“A constatação da cultura do silêncio implica no reconhecimento da cultura dominante e que ambas, ao não se gerarem a si próprias, se constituem nas estruturas de dominação. A cultura do silêncio, tanto quanto dominadores e dominados, se encontra em relação dialética e não de oposição simétrica com a cultura dominante”, Paulo Freire
Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam que 42% dos brasileiros já sofreram algum tipo de assédio moral, considerado um grave problema de saúde pública. Assédio moral significa todo e qualquer tipo de depreciação da imagem ou desempenho do trabalhador, em razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica. Tendo em vista o enorme número de denúncias e reclamações, o Coletivo de Mulheres da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) definiu para sua agenda política de 2013 o tema “assédio moral”, intrinsecamente vinculado à dignidade humana e aos direitos dos trabalhadores. No século XXI, temos acompanhando profundas transformações no mundo do trabalho, dentro do capitalismo, o que aumenta a flexibilização das condições de trabalho e aumenta a pressão diária sobre o profissional.
Identificamos, que os casos de assédio moral não somente atingiam as mulheres, como também os homens. Esta, infelizmente, é uma prática comum no mercado de trabalho. E como forma de combate a tais práticas, lançamos a série em quadrinhos “Histórias de Eugênia: mãe, mulher e engenheira”, uma publicação que aborda – de maneira didática – as diferentes práticas de assédio moral e de discriminação. A engenheira Eugênia tem ganhado repercussão nacional e internacional não somente no campo da engenharia, como em outras bases.
O assédio moral, além de humilhação repetitiva, também pode se configurar nos seguintes casos: ameaças constantes de demissão; sobrecarga de trabalho ou negação de informação para impedir continuidade do trabalho, e até mesmo desvio de função sem justificativa; excesso da jornada de trabalho; promoção apenas de homens, mesmo com mulheres que exercem a mesma função, entre outras práticas. Por isso, defendemos a valorização de todos os trabalhadores, em um ambiente de respeito à diversidade e à cooperação. Também é fundamental a criação de ações didáticas, que explicitem os direitos dos trabalhadores quando acometidos por tal prática, e também incentivem a denúncia. O assédio moral traz consequências sérias como o aumento de casos de doenças do trabalho (depressão, síndrome do pânico e outras doenças psicossomáticas).
Também precisamos romper com a naturalização da violência que, muitas vezes, recai sobre a “cultura do silêncio”, ou seja, a opressão é tamanha que as pessoas naturalizam a violência. Somente com informação e denúncia, conseguiremos avançar no combate ao assédio moral.