Evento realizado na UFBA reuniu estudantes, profissionais e professores
O funcionamento das barragens de rejeito da Bahia foi tema de um workshop promovido, nesta sexta-feira (05), pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia e Universidade Federal da Bahia. O assunto atraiu a atenção de estudantes, professores, profissionais das Geociências e da sociedade civil organizada, que lotou o auditório Leopoldo Amaral, da Escola Politécnica da UFBA.
Na ocasião, o presidente do Crea, engenheiro civil Luis Edmundo Campos, falou sobre a importância do engajamento dos profissionais das Geociências em assuntos que refletem diretamente na vida das pessoas. Citou que, entre as atribuições do Conselho, está o apoio às entidades e a promoção de eventos promovidos pelas mesmas. “As pessoas desconhecem o papel do Crea e, por meio de eventos como esse, nós procuramos não só divulgar, como também promover a integração com os profissionais”, enfatiza.
O coordenador da Câmara Nacional de Geologia e Engenharia de Minas, engenheiro Ubirajara Lira, destacou a importância da desmistificação da ideia de que a mineração é uma atividade que só traz prejuízos a sociedade e ao meio ambiente. “A imagem é ruim na mídia, então é nosso papel mostrar a sociedade a importância que a mineração tem para a vida das pessoas como fornecedora de matéria-prima e de emprego e renda”, coloca.
Engajamento – Os presidentes da Associação Baiana de Geólogos, Fábio Rodamilans e da Associação Baiana dos Engenheiros de Minas, Pedro Lemos comungaram da mesma opinião: falta participação dos profissionais em assuntos de interesse da área, bem como, o rebaixamento da mineração em detrimento às questões ambientais.
O coordenador do grupo de Barragens de Brumadinho e Mariana e também coordenador da Câmara de Geologia e Engenharia de Minas do Crea de Minas Gerais, João Hilário, colocou na ocasião que as ações relacionadas à mineração na Bahia causaram-lhe uma boa impressão. “Os trabalhos estão sendo conduzidos de forma que vão reduzir e muito os problemas por aqui. Na engenharia e na vida tudo começa pela forma que se pensa e planeja. O ideal é que as ações sejam feitas para evitar os problemas que aconteceram em Minas Gerais”. Ele ainda revelou às atividades realizadas pelo Grupo de Trabalho e o trâmite dos processos de ética no Sistema Confea/Crea.
A atuação da Agência Nacional de Mineração e do Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) na fiscalização e controle de barragens de rejeito e a experiência de empresas, como Bamin, Maracás, Caraíba Metais, Yamana Gold e Fazenda Brasileiro foram apresentadas. Cláudio Rezende, da Bahia Mineração, citou que a empresa se antecipou a legislação e já passou do modelo de montante para jusante, atendendo as normas, critérios e guias.
O engenheiro de minas Gabriel Sapucaia Santos tratou sobre a experiência da Fazenda Brasileiro, em Teofilândia/Barrocas-BA. Ele citou a falta de divulgação da mineração em comparação a água e a indústria. Sobre o empreendimento, afirmou que todas as barragens são impermeabilizadas. “Não existe o contato da água com o barramento, isso para segurança da barragem é excelente”, frisa.
Para Carlos Lorenzo, representante da Vanádio Maracás, os acidentes sofridos em Brumadinho e em Mariana repercutiu negativamente para empresa. “Mesmo realizando os trabalhos corretos de segurança, após acidentes graves, os outros empreendimentos acabam sendo penalizados”.
Falta de governança – O diretor corporativo para gestão de rejeitos da Yamana Gold, Rafael Jabur Bittar focou sua palestra no risco dos rejeitos, nas tecnologias de baixo risco, na preparação para emergências e no foco na governança. De acordo com ele, por ano ocorrem pelo menos quatro acidentes com grandes proporções no mundo. “Todos estão associados a algum problema de governança. O que a gente pode ver é que dois mecanismos dominam as causas dos acidentes: falha na fundação ou liquefação estática”, informa, acrescentando ainda aspectos como caracterização dos rejeitos, materiais inadequados, projetos insuficientes e falta de transparência como ameaças.
O geólogo da Caraíba Metais, Paulo Cavalcante, concentrou sua apresentação na segurança do empreendimento, informando que o projeto, apesar de estar próximo do Rio São Francisco, não oferece risco de contaminação e está na categoria E, ou seja, tem baixo dano potencial, mas reconheceu que tudo pode mudar com a nova legislação. “Com os acidentes recentes, essa avaliação de risco mudará e, com certeza, nossa categoria também”, frisou.
Para o engenheiro de minas e professor universitário, Gracílio Varjão, o evento foi muito interessante. “Foi importante principalmente para o momento atual da mineração e a sua relevância para o país. Ouvimos especialistas e debatemos o tema e a situação das barragens de rejeitos de mineração no nosso estado. Tanto o Crea como a UFBA estão de parabéns pela iniciativa e pelo sucesso do workshop”, finaliza.
Por Nadja Pacheco (Ascom Crea-BA)