Artigo: O dia em que perdemos a Amazônia

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Foto: Luis Deltreehd/Pixabay

Francisco Teixeira*

Sobre o artigo recente de Stephen Waltz, aventando a hipótese de uma possível “invasão da Amazônia”, gostaria de ser otimista, mas… não há como!

Já com anterioridade, Pascal Boniface, então assessor chefe de Estratégia Internacional da ONU, em seu relatório “Guerras do Século XXI”, advertia para a imperiosidade de uma intervenção militar na Amazônia, utilizando como base legal a mesma Doutrina de “Soberania Limitada” , utilizada em Kossovo contra a Sérvia em nome dos Direitos Humanos, para “salvar” a Amazônia dos brasileiros. No caso, uma versão do “RtoP” aplicar-se-ia em caráter “universal”, considerando a Amazônia um bem natural da Humanidade.

Disso resultou uma nota de advertência de Aldo Rebelo ao Secretário Geral da ONU e ao voto do Itamaraty, que eu mesmo redigi em grande parte, contra o reconhecimento da autonomia de Kossovo, e contrário a Washington (ficamos ao lado da China, Rússia, Índia, Espanha e Grécia).

Quanto à materialidade física da questão, notemos que:

1. Uma operação transnacional seria, hipoteticamente, feita nos termos da ação britânica contra a Argentina ou, mais concretamente, da Otan+EUA contra a Líbia, em 2011;

2. Tal ataque seria feito por uma tremenda força aeronaval combinada, muito superior em meios de projeção e desdobramento de força;

3. O ataque seria feito em um ponto entre a Baía de São Marcos e o Oiapoque, área notável por acesso e por ausência de meios de defesa;

4. As defesas brasileiras existentes na linha São Marcos – Belém seriam atingidas pelo desdobramento da força invasora a partir de 100-300 quilômetros, com meios aviônicos e missilísticos;

5. Não temos proteção para tal ação, destruídos os meios prévios à aproximação contra São Luís, Macapá e Belém estaria aberta;

6. As comunicações físicas entre o Grande Norte e o Brasil seriam interrompidas e a bacia do Amazonas paralisada;

7. As bases da Otan na Guiana e Suriname seriam acionadas e utilizadas para apoio de C3I;

8. Não temos garantia da postura da Colômbia e de instalações americanas no território colombiano;

9. Ao apossar-se de uma das cidades-portos amazônicas do Brasil, a coalizão invasora exigiria negociações;

10. Os fabulosos recursos humanos e técnicos brasileiros como “Guerra na Selva” teriam que se converter em grupos de guerrilha – para o que estão preparados e podem fazer – e infiltrar-se nas áreas urbanas sob domínio invasor;

11. O Brasil seria submetido a um amplo bloqueio econômico e financeiro, com quebra monetária e paralisia econômica;

12. Ao organizar a Resistência militar, os centros militares em Brasília e Goiânia são alvos de ataques de “decapitação” a partir de Belém e da frota de ocupação;

13. Forma-se um governo paralelo em São Paulo, que oferece negociações aos governos adversários;

14. Exige-se a formação de um “Protetorado Livre do Tumucumaque” – velha ideia do Príncipe Philip e apoiada por várias ONGs – e livre fronteira com Suriname e Guiana;

15. Formação de um organismo internacional de administração da Amazônia, com sede em Bruxelas.

Bem, pode ser uma certa “ficção geopolítica”, mas acreditem, amigos, tenho estudado seriamente cada ponto. Tratar a Amazônia com descaso é de altíssimo risco.

*Francisco Teixeira é historiador, professor da UFRJ e um dos coordenadores do Movimento SOS Brasil Soberano

 

 

 
Fonte: SOS Brasil Soberano