor administrativo da Apub e presidente do Sindicato dos Engenheiros da Bahia, Ubiratan Félix, falou sobre a importância da preservação e fortalecimento das empresas nacionais.

Fonte: APUB Sindicato/Senge-BA