Coletivo de Mulheres da Fisenge realiza evento comemorativo pelos 15 anos de fundação

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Luta, memória, afeto e esperança de dias melhores. Estes foram os sentimentos que permearam a noite do dia 6 de julho, durante a solenidade dos 15 anos do Coletivo de Mulheres da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros) e os 10 anos da história em quadrinhos Engenheira Eugênia, no auditório do Crea-RJ. A vice-presidente da Fisenge, Elaine Santana, conduziu a cerimônia de abertura que contou com a participação de: Maria Virginia Brandão (Diretora da Mulher da Fisenge); Giucelia Figueiredo (Diretora Administrativa da Mútua); Débora Candeias (Coordenadora do Programa Mulher do Crea-RJ); Maria Edna Medeiros (Coordenadora da Rede UNI Mulheres Brasil); Marlene Miranda (Secretária Estadual de Mulheres da CUT-RJ); Cládice Diniz (Professora da UNIRIO e vice-coordenadora do movimento “Engenharia pela Democracia”); Andrea Garcia (Uni Global Union); e Marcia Nori, primeira coordenadora do Coletivo de Mulheres da Fisenge e presidente do Sindicato dos Engenheiros da Bahia (Senge-BA).

O evento contou com apoio do Crea-RJ e patrocínio da Mútua.

 

Após a composição do dispositivo de honra, o vereador e ex-ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, entregou uma moção de congratulação e louvor da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. “Tenho a honra de entregar essa moção em um momento de reconstrução do nosso país. E tenho a certeza de que o Coletivo de Mulheres da Fisenge continuará dando uma contribuição inestimável à construção de um Brasil com desenvolvimento econômico e soberania nacional. E que nós recuperemos a indústria dos nosso país”, afirmou o vereador. 

 

Para abrir o evento, o presidente do Crea-RJ, Luiz Cosenza, enfatizou que a entidade deve ser o primeiro Conselho do país com metade da diretoria composto por mulheres. “Esta é a Casa da Engenharia, de todas as pessoas e precisamos inserir mais profissionais mulheres. Parabenizo o Coletivo por tudo que tem feito no fomento da participação das mulheres e reforço a fala do Edson Santos, que é fundamental: ‘quem muda a característica do desemprego no país é a engenharia’. E quando eu falo engenharia, é toda a área tecnológica: técnicos, engenheiros, arquitetos, eletricistas, quem trabalha na área sabe que 80% do PIB do país depende da área tecnológica”, alertou Cosenza. 

 

Emocionado, o presidente da Fisenge, Roberto Freire lembrou da época de fundação da Federação participando das lutas ao lado de Cristina, Zezé, Alméria. “Lembro de uma ocasião, da época da criação da Diretoria da Mulher, que Simone iria defender a proposta no Consenge. Como estratégia para facilitar a aprovação, eu me ofereci para defender as propostas. Foi uma dificuldade enorme para ter voz e voto na diretoria, mas conseguimos e o que vemos hoje é fruto de nossas lutas coletivas. O século das mulheres está mais presente do que a gente imagina. Avante, mulheres e homens da classe trabalhadora”, concluiu Freire.

 

Em seguida, a professora Cládice Diniz, que também representou a ABEA, relembrou quando se filiou ao sindicato de engenheiros. “Em 1978, entrei no sindicato de engenheiros em um momento de intervenção militar e aqui reverencio a memória da engenheira Elsa Parreira que foi presa pela ditadura. Há décadas não conseguíamos fazer um grupo de mulheres e, agora, temos o Coletivo que é uma conquista”, disse. 

 

A presidente da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Mercedes Bustamente, enviou um vídeo de saudação reforçando a importância de iniciativas que promovem a inserção de mulheres nas exatas, nas ciências e nas pesquisas. Em seguida, a conselheira federal, Carmen Petraglia ressaltou a ascensão e liberdade da mulher no país e destacou o trabalho incessante do Coletivo nas profissões de toda área tecnológica.

