Alckmin e a conspiração continental do Opus Dei

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A candidatura Geraldo Alckmin se encaixa perfeitamente nos planos políticos e eleitorais do Opus Dei na América Latina. Desde a sua chegada ao continente, nos anos 50, esta seita planeja ascender ao poder na região. O projeto ganhou ímpeto com a onda de golpes militares a partir dos anos 60. Seguidores do Opus Dei presidiram ou assessoraram várias ditaduras. Nos anos 90, com a avalanche neoliberal no continente, os tecnocratas fiéis a esta seita voltaram a gozar de prestígio. Agora, o Opus Dei torce e trabalha na ‘surdina’ pela eleição de Alckmin.

Primeiros tempos: a ‘catequese’

Nos anos 50, a seita aliciou seus primeiros fiéis latino-americanos entre as velhas oligarquias que procuravam se diferenciar dos povos indígenas e pregavam o fundamentalismo religioso. Mas o Opus Dei só adquire pujança com a onda de golpes a partir dos anos 60. Até então, a sua ação ainda era dispersa. Segundo excelente artigo de Marina Amaral na revista Caros Amigos, ‘em 1970, Josemaría Escrivá (fundador do Opus Dei) viajou para o México dando início às ‘viagens de catequese’ pelas Américas que duraram até às vésperas de sua morte em Roma, em 1975′.

Em 1974, Escrivá visitou a América do Sul, então dominada por ditaduras militares. ‘O clero progressista tentava utilizar o peso da Igreja para denunciar torturas e assassinatos e para lutar pelo restabelecimento da democracia. Em suas palestras, ele respondeu certa vez a um militar que perguntara como seguir o caminho da ‘santificação espiritual’ do Opus Dei: “’Os militares já têm metade do caminho espiritual feito”, revela Marina Amaral. Neste período sombrio, a seita apoiou os golpes e participou de vários governos ditatoriais, segundo Emílio Corbiere, autor do livro Opus
Dei: El totalitarismo católico.

No Chile, a seita fascista foi para o ditador Augusto Pinochet o que fora para o franquismo na Espanha. O principal ideólogo do regime que matou 3 mil chilenos, Jaime Guzmá, era um membro ativo desta seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Ela também apoiou os golpes militares e participou ativamente dos regimes autoritários na Argentina, Paraguai e Uruguai. Ainda segundo Corbiere, o Opus Dei financiou o regime do ditador nicaragüense Anastácio Somoza até sua derrota para os sandinistas em 1979. Na década de 90, ela ainda deu ‘ativa assistência’ à ditadura terrorista e corrupta de Alberto Fujimori, no Peru.

O fundamentalismo neoliberal

Outra fase próspera do Opus Dei se dá com a ofensiva neoliberal na década de 90. Gozando da simpatia do papa e de total autonomia frente às igrejas locais, esta seita se beneficia da invasão das multinacionais espanholas, decorrente das privatizações. Muitas dessas empresas são influenciadas por numerários do Opus Dei.

‘O Opus Dei é para o modelo neoliberal o que foram os dominicanos e os franciscanos para as Cruzadas e os jesuítas para a Reforma de Lutero’, compara José Steinsleger, colunista do mexicano La Jornada. Nos anos 90, a seita também emplacou vários bispos e cardeais na região. O mais famoso é Juan Cipriani, do Peru, amigo íntimo do ditador Alberto Fujimori. Em 1997, quando da invasão da embaixada do Japão por militantes do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, o bispo se valeu da condição de mediador e usou um aparelho de escuta no crucifixo, o que permitiu à polícia invadir a casa e matar todos os seus ocupantes.

Os tentáculos no Brasil

No Brasil, o Opus Dei fincou a sua primeira raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada a importância da filial, a seita deslocou para cá o numerário espanhol Xavier Ayala, segundo na hierarquia. ‘Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano 2, o clero progressista da América Latina havia clamado pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à ‘opção pelos pobres’, fundamentos da Teologia da Libertação’, explica Marina Amaral.

