A transferência da capital para Brasília, a Agronomia e a produção no Cerrado – vetores fundamentais do desenvolvimento no interior do Brasil

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Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960, assumindo, a partir desta data, a responsabilidade estabelecida na Lei nº 2874
de 19/setembro/1956, de ser a Capital da República Federativa do Brasil.

A ideia da transferência do comando estratégico do País para o Planalto Central, local mais próximo ao seu centro geográfico, era antiga. Embora este propósito constasse dos textos das Constituições de 1891, 1934 e 1946, apenas sob o comando do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira esse preceito se
materializou.

Com o objetivo de fazer cumprir o que se encontrava descrito na legislação específica, as estruturas do governo federal receberam
determinação para se deslocarem da Cidade do Rio de Janeiro, localizada no até então existente Estado da Guanabara e no litoral, para o interior do País.

Neste cenário, os Poderes Constitucionais, as Autarquias, Instituições, Empresas, Profissionais Liberais e Trabalhadores, cumprindo recomendações expressas, iniciaram suas transferências para a nova referência do comando político da União. Foram exercer suas atividades na recente fronteira de
desenvolvimento que se impunha em uma região na época inóspita e, para alguns, sem maiores perspectivas.

Embora o entusiasmo da imensa maioria sempre suplantasse eventuais críticas, era comum, naquele período, o extravaso dos
que contestavam aquela iniciativa e se viram impelidos a se deslocar para Brasília apenas por deveres institucionais, empregatícios ou comerciais. Estes, por não crerem no sucesso
do projeto, relutavam em investir na cidade, sonhavam com deslocamentos para outras paragens e alardeavam que teria sido melhor permanecer em seus locais de origem.

Existiam, ainda, os que contemplando a tradicional imagem do Cerrado, composto majoritariamente por diversas espécies de
árvores relativamente baixas e tortas ou vegetações rasteiras sem relevante valor nutritivo, afirmavam categoricamente que ”sendo a terra fraca”, nenhum plantio, mesmo de culturas de subsistência conseguiria prosperar, apesar da imensidão de áreas disponíveis. Eram tratados como pessimistas pois jamais conseguiram sentir nos seus âmagos a dimensão do que estava em curso ou em vias de acontecer.

A história, no entanto, descreve o que definitivamente restou consignado. Um certo povo da América do Sul, movido pelos corretos desafios, independentemente de suas magnitudes, demonstrou ao Planeta Terra uma imensurável capacidade de realização.

E assim sendo, milhares, posteriormente, milhões de brasileiros incorporando este sonho visionário, assumiram-se como parte
de uma proposta estratégica de Nação, tornaram-se  orgulhosamente habitantes locais e dedicaram imensos esforços para transformar aqueles lugares considerados ermos e distantes. Colocaram, inclusive, suas poupanças em áreas do País nas quais haviam atuado na sua rude etapa de desbravamento.

Esses pioneiros que acreditaram, adquiriram terrenos e propriedades, construíram e viabilizaram negócios em todos os setores da economia. Em resumo, edificaram suas existências e de suas famílias em espaços da superfície outrora nominados como devolutos. Era o início de um novo e revolucionário
ciclo de progresso nacional.

A consolidação deste processo se efetivou nas décadas seguintes, na medida em que aquela decisão governamental expunha o seu incrível nível de acerto. Afinal, o Brasil avançou significativamente em todos as direções e sentidos nos anos subsequentes à concretização de Brasília, conforme atestam
os gráficos e anais do IBGE.

Verifica-se, porém, que Estados como Goiás, Mato Grosso, Bahia, Rondônia, Tocantins e Mato Grosso do Sul experimentaram
padrões de evolução contundentes neste período, compatíveis com a coragem cívica necessária para deslocar um centro de poder, enfrentando todas as dificuldades de ordem organizacional, econômica e tecnológica. Sem exclusão dos ocasionais interesses contrários.

Há explicações para o alcance de tal êxito. Desde a implantação de políticas públicas adequadas e financiamentos subsidiados às
vocações empreendedoras, passando pelo heroísmo de nomes constantemente festejados. Ou ao incremento de metodologias
modernas de plantio, adubação, correção, irrigação e utilização do solo. Todas, inegavelmente verdadeiras.

