Milhares de desabrigados, centenas de feridos e mortos. Este foi o resultado de uma das maiores catástrofes naturais ocorridas no país, em janeiro deste ano. Dezembro e janeiro se tornaram meses de apreensão, devido às chuvas torrenciais. Em 2010, tivemos deslizamentos e alagamentos em Niterói e em determinadas regiões do Rio de Janeiro e, em 2011, a região serrana é atingida. As chuvas não deram trégua e sua força causou desabamentos, destruição e mortes. Diante destas cenas trágicas, milhares de brasileiros se mobilizaram em uma ampla rede de solidariedade, desde mão-de-obra até donativos e doação de sangue.
Embora seja fundamental este movimento solidário, é preciso questionar e discutir questões centrais, como por exemplo: a especulação imobiliária desenfreada; construções irregulares em terrenos que atentam contra a vida; falta de saneamento básico adequado e universal; entre outros inúmeros problemas. No entanto, tais situações não são fruto de um ou outro governante. A questão é muito mais complexa e tem como pano de fundo a própria história deste país. No Rio de Janeiro, por exemplo, as favelas e as denominadas áreas de risco sugiram após o processo de higienização promovido por Pereira Passos, que retirou dos trabalhadores negros o direito à cidade, formando assim as primeiras favelas nos morros. Além disso, incorremos no processo histórico da expulsão dos trabalhadores rurais do campo, ou então no próprio processo acelerado de empobrecimento das populações urbanas, agravado a partir da década de 1990 e esquecido pelo poder público.
A História se repete, haja vista a cobertura dos meios de comunicação na região. Quando tratamos de regiões mais pobres, facilmente a culpa recai sobre a própria população, já que estas pessoas são apontadas como culpadas por morarem em áreas de risco. Mas, quando se trata de regiões mais abastadas, a história muda de maneira discrepante: o noticiário discute política pública. A diferença de tratamento da informação é um reflexo social do próprio processo histórico.
Conquanto temos avançado, mas ainda precisamos enfrentar a especulação imobiliária e oferecer moradias dignas à população e o direito à cidade. Assistência técnica gratuita, acesso às políticas sociais, mobilidade urbana e habitação digna são apenas alguns elementos de uma verdadeira reforma urbana. Nós, engenheiras e engenheiros, temos a tarefa de contribuir com técnica, formação profissional e social e, principalmente, com o debate e com o momento de transformação pelo qual estamos passando e desejamos avançar ainda mais.