 

Marlene Miranda, secretária estadual de mulheres da CUT-RJ, reconheceu a importância de mulheres engenheiras fazerem política sindical num ambiente com maioria de homens e que fazem sem estarem liberadas do trabalho. Já Débora Candeias, coordenadora do programa mulher do Crea-RJ, pontuou a luta pelos direitos, ao trabalho decente, à maternidade e em busca de uma sociedade justa. “Hoje, eu tenho 45 anos e quando eu ouvi a Cládice dizer que entrou há 45 anos, pensei: ‘eu estava nascendo e ela já estava na luta’. E vejo muitas mulheres aqui de cabelo branco e a vocês agradeço porque são inspiração para muitas que virão”, afirmou. A engenheira, Marcia Nori, primeira coordenadora do Coletivo de Mulheres da Fisenge e atual presidente do Senge-BA, contextualizou a história de luta das mulheres na engenharia. “Tantas vieram antes de nós que inspirou o Coletivo de Mulheres. Hoje, comemoramos uma história de lutas, com destaque para Alméria Carniato que já trazia essa discussão”, rememorou.

 

Um conjunto de parlamentares enviou saudações em vídeo, dentre elas: as deputadas estaduais Elika Takimoto, Marina do MST, Renata Souza e Veronica Lima; e a vereadora Luciana Boiteux.

 

Antes de encerrar o dispositivo de honra, a engenheira agrônoma, ex-diretora da Fisenge e atual diretora administrativa da Mútua, Giucelia Figueiredo, recebeu uma placa de homenagem e um diploma de louvor e reconhecimento do Coletivo de Mulheres da Fisenge. Giucelia é uma mulher comprometida com a classe trabalhadora desse país, por mais mulheres na política e na construção de um Brasil justo, soberano e democrático. Engenheira agrônoma formada pela Universidade Federal da Paraíba, Giucelia foi a primeira mulher presidente do CREA-PB, reeleita por dois mandatos consecutivos, foi diretora da Fisenge e a primeira mulher a dirigir, na Paraíba, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), além da coordenadoria nacional das superintendências federais do ministério da agricultura. Atualmente, Giucelia é diretora administrativa da Mútua Nacional, sendo hoje a única mulher na atual gestão.

 

“Hoje é um momento de celebração. A nossa Fisenge é uma precursora do debate de gênero no Sistema e nas entidades, promovendo um recorte que vai além com a luta das engenheiras e pensa as mulheres na sociedade, como trabalhadoras, pesquisadoras e cientistas. Continuem sendo rebeldes, pois a rebeldia é necessária na busca de outra sociedade. Temos que defender a democracia diariamente. Embora estejamos em uma normalidade institucional, isso não significa área de conforto. As nossas vozes têm que ecoar. Convivemos com altos índices de violência e feminicídio. São as nossas vozes de movimentos sociais e sindicais que impulsionam o governo federal para garantir governabilidade, participação popular e alcançar conquistas históricas”, disse Giucelia.

 

Por fim, a engenheira e diretora da Mulher da Fisenge, Virginia Brandão ressaltou que a noite era uma comemoração dos 10 anos de vida da Engenheira Eugênia. “Falo vida, porque esta personagem, que representa a mulher engenheira com sua vida cotidiana e seus problemas mostra as convicções e opiniões deste Coletivo transmitindo para a sociedade de forma lúdica, pedagógica e simples as nossas aflições, os nossos anseios, as nossas lutas por direitos e assim ela se faz viva. Não falamos somente de problemas estritamente femininos, mas também da categoria profissional, da nossa atitude como cidadã, como brasileiras na construção de um projeto de nação soberano, democrático e igualitário”, pontuou a engenheira.