Mas, nenhuma explanação é mais consistente, abrangente e merecedora de reconhecimentos do que o trabalho anonimamente desenvolvido no âmbito das Ciências Agrárias
pelos Engenheiros Agrônomos, Pesquisadores da Embrapa, Professores Universitários e Extensionistas dos vários Escritórios da Emater em seus inúmeros locais de trabalho.

Em parceria com os proprietários rurais, os referidos Profissionais e Cientistas deram partida a uma das maiores conquistas de terras agricultáveis efetuadas pela humanidade.
Nas fases mais complexas, quando se analisavam demandas, expectativas e tendências, principalmente com referência a produção, armazenamento, transporte e abastecimento
de alimentos pretendendo atender nossos habitantes, disponibilizaram suas sabedorias a serviço do País.

Hoje, contribuem como nunca para políticas de eliminação da fome e elevação dos indicadores sociais e, da mesma forma, para a exportação, geração de capital, renda e incorporação de divisas para o Brasil.

O domínio do bioma Cerrado ocorreu após intensos estudos, debates, experimentos e publicações consumados por Profissionais brasileiros. Estes dedicaram suas carreiras a elaborar e expandir fórmulas, bem como a testar componentes, composições e soluções químicas, visando sempre melhorar a qualidade do terreno. Além disso, a aperfeiçoar sementes, fertilizantes, otimizar a semeadura, irrigação, colheita e a estocagem dos produtos originados daquelas plantações.
Fortaleceram, também, os discernimentos para combater pragas, combinar culturas e acrescentar safras acima das tradicionais de cada cereal, leguminosa ou vegetal, enaltecendo a obtenção da produtividade. Adaptaram máquinas agrícolas às condições dos solos tropicais, com aprimoramento de tecnologias para conservação destes, assim como da água.

Na produção animal, desenvolveram melhoramentos genéticos sobre raças adaptadas ao clima tropical, projetaram construções rurais com foco na bioclimatologia, produziram forrageiras e introduziram pastagens próprias aos trópicos.
Nas políticas públicas e administração, implantaram métodos de gestão próprios ao manejo dos recursos naturais e à gestão nas
propriedades agropecuárias, inclusive com a introdução do cooperativismo.

Mas, não se encerram neste estágio as infinitas colaborações. Estimularam fabricantes de veículos, equipamentos, tratores, maquinários e implementos agrícolas a inovar, objetivando executar tarefas em superfícies, dimensões e quantidades não constantes de seus antigos manuais. Incentivaram-nos a adotar modernos padrões e sistemas internos, intencionando atender proporções inimagináveis para suas organizações nos  respectivos ramos de atuação.

As diversas companhias que desempenham atribuições no espectro agronômico do País precisaram repensar e adaptar as suas características para a missão de atender às
exigências desses Profissionais e Produtores. Que, à luz das legislações e sem receio de obstáculos, pretendiam reivindicar títulos de recordistas e campeões mundiais na geração e comercialização de variadas espécies agrícolas. Uma tendência celebrada no Brasil.

Portanto, diariamente, nas feiras e mercados, tal e qual, ano após ano, a cada safra, a Engenharia Agronômica se reapresenta a seus compatriotas e a todos os Continentes, em diferentes modelos de agricultura: intensiva, familiar, extensiva ou orgânica. Sempre ressaltando a relevância do respeito aos consagrados parâmetros ambientais e a conservação da natureza.

Destaque-se, sobretudo, que esta profissão nunca se esquiva dos compromissos forjados com a Nação e seus conterrâneos no desempenho diuturno de suas atribuições, especialmente em relação ao intento de erguê-la a um patamar de excelência em produção agrícola no Planeta Terra.

Finalizando, pretende-se enfatizar, neste Artigo, que a Agronomia e os Engenheiros Agrônomos merecem, pelas suas extraordinárias contribuições para o êxito da ocupação
racional e desenvolvimento do território brasileiro, as eternas congratulações e agradecimentos da população nacional e do Brasil.

Autores:
Eng. Civil Henrique Luduvice – Ex-Presidente do CREA/DF, MÚTUA E CONFEA
Eng. Agrônomo Kleber Santos – Ex-Coordenador do CDEN e Presidente da CONFAEAB
Eng. Agrônomo Francisco Almeida – Ex-Presidente CREA/GO e Presidente da MÚTUA
Foto: Mário Fontenelle/ Arquivo Público do Distrito Federal – Agência Brasília

Fonte: Senge RJ