Uma audiência pública no próximo dia 17 de abril na Assembleia Legislativa do Paraná deve apontar possíveis irregularidades no processo de privatização da Copel. Os questionamentos abordam dados inconsistentes em balanço, contratação irregular de assessoria, “venda casada” e assédio moral com os funcionários. Uma reunião no último dia 4 de abril com partidos políticos, movimentos sindicais e sociais aprovou a criação da Frente Popular e Democrática em Defesa da Copel Pública. Também apontou como caminhos mobilização popular e pressão para que o Governo Federal derrube decreto que coloca usinas
à venda da companhia paranaense.
No Paraná, nove partidos se uniram para defender as empresas e interesses paranaenses. Essas siglas devem participar da audiência e levar à população denúncias contra a venda Copel. Entre os questionamentos está o processo apressado e sem discussão de privatização.
“A Copel está para o Paraná, em termos de grandeza, como a Petrobras está para o Brasil. Ela é valiosa e tem uma função social para o estado. Não podemos deixar que ela seja privatizada de uma forma rápida e sem discussão com a sociedade. Está sendo criada uma corporação que foi aprovada em sete dias na assembleia”, criticou Arilson, falando que a Copel pertencerá ao mercado.
Dentro do processo de venda, chama atenção três pontos: o possível beneficiário dessa venda seria o banco Itaú, uma suposta maquiagem contábil e a contratação de uma consultoria por parte da Copel. De acordo com informações, por causa de uma ação, o banco pode receber ações da companhia de energia paranaense. “Isso vai fazer com que o Itaú vire dono da Copel”, sublinha o deputado.
Com relação à suposta maquiagem, o balanço da Copel aponta uma dívida de 2015 em que ela foi condenada em R$ 3,5 bilhões, mas a empresa só registrou no balanço R$ 670 milhões, que eram os contratos da época.
Outro ponto que levanta questionamentos é o fato de a própria Copel contratar uma consultoria para ser privatizada no lugar do Governo do Paraná, que é o sócio majoritário. Em Fato Relevante divulgado no último dia 29 de março, a Copel informou que contratou o BTG Pactual por doze meses “para exercer a função de formador de mercado de suas ações ordinárias (CPLE3), preferenciais (CPLE6) e UNITs (CPLE11) na Bolsa de Valores.
“O Governo do Paraná começou o processo de privatização pela própria Copel. É uma autovenda, o que é irregular. Era o estado que tinha que contratar esse serviço, mas foi a Copel pagando R$ 7 milhões”, informa o deputado.
Intimidação e assédio moral
A mobilização contra a venda da companhia já desperta intimidação e assédio moral contra os funcionários. A Copel entrou com uma ação contra o deputado por questionar o processo de venda e a maquiagem contábil.
Com relação ao assédio, foi informado que a empresa mudou sua posição com relação ao PDI para forçar apoio dos funcionários à venda. Se em mesa de negociação assumiu o compromisso de abrir o processo antes da venda, agora diz que só manterá a demissão incentivada se a empresa for negociada. É o que esclarece o presidente do Senge-PR e representante do Coletivo Sindical da Copel, Leandro Grassmann.
“Quando se fala em Corporation, o que se ouve da boca dos gerentes é ‘já era’, vendeu, acostumem-se e mudem! Os sindicatos, diante da ameaça de venda, tinham negociado um PDI em que as pessoas poderiam se inscrever e, caso a empresa fosse vendida, esse PDI seria aplicado. Era essa a ordem. A Copel já mudou. Agora você só se inscreve se a empresa for vendida. Ou seja, eles usam a força de trabalho para convencer que a empresa tem que ser vendida”, denuncia o dirigente.
O engenheiro também informou que o lucro da Copel “caiu” para fortalecer a versão de que a empresa não é lucrativa, reduzindo a PLR dos funcionários e a perspectiva de longo prazo da empresa. Paradoxalmente, os acionistas ainda continuam recebendo a maior fatia dos lucros. Este ano, aproximadamente 88% de todo lucro.
Pressão popular e política
Uma das etapas da mobilização é a pressão em relação ao presidente Lula para que ele derrube o decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro que colocou as Usinas Hidrelétricas (UHEs) Governador Bento Munhoz da Rocha Neto GBM (Foz do Areia), Ney Aminthas de Barros Braga GNB (Segredo) e Governador José Richa GJR (Caxias) dentro da privatização.
A outra etapa é, na audiência pública, chamar a atenção da população, indústria e comércio que os custos de energia irão subir com a venda e a qualidade da prestação de serviço irá cair. De acordo com dados da ANEEL, as empresas privadas são as que cobram as tarifas mais caras dos usuários. Neste ranking, a tarifa da Copel aparece em 88o lugar.
Fonte: Senge-PR