Ainda segundo seu relato, ‘aos poucos, o Opus Dei foi encontrando seus aliados na direita universitária… Entre os primeiros estavam dois jovens promissores: Ives Gandra Martins e Carlos Alberto Di Franco, o primeiro simpático ao monarquismo e candidato derrotado a deputado; o segundo, um secundarista do Colégio Rio Branco, dos rotarianos do Brasil. Ives começou a freqüentar as reuniões do Opus Dei em 1963; Di Franco ‘apitou’ (pediu para entrar) em 1965. Hoje, a organização diz ter no país pouco mais de três mil membros e cerca de quarenta centros, onde moram aproximadamente seiscentos numerários’.

Crescimento na ditadura

Durante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex-deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ditador Garrastazu Médici, em 1972, e tio do atual presidenciável tucano. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário no país. Tinha quadros em posições importantes, mas sem atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita.

Seu crescimento dependeu da benção dos generais golpistas e dos vínculos com poderosas empresas. Ives Gandra e Di Franco viraram os seus ‘embaixadores’, relacionando-se com donos da mídia, políticos de direita, bispos e empresários. É desta fase a construção da sua estrutura de fachada – Colégio Catamarã (SP), Casa do Moinho (Cotia) e Editora Quadrante. Ela também criou
uma ONG para arrecadar fundos: Osuc (Obras Sociais, Universitárias e Culturais). Esta recebe até hoje doações do Itaú, Bradesco, GM e Citigroup. Confrontado com a denúncia, Lizandro Carmona, da Osuc, implorou à jornalista Marina Amaral: ‘Pelo amor de Deus, não vá escrever que empresas como o Itaú doam dinheiro ao Opus Dei’.

Ofensiva recente

Na fase recente, o Opus Dei está excitado, com planos ousados para conquistar maior poder político na América Latina. Em abril de 2002, a seita participou ativamente do frustrado golpe contra o presidente Hugo Chávez, na Venezuela. Um dos seus seguidores, José Rodrigues Iturbe, foi nomeado ministro das Relações Exteriores do fugaz governo golpista. A embaixada da
Espanha, governada na época pelo neo-franquista Partido Popular (PP), de José Maria Aznar – cuja esposa é do Opus Dei -, deu guarita aos seus fiéis. Outro golpista ligado à seita, Gustavo Cisneiros, é megaempresário das telecomunicações no país.

Em dezembro do ano passado, o Opus Dei assistiu a derrota do seu candidato, Joaquim Laví, ex-assessor do ditador Augusto Pinochet, à presidência do Chile. Já em maio deste ano, colheu uma nova derrota com a candidatura de Lourdes Flores, declarada numerária do partido Unidade Nacional, que amargou um terceiro lugar no Peru. Em compensação, a seita comemorou a reeleição do narco-terrorista Álvaro Uribe na Colômbia, que também dispôs de milhões de dólares do governo George Bush. Outro conhecido simpatizante do Opus Dei, Felipe Calderon, ex-executivo da Coca-Cola, ‘venceu’ em julho passado uma das eleições mais fraudulentas da história do México.

Um perigo sorrateiro

Agora, como afirma o estudioso Henrique Magalhães, ‘as esperança do Opus Dei se voltam para Geraldo Alckmin, que hoje é um dos seus quadros políticos de maior destaque. A Obra tenta fazer dele presidente e formar um eixo geopolítico com os governantes da Colômbia e do México, aos quais está intimamente associada’. De maneira ardilosa, a seita usará todos os ‘recursos’. Prova do seu método pode ser visto na recente eleição do Senado no Rio de Janeiro, onde foi desencadeada brutal campanha contra a candidatura da comunista Jandira Feghali. Não por acaso, dois dos principais numerários do país atuam neste estado: o bispo de Nova Friburgo, Rafael Cifuentes, e o bispo-auxiliar dom Antônio Augusto Dias Duarte.

Geraldo Alckmin mentiu numa recente sabatina ao jornal Folha de S.Paulo, quando afirmou que ‘não sou da Opus Dei; respeito quem é, mas não conheço’. Hoje são notórias as relações do tucano com esta seita fascista. Elas vêm desde os tempos de infância, no convívio com seu pai e o tio-ministro do STF da ditadura, até as irregulares ‘palestras do Morumbi’. Na excelente reportagem da revista Caros Amigos, a jornalista Marina Amaral lembra o constrangimento do padre Vicente Ancona, numerário do Opus Dei que a atendeu: ‘Quando perguntei ao padre Vicente Ancona se Alckmin estava recebendo orientação espiritual e desistiu por causa da repercussão, a resposta foi curta e grossa: ‘Exato’.