Boletim Coletivo de Mulheres: Entrevista Giucelia Figueiredo

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Primeira mulher a: presidir o Diretório Acadêmico do curso de agronomia, na UFPB/Areia,  dirigir a Superintendência Federal de Agricultura na Paraíba, a coordenar a Coordenadoria Nacional das Superintendências de Agricultura, a dirigir a Delegacia Federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário na PB e a primeira mulher a presidir o Conselho de Engenharia e Agronomia – CREA/PB. Giucelia Figueiredo está acostumada a quebrar tabus em sua trajetória política. Nesta entrevista, ela conta como superou preconceitos e as dificuldades por ser mulher.

– Quando você optou pela engenharia, uma profissão de maioria masculina pensou alguma vez em desistir por ser mulher?
Sinceramente, não! Eu tive a sorte de ter acesso logo nos primeiros dias de universidade, a um grupo de estudantes que militavam no movimento estudantil, possibilitando dessa forma a compreensão política do que representava ser minoria e que a participação política era a principal forma de ocupar espaço e se fazer presente.

– Já sofreu muito preconceito na sua vida profissional por isso?
Quando participei da minha primeira entrevista profissional, tomei conhecimento de que a empresa preferia profissionais do sexo masculino , mas não me intimidei , fui aprovada. Ao longo da minha carreira profissional, digamos que quebrei vários paradigmas ao ocupar espaços de decisão: fui a primeira mulher a dirigir a Superintendência Federal de Agricultura na PB; a primeira mulher a coordenar a Coordenadoria Nacional das Superintendências de Agricultura; a primeira mulher a dirigir a Delegacia Federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário na PB; primeira mulher a presidir o Conselho de Engenharia e Agronomia – CREA/PB. A ocupação desses espaços representou e representa uma luta diária contra o preconceito ainda existente com a presença das mulheres nos espaços de decisão. É preciso mostrar diariamente que somos competentes. É uma boa luta, vale a pena!

– Como você entrou para o movimento sindical? Conte um pouco sobre a sua experiência.
Como vinha de uma forte atuação no movimente estudantil – esqueci de contar, mas fui a primeira mulher a presidir o Diretório Acadêmico do curso de agronomia, na UFPB/Areia – a minha participação e consciência política já me induzia a continuar na militância num outro patamar a militância sindical, com foco na participação e organização profissional, entendendo que só através do Sindicato podemos lutar pela valorização profissional e nossa dignidade salarial, sem esquecer a defesa por uma sociedade justa fraterna e igualitária, onde homens e mulheres tenham direitos e oportunidades iguais.

– Na eleição para o CREA-PB houve preconceito de gênero? Como foi?
Como citei anteriormente, sou a primeira mulher a concorrer e ganhar a presidência do CREA/PB. Uma disputa acirradissima, onde vivenciei momentos de pura discriminação, mas também de solidariedade e reconhecimento de toda uma trajetória dedicada à organização e valorização da nossa categoria. Encarei com naturalidade política as “manifestações” de preconceito, pois uma instituição criada há 46 anos, sob o domínio do sexo masculino, teria que passar necessariamente por uma transição. O fato de termos eleito a primeira mulher Presidente do Brasil, nos ajudou muito no debate de gênero e também na necessidade de que precisávamos enquanto Conselho avançar ao encontro das mudanças que estão ocorrendo nos país e na sociedade, venceu o bom debate!

– Como você vê a participação da mulher no movimento sindical?
A participação da mulher no movimento sindical é expressiva, mas ainda aquém do nosso potencial. O que me angustia é a participação específica no movimento sindical dos engenheiros, precisamos cada vez mais ousar, insistir, para que as mulheres engenheiras compreendam o quanto pode ser prazeroso a participação sindical, o quanto é importante para o nosso crescimento profissional e social.
Faz-se necessário investir nas atividades de base, buscando construir espaços temáticos que possam atrair as mulheres engenheiras à participação.

– E as perspectivas futuras? Percebe que a predominância masculina está mudando? É mais fácil para uma mulher ser engenheira nos dias de hoje?
Com certeza, o país está mudando, a sociedade está mudando.  A Engenharia Nacional está nesse contexto de mudanças sociais pelas quais passa o nosso país. Estamos vivenciando mudanças significativas de valores e paradigmas, a mulher começa a tomar pra si as rédeas do seu destino, a ocupar espaços cada vez mais significativos, espaços de decisão. Mas, reafirmo: estamos aquém do nosso potencial, precisamos cada vez mais participar, organizar, intervir, buscando a construção de relações profissionais iguais e fraternas.