O Clube de Engenharia abriu espaço para a discussão, relevante e urgente, da democratização dos meios de produção e difusão de conteúdos, ideias e vozes, hoje ausentes no discurso hegemônico da grande mídia brasileira (Imagem: Pixabay). O evento integrou a programação da Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, com debates, palestras e atos em todo o país.
Realizado em parceria com o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação; Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social; e movimentos sociais, o debate levantou questões como as concessões públicas de canais de TV e rádio e suas regras condicionantes e a regulamentação das rádios comunitárias, entre outros importantes temas em discussão.
Integraram a mesa Fabiana Batista, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST, Julia Bustamante, representante do Comitê Popular Copa e Olimpíadas, Marcelle Decothé, militante do Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, Gustavo Gindre, do Intervozes, e o diretor técnico Marcio Patusco, chefe da Divisão Técnica de Eletrônica e Tecnologia da Informação (DETI), representando o Clube de Engenharia. Patusco abriu o evento lembrando a importância de receber os debates da sociedade civil. “O Clube convive e participa ativamente das questões sociais e campanhas da sociedade, desde a abolição da escravatura, passando pela criação da Petrobras, até as Diretas Já e está disposto a atuar nas ações pela democratização da comunicação no Brasil e junto à Frente Ampla pela Liberdade de Expressão no Rio de Janeiro”, afirmou.
Vozes da periferia
As dificuldades enfrentadas pela juventude negra da periferia; a ausência das vozes desses jovens nos meios de comunicação de massa no Brasil e o relatório produzido pelo Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro foram as questões centrais da apresentação de Marcelle Decothé. Segundo ela “com o processo de pacificação, a militarização é mais explicita e justificada por uma grande mídia que diz que não existe racismo no Brasil. O relatório produzido pelo Fórum, sobre os comunicadores comunitários das favelas indica que a repressão à atividade dessas pessoas foi e está sendo cruel. Um morador não pode pegar um celular e filmar nada, mas a grande mídia entra e mostra seu ponto de vista único. Eu entro na internet e vou nos espaços do Maré Vive, nas mídias alternativas do Alemão, que crescem e se fortalecem. O relatório apontou o que acontece no território e também o olhar desse jovem. Representatividade importa. O impacto desse relatório é o fortalecimento desse olhar e desse espaço de debate que trazemos aqui hoje”.
O alerta para a necessidade de buscar alternativas a esse discurso hegemônico da grande mídia foi o clamor que Fabiana Batista fez ecoar. “Em qualquer lugar do interior do Brasil, qualquer televisão tem acesso a grande mídia, mas não tem espaço para outras visões”, e citou os meios de comunicação independentes produzidos pelos comunicadores do MTST, como o jornal O Formigueiro, e o vídeo-blog que está sendo lançado pelo movimento, que denuncia a especulação imobiliária. “Quem pensa que o trabalhador e o pobre da favela aceita qualquer informação que recebe está enganado”, concluiu.
Comunicação mais democrática e plural
Com a expectativa das Olímpíadas, Julia Bustamante fez questão de esclarecer que “não somos contra o esporte e sim contra o fato de que o poder público, a especulação imobiliária e a militarização são os grandes vencedores das olimpíadas. “Os jogos aceleram este modelo de desenvolvimento e um projeto de cidade para inglês ver, uma cidade de uma periferia oprimida, que não cabe nesta bela foto. Os jogos vendem a imagem da cidade e privatizam seus espaços. Os interesses privados capturam totalmente os eventos. É importante disputar esses recursos para serviços públicos para a cidade que não está no cartão postal, onde metade das escolas não tem quadra esportiva, nem professor de Educação Física. Nosso parque de atletismo foi demolido, nosso parque de remo virou um shopping e a Marina da Gloria foi privatizada. Questões não encontram visibilidade nos grande meios de comunicação de massa convencionais”.
Sobre as concessões públicas de canais de rádio e TV, Gustavo Gindre defendeu a luta pelos canais de concessão pública. “Não podemos assumir que perdemos estes espaços e nos colocarmos apenas na mídia alternativa, na página do Facebook, no site da Instituição. Precisamos pensar que os canais de TV são nossos, precisamos no mínimo pautar o debate. A pauta da mídia alternativa é fundamental. Precisamos nos apropriar das ferramentas e do discurso, do direito a voz, e ampliar para o âmbito das políticas públicas, da Comunicação como direito humano que o Estado deve garantir. Esta dimensão não pode ser perdida de vista”.
Um rico debate com a participação do público presente encerrou o evento deixando claro que, como disse Gustavo Gindre, trata-se de tema fundamental e urgente, mas ainda colocado como pauta secundária pelas instituições constituídas, o que demanda reflexão e discussão por parte da sociedade civil. “Debate este, afirmou, que deve prosseguir e ampliar seu alcance por uma comunicação mais democrática e plural no país”.
Fonte: Clube de Engenharia