Por Henrique Luduvice
Em recentes eventos, realizados sob as coordenações de influentes e renomadas instituições financeiras, analistas econômicos apresentaram a clientes e investidores as perspectivas do Brasil para o ano em curso.
Nas telas, gráficos e textos compartilhados há consensos de que o País tende a crescer a taxas maiores que as já divulgadas durante o ano de 2024, que a inflação brasileira está sob controle, a moeda nacional encontra-se firme com ligeira tendência de valorização, o déficit público negociado entre o Governo e o Congresso Nacional, visando atender circunstâncias prementes de cidadania e funcionamento do Estado, foi bem absorvido pelo mercado. Ressaltou-se que investimentos foram retomados e que a Bolsa de Valores tende a manter o viés de alta iniciado no ano anterior, embora com alguns ajustes em sua trajetória.
Tais avaliações atestam, ainda, que o contexto internacional também se descortina favorável, tendo em vista os aspectos positivos que se estabelecem, neste exato momento, nas economias de Nações como EUA e China, que impactam positivamente o cenário mundial, particularmente o Brasil.
Nem mesmo os atuais conflitos bélicos que persistem em determinadas regiões do planeta, à revelia das inúmeras recomendações dos fóruns internacionais, causando destruições ambientais, milhares de mortes humanas e expressivos danos materiais em infraestruturas, cidades e regiões, abalam, até o momento, essas convicções.
Embora discorrendo sobre o Brasil e situando a Nação em um cenário econômico confortável e alentador, registre-se que tais reflexões se aprofundam apenas em relação as expectativas sobre aplicações e rendimentos de determinados segmentos sociais, as possíveis diversificações de carteiras, taxas de retorno, bem como alternativas de fundos e aposentadorias, entremeadas por severas críticas ao Estado e aos Governos. Em todos os níveis. Independentemente de suas ações e desempenhos nas diversas áreas e setores.
Nesses fóruns, ataca-se sistematicamente os gastos públicos, ainda que democraticamente discutidos e aprovados por respeitáveis entidades não governamentais e pelos representantes eleitos da sociedade. Mesmo que para atividades fundamentais que visam eliminar a fome e elevar as condições de sobrevivência, além de restaurar o orgulho, a confiança, assim como a própria integridade de fragmentos da população brasileira, seriamente abalados por um ideário econômico que descartava a cidadania como um valor a ser continuamente perseguido.
Em nenhum instante tais exposições se debruçam sobre o gigantesco passivo do país para com expressivas parcelas de seus habitantes. Não se aborda as demandas e carências dos setores menos favorecidos e a necessidade de intervenção do Estado, em parceria com o mercado, visando equacioná-los. Não se realiza quaisquer observações mais elaboradas sobre as causas desses problemas ou de como contribuir para solucioná-los. Nem como oportunidade para empreendimentos específicos. Impressiona o quase total alheamento em relação a esta realidade fática, além de um visível descompromisso com os destinos de significativos contingentes do povo brasileiro.
Verifica-se, ainda, um total desinteresse em descrever eventuais méritos do atual governo federal. Em razão disto, descartam de seus quadros, tabelas e diagramas, dentre outros elementos que alavancam as performances, os naturais resultados propiciados por recursos destinados à educação, saúde, segurança públicas e agricultura em volumes adequados, a crescente movimentação da indústria do varejo causada pelos programas de renda mínima que combatem a miséria e a indignidade pátrias, os novos investimentos em infraestrutura, pesquisa, ciência, tecnologia e inovação que, além de impactar positivamente a engenharia nacional e suas inúmeras esferas de influência, geram perspectivas, melhores empregos e constroem possibilidades de novos ciclos de inclusão produtiva.
Nada se destaca em relação a atual liderança do Brasil no âmbito do G20 ou de sua influência nos BRICS. Não são prospectadas possíveis influências na ampliação deste último no mercado produtivo nacional, oportunizando perspectivas para os empreendedores no País. Não se realça sequer as novas propostas de ação do BNDES e Caixa em prol do impulsionamento do desenvolvimento nacional. Nenhuma opinião de empreendedor brasileiro ou empresa de capital nacional receptora de recursos é mencionada. Quando existem citações, abrem-se aspas apenas para alguns de dimensão global, sempre com perfis conservadores ou dominantes e sem compromissos com o Brasil.
Desconsidera-se, também, nessas exposições, as iniciativas do Estado voltadas para o estabelecimento da igualdade entre os diferentes de quaisquer ordens, independentemente de suas opções em todos os sentidos, que impactam positivamente o ambiente de negócios. Em resumo, quase nenhuma empatia com as ações de um governo democraticamente eleito ou com os temas econômicos e sociais que elevam o bem-estar, a autoestima, a inclusão e, inclusive, a produtividade de relevantes contingentes da população do Brasil. Nada se comenta sobre as responsabilidades do Brasil em assegurar perspectivas para suas futuras gerações.
Finalizando, inevitável se faz rememorar que as nações tratadas como referências nesses encontros econômicos investiram, durante as últimas décadas ou séculos, vultosas quantidades de suas riquezas na capacitação e qualidade de vida de diversas gerações de seus compatriotas. E, enfatize-se, tais dispêndios nunca foram rotulados como gastos, desperdícios ou excesso de Estado.
Henrique Luduvice, engenheiro civil, ex-presidente do Crea-DF e ex-presidente do Confea