 

Virginia agradeceu ao apoio do presidente da Fisenge, Roberto Freire e de todas as integrantes, titulares e suplentes, do Coletivo de Mulheres. “A nossa luta não começou agora. Foram muitas as mulheres que abriram os caminhos para que estivéssemos aqui hoje. Lembro de Maria José Salles, Cristina Sá, Alméria Carniato e tantas outras. Esperamos que as sementes do Coletivo de Mulheres da Fisenge inspirem mais engenheiras e mulheres nas lutas”, finalizou. 

 

Em seguida, a engenheira química, ex-diretora da mulher da Fisenge, Simone Baía e diretora do Senge-ES, realizou uma palestra sobre a história das mulheres na engenharia. Além de falar sobre o histórico do Coletivo, Simone lembrou das primeiras mulheres ingressantes na engenharia registradas na história. “A primeira escola de engenharia no Brasil foi fundada em 1810 e primeira mulher a se formar, Edwiges Maria Becker, em 1917. E apenas em 1945 a primeira mulher negra formada em engenharia, Enedina Alves. E é importante falar das engenheiras militantes como Carmen Portinho, sufragista pelo voto feminino e pela construção de habitações de interesse social; além de Elsa Parreira e Maria Elisabeth Marinho, lutadoras contra a ditadura civil-militar e em defesa da democracia”, explanou.

 

Homenagens

 

Foram homenageadas com o Troféu Engenheira Eugênia o Programa Fiocruz Mulheres e Meninas na Ciência que foi representado por Cristina Araripe e Maria José Salles; a Ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, que foi representada por Janaína Prevot, diretora administrativa da FINEP; e a engenheira Alméria Carniato, a primeira mulher presidente do Sindicato dos Engenheiros da Paraíba. 

Com placas de homenagens e diplomas foram homenageados o presidente da Fisenge, Roberto Freire e o ilustrador e cartunista, Julio Paternostro.

Confira abaixo a carta de Alméria Carniato:

Queridas Companheiras, boa noite!

Inicialmente venho agradecer pelo honroso convite para participar deste momento tão solene de nosso Coletivo de Mulheres da FISENGE. No entanto, apresento minhas desculpas por não poder me fazer presente devido ao problema de saúde que me impossibilitou de viajar.

Os 15 anos dessa noviça rebelde, que é esse coletivo de Mulheres da FISENGE, têm sido uma trajetória movida através de muita rebeldia, ousadia, determinação, coragem e luta.

Fazemos parte de uma categoria onde predomina muito os nichos machistas, inclusive expresso na maioria de nossas entidades de classe, principalmente quando se trata de instância poder. O que só vem confirmar a necessidade de formação política dentro de nossa luta cotidiana. Avançamos, mas temos muito a avançar. No momento, estamos vivendo um grande desafio que é o restabelecimento da democracia e o resgate de nossas conquistas anteriores. Se o Brasil voltou é porque as mulheres nunca saíram das ruas. Estivemos no ELE NÃO, em defesa da nossa presidenta Dilma, contra as reformas trabalhista e previdenciária, no 8 de março, na marcha das mulheres negras. Nunca saímos das lutas.

Estamos sendo chamadas a integrar a fileiras da luta conta a desigualdade de gênero que, de forma generalizada, perpassam por todos os níveis socioeconômico de desenvolvimento e se refletem em discriminação em todas as áreas com reflexo principalmente na autonomia e liberdade das mulheres O fascismo se expressa de muitas formas, inclusive pelo racismo, pela LGBTQIAfobia, pela misoginia, pelo classismo. Precisamos assumir que a classe trabalhadora não é neutra em gênero e raça e precisamos acumular essa síntese em nossas lutas do campo da esquerda e do movimento sindical.

Como é bom saber que este coletivo de mulheres da FISENGE está comprometido e preparado para o enfrentamento desse desafio junto com os movimentos sociais e nas ruas

Parabéns Companheirada!  O nosso lema é: Lutar e resistir…Lutar e ousar…..Lutar e vencer sempre… Desistir jamais….

Assista ao evento completo através do nosso canal no YouTube: