Conceito de censura se altera dependendo das diferentes formas de regime, afirmam especialistas

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Em encontro de blogueiros, mídia alternativa é destacada como pilar do combate ao monopólio da informação
Escrito por: Henri Chevalier – CUT Nacional

Os modos de exercer censura não se perpetuam com o tempo. Ao contrário, se adaptam às novas realidades políticas e econômicas para terem maior eficácia. Este é um ponto comum abordado entre os debatedores da mesa “Mídia: poder e contrapoder”, no 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais, realizada nesta sexta (16), em São Paulo. Para eles, o monopólio da Comunicação acontece não apenas no Brasil, mas no mundo, e é submetida aos interesses do capital.

“Nunca devemos duvidar de que nossa ação e atuação é resultado de uma conjuntura comunicacional controlada por empresas de comunicação que impõem sua ideologia econômica e política. É nesse contexto que temos que pensar a atuação [dos meios alternativos de comunicação]”, afirma o espanhol Pascual Serrano, jornalista criador do site Rebelion.

Para ele, por muito tempo o conceito de censura foi associado à ditadura, onde não há difusão de opiniões. Mas há outra forma de evitar que uma determinada notícia se espalhe: o excesso de informações com vistas a confundir.

“Imaginemos que uma pessoa precisa enviar uma carta a outra. Na ditadura, a polícia vai interceptar o companheiro que leva a carta, impedindo que ela chegue ao destino. Na Democracia, enviarão dez mil cartas ao mesmo tempo em que a carta do companheiro chega, impedindo que o receptor saiba qual é a importante. Outro exemplo é o do menino em uma escola que quer denunciar algo na hora do recreio. Na ditadura, o prenderão e o impedirão de falar. Na democracia, colocarão 500 meninos falando e gritando ao mesmo tempo que ele, impedindo que seja ouvido. Essa é a lógica da comunicação hoje”, afirma o jornalista. Para Serrano, a mídia alternativa e políticas públicas de comunicação que combatam o monopólio são soluções necessárias não apenas para o Brasil, mas para todo o mundo.

Para o professor Venicio Lima, professor aposentado da Universidade de Brasília, é preciso analisar leis e diretrizes que possam combater aos monopólios de mídia e regular os meios de Comunicação. “É preciso discutir, por exemplo, a lei argentina, que é antimonopólio. A lei argentina mostra como somos atrasados. Questões que lá são discutidas normalmente, aqui são vistas como tabu”, afirma, se referindo ao argumento dos setores conservadores brasileiros de que regulamentar a mídia seria censura à imprensa.

Para ele, a televisão ainda tem grande influência nas decisões da população e deve ser pensada como um bem público. Atualmente, ela representaria os interesses de uma parcela específica da população: o poder economicamente hegemônico. “O debate precisa ser feito não apenas no Brasil. A concentração é um problema mundial”, afirma.

Andrés Contreris, integrante do Movimento Democracy Now, ressaltou que a concentração dos meios de comunicação nas mãos do poder dominante consegue esconder eventos que seriam escândalos internacionais. Como exemplo, citou as torturas realizadas em presos da Base de Guantánamo. Nesse contexto, as formas alternativas de Comunicação são essenciais. “Se a tortura acontece todos os dias e se sempre pudermos gravar e espalhar a verdade, quanto tempo acham que a tortura duraria? Pouco ou nenhum. E nossa função como meios alternativos é justamente essa, espalhar a verdade. Porque a verdade incomoda.”, conclui.