A proposta de privatização da Eletrobras tem uma consequência tão importante quanto a geração de energia elétrica e que não está sendo corretamente avaliada: o controle da água. A análise é do diretor jurídico do Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo (Sinergia SP-CUT), Carlos Alberto Alves.
“À medida que são privatizadas as usinas, e a maioria delas com base de geração hidráulica, os novos controladores passam a deter o poder do uso da água, que até então era um uso múltiplo”, explica Alves.
Como exemplo, ele cita os subsídios hoje recebidos por agricultores para a irrigação das lavouras e a produção de alimentos, um estímulo que pode ficar em risco com a privatização. Para o dirigente sindical, entre gerar energia e irrigar a plantação, os futuros donos privados da Eletrobras optarão pela primeira, independentemente da importância da produção de alimentos.
“Os novos controladores, ao comprar essas empresas, não vão manter subsídios que saiam do lucro deles. Podem até manter, mas a sociedade que pague. Então pode haver diversas dificuldades de acesso à água, que é um bem público, de todos”, afirma.
O sistema Eletrobras é composto por 233 usinas, sendo 47 hidrelétricas, 114 termoelétricas, duas termonucleares, 69 eólicas e uma solar. A empresa gera 170 mil gigawatts/hora (Gwh) de energia, sendo a maior companhia do setor elétrico da América Latina, responsável por atender um terço do consumo anual de eletricidade do Brasil.
Além do controle da água, Alves aponta como consequências da privatização o aumento da tarifa de luz, a precarização dos serviços prestados e a entrega para o capital estrangeiro de uma infraestrutura essencial do país.
“A proposta é um desastre. A fórmula como o governo está fazendo a privatização, sem discussão com a sociedade, vai aumentar a tarifa de energia, principalmente para os mais pobres, sem contar que a Eletrobras fomenta o desenvolvimento nas áreas mais carentes do país de energia elétrica, a exemplo do projeto Luz para Todos, onde em vários rincões do Brasil, indígenas, quilombolas e tantos outros têm energia elétrica porque a Eletrobras assumiu”, pondera o dirigente.
Com cerca de 25 mil trabalhadores em todo o sistema Eletrobras, Alves também destaca os efeitos que a privatização terá nos funcionários. Ele prevê que, no médio prazo, mais de 60% dos empregados sejam substituídos por trabalhadores terceirizados, “sem treinamento, sem know-how, com baixos benefícios”.
A situação, disse ele, já é a realidade nas empresas de energia do estado de São Paulo privatizadas nas últimas décadas. “Depois da privatização, algumas empresas do setor elétrico de São Paulo reduziram em mais de 70% o quadro de trabalhadores, impactando diretamente na questão do serviço prestado à sociedade, fazendo com que, ao longo do período, a Aneel flexibilizasse alguns indicadores de qualidade para que essas empresas continuassem operando.”
Lembrando de estudo recente do Dieese, Carlos Alberto Alves enfatiza que o índice de acidentes com trabalhadores terceirizados no setor elétrico aumenta entre 30% e 40%. “A sociedade perde com isso o know-how de 20 ou 30 anos de trabalhadores que mantêm o setor operando e fornecendo energia 24 horas por dia. Então, para os trabalhadores, a privatização é perda de benefício, redução de salário e terceirização”, finaliza.
Edição: RBA
Luciano Velleda/Rede Brasil Atual
Foto: Arquivo EBC