Redução do formulário aplicado atende a pedido de Paulo Guedes, mas deixa prejuízo em entendimento da realidade do país.
Pesquisa perderá critérios importantes para definição de déficit habitacional / Luís Correia/PI
Foi anunciado nesta terça-feira (2) o questionário do Censo Demográfico de 2020 que será apresentado em 90% dos 71 milhões de domicílios brasileiros em 2020 com 26 questões — os 10% restantes terão um questionário mais completo, que teve 36 das suas 112 perguntas cortadas. As principais omissões estão nas questões relacionadas a renda, moradia, aluguel e emigração.
O corte de questões é preocupante, apontam servidores e especialistas, pois quebra séries históricas de dados e informação sobre o povo brasileiro, que servem para entender o país e orientar a formulação de políticas públicas.
O tema está em debate desde as críticas feitas por Paulo Guedes, ministro da Economia, que determinou “cortes de gastos” nas pesquisas. Susana Cordeiro Guerra, que assumiu a presidência do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) na gestão Bolsonaro, pediu redução de 25% do valor do Censo.
Por mais que a presidenta diga que não haverá perda na qualidade, diversos técnicos do IBGE criticam a medida e muitos outros já pediram exoneração por conta das mudanças. Servidores, reunidos no Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (Assibge) dizem que os cortes impactarão na qualidade da pesquisa, especialmente na questão de déficit habitacional e na fórmula para projetar o crescimento populacional.
Confira abaixo alguns dos cortes principais, a partir da análise de Rogério Barbosa, sociólogo, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM):
Trabalho
Apenas o trabalho “principal” será perguntado. Não será mais possível o número de horas trabalhadas por pessoa por domicílio nem saber se o menor número de horas será por conta das mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) ocasionadas pela reforma trabalhista, tampouco saber se aumentaram os trabalhos de tempo parcial e intermitente criados pela reforma trabalhista.
Fecundidade
Não haverá mais detalhamento de sexo dos nascidos vivos e retiraram todas perguntas sobre natimortos, assim como o estado civil.
Educação
Foi retirada a questão sobre se a escola frequentada por quem está em idade escolar é pública ou particular.
Emigração
Realizada apenas em 2010, a emigração internacional não será mais perguntada. IBGE alega que dados da Polícia Federal dão conta dessa apuração, mas as parcerias ainda não estão firmadas.
Caracterização do morador
Não se perguntará mais se há mais de um responsável no domicílio, mas houve um ganho: incluiu-se uma categoria nova sobre quilombolas.
Moradia e déficit habitacional
Esse bloco teve o maior número de cortes. Não haverá mais perguntas sobre iluminação elétrica, material do piso da habitação, tipo de habitação (casa/apartamento/etc), sobre a propriedade do terreno e valor do aluguel.
A questão da propriedade do terreno é significativa especialmente para áreas vulneráveis, como favelas, onde muitas vezes as casas são dos moradores mas o terreno não. O aluguel também é importante pois ajuda a calcular o déficit habitacional, feito a partir do número de pessoas que dedicam mais de ⅓ do seu salário ao pagamento do aluguel.
Bens duráveis
Não se perguntará mais se há geladeira, rádio, televisão, telefone fixo e celular, automóvel, motocicleta e microcomputador nas residências. Essas questões são importantes para estabelecer o perfil socioeconômico e de consumo das famílias brasileiras.
Fonte: Brasil de Fato / Edição: Pedro Ribeiro Nogueira