O Brasil é um dos lugares mais perigosos do mundo para ser mulher. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), uma mulher é morta a cada 2 horas por um homem. Para dar destaque ao assunto, vários movimentos sociais encabeçam a campanha “Nem uma menos!”, que nasce da indignação com as frequentes mortes de mulheres no país. Na semana em que comemora-se o Dia da Mulher, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Paraíba (Crea-PB) traz à tona o debate, que não é caso de polícia, mas um problema social, cultural, de saúde, de educação e de machismo.
Presidente do Crea-PB, a agrônoma Giucélia Figueiredo acredita que suscitar a discussão em torno do tema é uma ação de cidadania e lembra que o problema deve ser combatido através de políticas públicas especificas para que a violência seja de fato coibida. “Enquanto a sociedade clama para que essas mulheres não sejam só números de uma estatística assustadora, o Governo Federal, sob uma perspectiva policialesca, tira da Secretaria de Políticas Para Mulheres o status de ministério da pasta, agora subordinada ao Ministério da Justiça. Enquanto isso, os discursos misóginos de parlamentares e políticos conservadores avançaram em todo o país. Isso se confronta com a necessidade de enxergar as políticas para as mulheres de maneira ampla”, alerta Giucélia.
Na Paraíba, a realidade é assustadora. Segundo dados do Mapa da Violência 2015 – Homicídios de Mulheres, o número de violência contra a mulher cresceu 260% no estado entre 2003 e 2013, pulando de 35 para até 140 casos. A esse crime dá-se o nome de feminicídio, termo que passou a ser reconhecido principalmente após a sanção da lei que o tornou uma qualificadora do homicídio, mas ainda é pouco discutido. “Em parceria com a Fisenge [Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros], levantamos esse debate como uma forma de lembrar, neste 8 de março, que as mulheres conquistaram muitos avanços, mas que o direito fundamental, que é a vida, ainda precisa ser assegurado, e é papel da sociedade cobrar do Poder Público políticas que contemplem essa questão, acima de tudo, social”, explica a presidente do Crea-PB.
Giucélia Figueiredo lembra que a lógica patriarcal de que “briga de marido e mulher não se mete a colher” mantém a violência no campo privado, como se eximisse o Estado e a sociedade de sua responsabilidade, mas afirma: a comoção e a sensação de impunidade a cada mulher violentada e morta precisam ser direcionadas para ações que deem sentido à palavra de ordem “Nem uma a Menos”.
Mulheres na Engenharia
Primeira mulher a presidir o Crea da Paraíba, Giucélia, apesar dos desafios, vê com otimismo as transformações alcançadas na sociedade, especialmente na área da Engenharia, vista como predominantemente masculina até então. Ela ressalta que, além de ter aumentado o número de estudantes do sexo feminino nos cursos da área tecnológica, também cresceu o número de mulheres nos espaços de debate e de decisão.
Embora a participação masculina ainda seja muito superior à feminina no setor, esta diferença está cada vez menor. Segundo dados do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, as mulheres continuam minoria na engenharia, mas em 2013 chegaram a 19% dos empregados formais. São 17.875 no total de 92.478. Em 2003, eram 7.829 e representavam 15%. Outro dado significante é a redução da disparidade por gênero. Em 2003, as engenheiras tinham salários que representavam em média 75% dos pagos aos seus colegas do sexo masculino. Em 2013, já obtinham remuneração equivalente a 81%.
A Paraíba acompanha a média nacional, com cerca de 20% dos profissionais ativos no Crea-PB sendo mulheres. Dos 12.419 registrados no Conselho Profissional, 2.538 são mulheres. A área de engenharia civil apresentou o maior aumento nos últimos 10 anos, de 166 engenheiras registradas em 2007 para 1070 profissionais ativas em 2017, um incremento de 85%.
Para a presidente do Crea-PB, os números são animadores e revelam que ocorre hoje uma transformação da Engenharia no Brasil. “Com essas mudanças, surgem espaços que passam a refletir o papel da mulher nas nossas profissões e, principalmente, o papel da mulher engenheira na sociedade”, afirma.
Giucélia Figueiredo cita os Coletivos de Mulheres do Sindicato dos Engenheiros da Paraíba (Senge-PB) e da Fisenge como expoentes nesse processo. “São espaços democráticos fundamentais, onde as engenheiras debatem e vão à luta por uma série questões que nos envolvem enquanto profissionais e cidadãs. O Senge-PB e a Fisenge têm andado de mãos dadas de forma atuante e comprometida. É preciso ter a compreensão de que nós, mulheres, precisamos assumir esse papel ativo para construirmos a sociedade que queremos”, conclui.
Fonte: Crea-PB