Caça às bruxas no Cepel continua: Agamenon Oliveira, diretor do Senge RJ, é o terceiro militante da ASEC afastado no último ano

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Após 50 anos de carreira reconhecida no setor elétrico nacional e internacional, Agamenon Oliveira, diretor executivo do Senge RJ e ex-presidente do sindicato e da Associação de Funcionários do Cepel (ASEC), foi suspenso, por e-mail, de suas atividades laborais no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL) da Eletrobras privatizada.

Com uma longa vida de militância e atuação na defesa de direitos de trabalhadoras e trabalhadores, Agamenon integrou incontáveis projetos sem nunca ter vivido nada parecido. Segundo a diretoria do Cepel, o desligamento temporário teria como base uma denúncia de “falta grave por mau procedimento”. O próprio Agamenon não foi escutado antes ou depois da decisão; em procedimento totalmente unilateral, o documento de acusação não abriu qualquer chance de esclarecimento ou defesa.

A suspensão de Agamenon é mais uma peça em um grande quebra cabeças que vem sendo montado pela administração privada da Eletrobras, vendida por Bolsonaro, agora administrada efetivamente pelo grupo 3G, de Paulo Lemman, nome de destaque em uma das maiores fraudes contábeis da história do país, no caso Americanas.

Chegam das subsidiárias – destacadamente de Furnas, que corre o risco de desaparecer completamente – inúmeros casos de assédio pesado dos representantes da nova diretoria sobre os funcionários. Os movimentos de trabalhadores(as) apontam que sindicalistas costumam ser alvo preferencial da nova gestão.

No último ano, Eduardo Allan, diretor da ASEC, e a presidente da associação, Heloisa Furtado, foram demitidos sumariamente pelos mais variados motivos subjetivos, como idade, salários altos e incompetência. Em contraste com a realidade, no entanto, as alegações não se sustentam. No mês de sua demissão, Heloisa, por exemplo, havia ganho prêmio Inovação das Empresas Eletrobras, com o projeto “Avaliação de Integridade de Turbinas de Geração Termelétrica a partir da monitoração e modelagem matemática”. Premiada com o primeiro lugar na categoria Eficiência de Ativos da Geração, Heloisa não pôde comparecer à cerimônia porque foi desligada da empresa. Ela gerenciava quatro projetos quando foi demitida.

Desmonte em curso

As demissões de quadros experientes, nacionalmente reconhecidos por sua longa contribuição para a construção do sistema elétrico brasileiro, tem sido uma das frentes do projeto financista da Eletrobras privatizada. O desmonte acontece, também, pelo corte de recursos, encerrando laboratórios e linhas de pesquisa e aplicando métodos de gestão focados na resolução de problemas a curto prazo, em detrimento da busca por financiamentos das pesquisas e manutenção do centro.

Na sexta-feira, dia 06, quando, ironicamente, é comemorado o Dia do Sindicalista, a intersindical Interfurnas publicou nota de repúdio destacando que “todos que conhecem Agamenon sabem que as alegações da empresa não condizem com a personalidade de Agamenon e, claramente, trata-se de uma conduta antissindical da diretoria do Cepel, como evidenciam os fatos referidos, e que nega direitos, engana e persegue trabalhadores(as), artifício que vem sendo adotado por todas as diretorias das empresas da Eletrobras pós-privatização, visando fragilizar a luta por direitos trabalhistas e justiça aos trabalhadores(as)”.

Leia abaixo a nota de repúdio assinada pelo coletivo, que congrega, além do Senge RJ, o SINTERGIA-RJ, SINDEFURNAS, STIEESP, SINERGIA/CAMPINAS, STIU-DF, STIEENNF, STIEPAR, SINEFI-PR, SINERGIA-ES, SINDEL, SINDUR, SENGE RJ, SINAERJ e ASEF, ou clique aqui para baixar o documento.

 

NOTA DE REPÚDIO DA INTERFURNAS
À SUSPENSÃO DE AGAMENON OLIVEIRA

“A pesquisa que constrói o futuro”. É com esse mote que a diretoria apresenta o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), criado em 1974.

No entanto, o que vemos sob a atual gestão do Cepel é a “precarização do futuro e a tentativa de destruição do passado.”

Destruição do passado do próprio Centro, cuja relevância no campo das pesquisas de energia elétrica tanto produziu, inovou e fomentou para o futuro energético nacional e vem sendo desmontado e sucateado. E total desprezo aos antecedentes e a memória técnica do Centro de Pesquisa.

A nova investida da diretoria foi contra um dos quadros mais respeitados nacionalmente na área de pesquisa: Agamenon Oliveira.

Agamenon Oliveira é Doutor em Engenharia Mecânica e em História da Ciência e da Tecnologia. Professor da Escola Politécnica da UFRJ desde 1976, pesquisador do Cepel desde 1982, ou seja, quase 50 anos dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento de conhecimento na área de energia. Tem 115 trabalhos científicos publicados no Brasil e no exterior, 2 livros publicados na área de energia, 2 livros editados e um livro traduzido. É membro de várias entidades internacionais, como o IFToMM, a maior Federação de Engenharia Mecânica do mundo e faz parte do corpo editorial de várias revistas científicas.

Mas esse currículo com respeitáveis títulos e reconhecida capacidade técnica não vale nada para a atual gestão do Cepel “focada em desenvolvimento estratégico”. A gestão está focada em outro título de Agamenon: Diretor Executivo do Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro (Senge/RJ). O foco é silenciar e desenvolver perseguição àqueles que lutam pelos direitos dos trabalhadores(as) que vêm sendo vitimados pelos desmandos da tal gestão.

Doutor Agamenon foi suspenso de suas atividades laborais sob alegação de “falta grave por mau procedimento” que, segundo a direção, será investigada em processo de apuração, durante o qual Agamenon estará afastado do Cepel. Primeiro foi Heloisa Furtado, presidente da ASEC, depois Eduardo Allan, diretor da ASEC e agora Agamenon, também ex-presidente da ASEC.

Todos que o conhecem sabem que as alegações da empresa não condizem com a personalidade de Agamenon e, claramente, trata-se de uma conduta antissindical da diretoria do Cepel, como evidenciam os fatos referidos, e que nega direitos, engana e persegue trabalhadores(as), artifício que vem sendo adotado por todas as diretorias das empresas da Eletrobras pós-privatização, visando fragilizar a luta por direitos trabalhistas e justiça aos trabalhadores(as).
Não toleramos atos antissindicais e perseguições. Todo apoio à Agamenon Oliveira e nosso total repúdio à sua suspensão!

Interfurnas


Texto: Rodrigo Mariano/Senge RJ