Coluna Senge Jovem | Engenharia, política e a geração mimimi

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Por Luiz Calhau, Engenheiro Civil, diretor do Senge-PR, integrante da coordenação do Senge Jovem e mestrando em Planejamento Urbano pela UFPR

O Senge Jovem inaugura esta coluna mensal com o intuito de trazer ao estudante que acompanha o sindicato um novo canal de comunicação. Aqui, abriremos o espaço para que os estudantes e engenheiros/as recém formados/as realizem um debate de ideias que desafiem paradigmas e provoquem uma reflexão mais profunda sobre a engenharia, política e tudo que engloba o papel do engenheiro e da engenheira na sociedade. Nosso objetivo é criar um espaço de debate de ideias, dentro de uma narrativa que seja libertadora e crítica, sobre o que significa a engenharia e a produção de tecnologia nos tempos atuais.

Este canal de comunicação pode ser compreendido também como uma ferramenta que possibilita a interação entre os estudantes e os jovens engenheiros em termos de mercado de trabalho e perspectivas futuras da engenharia. Aqui encorajaremos os estudantes de todo o estado do Paraná a escrever sobre suas experiências no movimento estudantil, assim como comentar sobre a conjuntura política de seus próprios cursos e universidades. Assim, este espaço se destinará para debates de múltiplas escalas, ora abrangentes, ora locais, sempre suscitando o lado inerentemente político do exercício e do ensino das engenharias.

Mas enfim o que é a engenharia? A quem serve e porque devemos provocar um outro tipo de reflexão dentro dela? A engenharia é a ciência da máquina: pesquisar e desenvolver tecnologias que serão empregadas em processos produtivos, sociais e ambientais. A atuação do engenheiro, portanto, está ligada à produção de tecnologia mas não no seu emprego direto. Isso quer dizer que nem sempre o engenheiro vai utilizar da máquina que desenvolveu, ou vai executar o projeto que desenhou. Engenharia é, tecnicamente parte de um processo, o trabalho que compõe sempre um objetivo maior.

Mas a quem serve este objetivo? Para responder esta pergunta devemos ter uma perspectiva maior sobre a profissão que escolhemos. Se tecnicamente fazemos parte de uma cadeia de produção, politicamente representamos um saber, um conhecimento teórico e prático que nos possibilita exercer nossa profissão. Isto significa que temos uma responsabilidade perante a sociedade que nos confia tal função. Assim, toda decisão técnica que fazemos como engenheiros é permeada pela política. Ora, não é a toa que aprendemos na universidade que um projeto deve ser balanceado em termos de custo e benefício. Isto se trata de uma lógica mercadológica dentro da engenharia, onde a solução técnica deve ser acompanhada de uma viabilidade financeira. A engenharia então não anda com pernas próprias, ela faz parte de um todo e enxergar este todo nem sempre é fácil. Se há tecnologia para tal, por que não há moradia digna para todos? Por que não temos acesso universal à água potável e saneamento básico? Por que não temos uma mobilidade urbana livre e acessível nas cidades brasileiras? Porque, acima de tudo, vivemos em um sistema econômico e social, e este sistema está acima do emprego da engenharia, ou pelo menos da engenharia tradicional e puramente técnica. Avançar na engenharia para além dos muros do sistema é revolucionar o modo de ver a profissão e o papel da engenheira e do engenheiro na sociedade.

Engenharia sem política, portanto, é atuar sem ver, amar sem sentir, operar sem pensar. A técnica pode ser aprendida cada vez mais rapidamente por máquinas e computadores, o que faz do pensar crítico e político uma forma de aproximar a tecnologia da comunidade e dar a ela uma humanidade que se faz cada vez mais rara dentro da ciência tecnológica. Neste sentido, nos reconhecer como classe política e trabalhadora é essencial!

O poder de transformar a tecnologia está acompanhado da possibilidade de irmos além: debater nossa posição como classe trabalhadora além dos estigmas identitários que a nossa profissão esconde. Seja na luta de classes, na luta LGBT+, na discussão de gênero, combate ao racismo, a engenharia está lá presente, servindo a alguém de alguma forma. E portanto isso deve ser discutido e inserido nas nossas ações profissionais. Debater e questionar deveria fazer parte da formação do engenheiro em todas escalas, seja na universidade ou no mercado de trabalho. E se isso significa bater de frente com ideias estabelecidas e enferrujadas que assim seja, pois pessoalmente prefiro ser da geração “mimimi” do que da ultrapassada geração “sim, senhor!”.

Engenharia e política portanto estão imbricadas uma na outra. Seja na pauta trabalhista que o sindicato abarca diariamente, seja dentro das lutas urbanas e rurais, seja no luta das mulheres por maior igualdade, há uma construção de uma engenharia política. E isso pode ser atestado tanto pelos estudantes quanto pelas engenheiras e engenheiros diplomados: na universidade e no mercado de trabalho há posição política e ideologia dentro do exercício da profissão. Fechar os olhos para isto em detrimento de um suposto tecnicismo puro e isento é fechar os olhos para uma realidade que bate a porta a cada segundo.

Assim, este canal de comunicação deve ser alimentado por um conteúdo questionador e crítico, e divulgado em todos meios estudantis no sentido de abrir discussões e reflexões. O Senge Jovem pensa que as vozes que ecoam a revolução dentro das universidades devem ser lidas e relidas, debatidas à exaustão, para que através do conflito possa nascer uma nova engenharia, uma engenharia política e revolucionária.

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