Por Simone Baía*
“Quando o mundo inteiro está em silêncio, até mesmo uma só voz se torna poderosa”, Malala Yousafzai, ganhadora do prêmio Nobel e jovem ativista paquistanesa pela inclusão das mulheres na educação. Esta frase de Malala define a luta cotidiana de nós, mulheres. O silenciamento ainda é um forte instrumento de opressão do patriarcado, mas resistimos todos os dias na luta pelo empoderamento feminino. De acordo com pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a paridade salarial entre mulheres e homens vai levar mais de 70 anos para ser alcançada. Em nível global, a diferença diminuiu apenas 0,6% entre 1995 e 2015. Ainda de acordo com o documento, no mundo, as mulheres representam quase 65% das pessoas que estão na idade de receber os benefícios de aposentadoria e pensões, mas não recebem absolutamente nada. No Brasil, enfrentamos um cenário adverso, na contramão de qualquer possibilidade de avanço. Isso porque o governo federal anunciou a Reforma da Previdência, cuja proposta prevê a unificação da idade para aposentadoria entre homens e mulheres.
Mais uma vez, nós, mulheres, somos alvo de retirada de direitos. Embora sejamos maioria da população brasileira, ainda recebemos salários mais baixos, ocupamos menos cargos de poder no trabalho e acumulamos funções e jornadas. A divisão das responsabilidades familiares e domésticas ainda não é enfrentada no campo público, e tratada, invariavelmente, como tema do âmbito privado das famílias. No entanto, enfrentamos diferenças abissais de igualdade de direitos, desde econômicas até sociais. A licença-paternidade é um exemplo, pois, hoje, comemoramos a sanção de uma lei que amplia de 5 para 20 dias. Nós, mulheres, sabemos a solidão que uma maternidade implica e a importância dos cuidados nos primeiros meses do bebê. A falta de uma licença-parental, ou seja, uma licença compartilhada para a família, faz com que nós, mulheres, todos os dias ainda olhemos no espelho para os nossos ombros solitários sobrecarregados de jornadas e tarefas.
A maternidade é um momento fundamental para a vida das famílias, que precisa ser compartilhada. Muitos países já avançaram, como a Suécia, onde os casais têm direito a 480 dias de licença-parental, divididos entre o casal. Esta é uma medida que beneficia o conjunto da família e, consequentemente, toda a sociedade.
A atual conjuntura política no país é temerosa para o conjunto da classe trabalhadora, ainda mais para nós, mulheres. Na engenharia, um setor historicamente masculino, temos acompanhado o aumento de mulheres nos cursos, mas com lentos avanços nos espaços de poder nos locais de trabalho e uma preocupante retirada de direitos em cláusulas sociais nas negociações coletivas de trabalho. A conjuntura com a onda de demissões afeta diretamente nós, mulheres engenheiras, geralmente as primeiras nas listas de desligamentos.
O atual cenário, embora desfavorável, é uma oportunidade e um indicativo de que precisamos lutar em defesa da engenharia nacional, da democracia, pela ampliação de direitos e pelo povo brasileiro. O silêncio pode rondar como um fantasma shakespeariano de tragédias, mas nossas vozes, unidas pela construção de uma sociedade justa, igualitária e fraterna, são fortes e estrondosas na luta. Vamos juntas, com nossas vozes, histórias e coragem!
*Simone Baía é engenheira química e diretora da mulher da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge)