Centenas de camponeses e agricultores familiares da Via Campesina e de várias outras entidades ligadas a agroecologia participaram do VI Congresso Brasileiro e o II Congresso Latinoamericano de Agroecologia, que teve início no dia 9/11 e terminou nesta sexta-feira (13/11) com atividades de campo, em Curitiba e região metropolitana, no Paraná.
O evento reuniu cerca de 3, 8 mil pessoas de vários estados brasileiros e dos demais países da América Latina. Participam pesquisadores, camponeses, agricultores familiares, integrantes de movimentos sociais, representantes de órgãos governamentais e várias entidades, ligadas a agricultura.
Um dos participantes, o educando da turma Resistência Camponesa da Escola Latino-Americana de Agroecologia, na Lapa e pequeno agricultor, certificado pela Rede Ecovida desde 2002, Luiz Bueno, conta que este foi um momento muito rico, onde os agricultores demonstraram sua resistência e capacidade de mudança. “Não somos pesquisadores, mas agricultores-experimentadores, e conhecemos a terra. Está claro que a agroecologia não cabe dentro da lógica capitalista, por isso, não estamos somente fazendo a agroecologia, mas trabalhando para uma transformação no modelo de produção, nas relações humanas e do atual modelo de sociedade.”
O presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Francisco Caporal, explica que a Agroecologia é uma ciência diferente das demais, reunindo conhecimentos de vários campos, por isso, os congressos de agroecologia têm privilegiado espaços de participação dos agricultores na integração com o público acadêmico. Na sua opinião, essa interação e intercâmbio fortalece o movimento agroecológico e a agroecologia como novo paradigma.
“Na construção do conhecimento agroecológico existem várias formas de geração de conhecimento, e os agricultores vêm gerando conhecimentos a partir da sua prática cotidiana, nos seus agroecossistemas de experimentação, nas suas propriedades. E dentro da agroecologia esse saber campesino é fundamental, inclusive como ponto de partida para estratégias de transição agroecológica”, ressalta Caporal.
Durante o Congresso, o presidente da Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecologia (Socla) e professor doutor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, Miguel Altieri, também ressaltou a necessidade da parceria entre camponeses e acadêmicos para a construção da agroecologia e apontou a agricultura familiar e camponesa como única saída para a continuidade da existência no planeta. “A atual crise de alimentos é o resultado direto do modelo agroindustrial de agricultura que sufoca os camponeses, destrói o meio ambiente e os ecossistemas. É um modelo destruidor, sem volta, que precisa ser mudado. Mas, sem a mudança com os camponeses e movimentos sociais do campo não é possível fazer isso”, constata.
A Via Campesina organizou um acampamento, em um terreno ao lado da Universidade Positivo, com cerca de 600 pessoas, entre camponeses, pesquisadores e estudantes que realizaram atividades paralelas e participaram do Congresso.
Com o tema central “Agricultura Familiar e Camponesa: experiências passadas e presentes construindo um futuro sustentável”, os eventos, promovidos pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) e pela Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecologia (Socla), buscaram a promoção dos princípios da Agroecologia a partir do intercâmbio dos saberes técnico, científico e popular dos atores e entidades participantes.
Fonte: www.mst.org.br