DIÁLOGO E SERENIDADE PARA AVANÇAR
Por Clovis Nascimento*
O país vive um momento profundo de polarização e acirramento de ódio. Estas narrativas e violências simbólicas e físicas estão dilacerando as relações sociais. Estamos perdendo nossa capacidade de diálogo e de compreensão do outro. Nos falta alteridade, principalmente no sentido de cidadania coletiva. Nos falta fraternidade na discordância durante o saudável debate político. Sobram maniqueísmos e autoritarismos. O pulso de leitura de informações, dos fatos e da própria realidade é contaminado pela passionalidade. E as paixões podem cegar a possibilidade de diálogo. Independentemente de filiação partidária ou voto nas últimas eleições, nós, brasileiras e brasileiros, precisamos de tranquilidade para analisar a atual crise política.
O olhar para o outro como inimigo está dilacerando o país. Afinal, nada é absoluto na vida e na política, muito menos neutro ou imparcial. É preciso construir pontes, e não aquelas que o PMDB e Michel Temer defendem, que simbolizam o atraso. O documento “Uma ponte para o futuro” – divulgado pelo PMDB – representa o retrocesso na luta por direitos sociais e vai na contramão da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Balizada pelo eixo do Estado mínimo, a agenda do PMDB prejudica o conjunto da classe trabalhadora, beneficiando os grupos historicamente privilegiados.
Precisamos retomar o desenvolvimento econômico e social, mas não sob a ótica de retirada direitos. Em muitos países, a “modernização” da legislação trabalhista vem sendo implementada como forma de diminuição de desemprego e aumento dos postos de trabalho. No entanto, a realidade é outra. No México, por exemplo, o número de pessoas desempregadas aumentou. A atual política econômica necessita de mudanças radicais, como a reforma tributária, a auditoria cidadã da dívida pública, o fortalecimento do mercado interno, a retomada de investimentos na engenharia nacional e na Petrobras. Estas são medidas fundamentais para o início da retomada do crescimento do país. Os trabalhadores não podem pagar pela crise e nós, engenheiros, já temos sentido o efeito em nossos empregos e salários. O número de engenheiros demitidos e obras paralisadas aumenta a cada dia. Há que se ter apuro para compreender que uma das táticas dos empresários é justamente impulsionar a crise, de modo a conquistar flexibilização dos direitos trabalhistas e, assim, ampliar sua margem de lucro com a exploração da força de trabalho.
Estamos acostumados a uma lógica de Estado baseado em privilégios, e não em direitos. A verdadeira ponte para o futuro é a cidadania, e não a mercantilização da vida. Que sejamos capazes de construir um futuro fraterno, solidário e livre de injustiças. Não vai ter golpe. Vai ter luta!
*Clovis Nascimento é engenheiro civil e sanitarista e presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros