Estudo mostra migração de trabalhadores com nível superior para empregos que não exigem qualificação. Para a CUT, política recessiva do governo é responsável pela falta de oportunidade aos jovens no mercado.
Foto: Roberto Parizotti
Mergulhado em uma crise recessiva que estagnou a economia, com altos índices de desemprego, o Brasil não está se mostrando um país promissor para os jovens. É cada vez mais comum trabalhadores e trabalhadoras com formação superior ocuparem as vagas do mercado de trabalho que exigem menor qualificação. Não é raro se deparar com um engenheiro que é obrigado a ter de trabalhar no Uber para pagar as contas.
Aproximadamente 44% dos jovens entre 24 e 35 anos com diploma de faculdade estão nessa condição. Em 2012, a taxa era de 38%, segundo levantamento divulgado nessa quarta-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com base nos dados do quarto trimestre de 2018.
“Um ciclo se rompeu”, avalia Graça Costa, secretária de Relações do Trabalho da CUT. Ela explica que durante os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma, o Brasil criou condições para que milhões de brasileiros e brasileiras tivessem acesso ao ensino superior por meio de programas como o ProUni e o Fies e mais oportunidades no mercado de trabalho em funções mais qualificadas.
“Porém, a crise e as medidas recessivas do governo, como a aprovação da terceirização irrestrita, a reforma Trabalhista e o congelamento dos investimentos públicos por 20 anos, jogaram o país na recessão e, com isso, a política de geração de empregos de qualidade para esses jovens foi interrompida”.
A dirigente destaca, ainda, que a reforma Trabalhista trouxe outras formas de contratação que precarizam as relações de trabalho, como o contrato parcial, intermitente e a contratação de Pessoa Jurídica, os chamados PJ’s, caso em que o trabalhador tem de abrir um CNPJ para ser um ‘fornecedor’ da empresa, abrindo mão de seus direitos.
“E os jovens e as mulheres são os primeiros a serem atingidos pelas consequências da precarização. Eles são os primeiros a serem demitidos e submetidos a novos contratos precários de trabalho”, afirma Graça.
A pesquisadora e técnica do Ipea, Maria Andrea Lameiras, aponta para uma outra consequência da crise que atinge o mercado de trabalho e afeta a inclusão dos jovens escolarizados. Segundo ela, as vagas que historicamente são ocupadas por trabalhadores de menor qualificação acabam sendo preenchidas por quem tem formação superior e os trabalhadores sem escolaridade acabam sofrendo com o desemprego ou a informalidade.
“Os trabalhadores formados acabam ocupando vagas de quem não tem escolarização”.
Aumento de escolaridade
A pesquisa do IPEA mostra que o percentual de brasileiros com nível superior passou de 10,2% em 2012 para 13,9% em 2018. Isso significa que o Brasil tem hoje um total de 19,4 milhões de trabalhadores com nível superior. Em 2010, eram 13,1 milhões.
Apesar da inclusão de milhões de jovens no ensino superior, boa parte não consegue vagas no mercado de trabalho na profissão que escolheram estudar. Hoje, 38% dos trabalhadores e trabalhadoras que cursaram a universidade estão exercendo funções de menor qualificação, diz a pesquisadora do Ipea, Maria Andrea Lameiras.
A secretária de Relações do Trabalho da CUT explica que resultado é reflexo da paralisação de diversos setores da economia. “A indústria, que é um setor onde várias atividades exigem nível superior, não cresce desde 2015. Aí, o jovem formado não encontra o trabalho para o qual estudou e tem que se virar de outra maneira”.
A realidade do setor público também é responsável pelo quadro, explica Graça. “A Emenda Constitucional 95, que congelou investimentos públicos, especialmente em saúde e educação, diminuiu consideravelmente o número de concursos. Além disso, com a terceirização, o emprego que deveria seria destinado à mão de obra qualificada desaparece ou se torna precário”.
Pesquisa
A pesquisa sobre os jovens no mercado de trabalho é um recorte do estudo A evolução da população ocupada com nível superior, também do Ipea, feito a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.
Fonte: CUT / Escrito por Andre Accari
Edição: Fisenge