O BIM (Building Information Modeling), traduzido do inglês como Modelagem de Informação de Construção, é uma metodologia multidisciplinar que permite acompanhar uma obra da criação do projeto a edificação que especifica os elementos de construção e materiais utilizados de forma prática e eficiente. A tecnologia presente nos projetos atuais avança junto com os profissionais da arquitetura, criando um conceito que vai do digital para as ruas e que promove acessibilidade a um campo ainda restrito da profissão.
A tecnologia BIM foi desenvolvida no final dos anos 1970 nos Estados Unidos, mas sua primeira aplicação prática aconteceu quase 20 anos depois. No Brasil, a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling (Estratégia BIM/BR), instituída pelo Decreto n° 9.377/18 e reforçada pelo Decreto n° 10.306/20, estabelece a utilização da tecnologia na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizada por instituições públicas federais de forma gradual, obedecendo um conjunto de três fases: a primeira em 2021, a segunda no ano de 2024 e a terceira e última em 2028.
Constituído por um banco de dados, o BIM exibe a geometria dos elementos construtivos em três dimensões, armazenando seus atributos em projetos por processo híbrido (com recursos manuais e computacionais) a fim de que o arquiteto trabalhe diretamente com a construção da maquete, evitando erros e retrabalho, aumentando a eficiência dos profissionais que utilizam a plataforma.
Contudo, o processo de criação ideal conceituado pela Modelagem de Informação da Construção segue sendo pouco discutido nos espaços acadêmicos, o que reduz as ações cognitivas para o pensamento criativo durante a realização de projetos: reconhecimento e reestruturação de problemas e manipulação de ferramentas para solução dos problemas.
Ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo, os alunos são preparados para prática de ensino de projetos de computação gráfica, devendo questionar sobre aspectos estéticos, funcionais e técnico-construtivos, o que muitas vezes, pouco ou não acontece. Ou seja, o problema atual das faculdades está em formar profissionais que compreendam as etapas de criação, desenvolvimento e execução de projetos, bem como comuniquem sua criatividade e competência técnica.
Na metodologia de ensino da arquitetura, o BIM enquanto processo, propicia um aprendizado integrador, pois além de reforçar o aprendizado no canteiro de obras (imprescindível para a profissão), também abrange o entendimento do método construtivo pela virtualização aproximando a continuidade da execução no canteiro de obras.
Ainda que beneficie toda uma nova geração de arquitetos, a Modelagem de Informação da Construção segue restrita a uma parcela específica dos profissionais. A democratização do uso de programas técnicos possibilita mais ideias e portanto, mais pessoas envolvidas com o futuro da arquitetura.
Iniciativas como o Solare – Softwares Livres para Arquitetura e Engenharia, realizada pela Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) com o apoio dos Conselhos de Arquitetura e Urbanismo dos estados do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro (CAU-RS/CAU-RJ), têm como vantagem a ampla contribuição e adição de recursos baseadas nas necessidades do planejamento. A natureza aberta desses programas favorece o desenvolvimento de projetos plurais que impulsionam a inovação.
Para Andréa dos Santos, presidente da FNA, “projetos como o Solare são criados pela Federação com o intuito de retirar o caráter restrito do ambiente profissional e acadêmico da arquitetura. A profissão tem como dever entender as demandas cotidianas da sociedade e ferramentas como essa tornam a relação arquiteto-população mais acessível por meio da tecnologia.”
O projeto foi firmado em Termo de Colaboração entre ambos os Conselhos e a Federação, estabelecendo a produção de artigos para o site, a realização de oficinas de programas de código aberto e a produção de uma biblioteca de elementos e componentes para habitação. A realização é uma parceria com outras autoridades como Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (FISENGE), Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (FENEA), Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA) e Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).
A proposta do Solare é capacitar profissionais de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo por meio da disponibilização de cursos gratuitos e fóruns de discussão, oferecendo alternativas compatíveis com todos os eixos de programação, de modelagem 3D a BIM, sendo contraponto a softwares comerciais.
Segundo o coordenador da iniciativa, Danilo Matoso, há um novo paradigma no desenvolvimento de projetos e na gestão e manutenção de obras.
“As tecnologias de CAD e BIM vêm alterando as relações entre os profissionais, e a internet mudou a forma como nos relacionamos com o mundo. Além disso, hoje temos três vezes mais profissionais graduados no país do que há quinze anos”, comenta Matoso.
O fortalecimento da capacidade de organização tem consequências políticas, de acordo com o coordenador, dada a abertura de novos mercados de trabalho e melhor diálogo com a sociedade a fim de ampliar os campos de atuação, cuja reflexão direta se dá nos alunos de graduação.
“Tal mudança cultural ocorre durante a graduação desses novos profissionais, pois é na universidade que escolhem as ferramentas que se especializarão. Muitos não dispõem de recursos para arcar com os custos de certos softwares e para seguir aplicando o conhecimento adquirido, optam pelo uso de programas piratas.”
Matoso aponta que é importante fornecer aos estudantes conhecimentos que não os tornem dependentes de grandes corporações de softwares. E ao comentar sobre o futuro da arquitetura e do urbanismo, ele conclui:
“É fundamental voltar a questionar e a pesquisar a fundo o âmago da relação entre nosso labor e as tecnologias da informação. Por meio da pesquisa e do diálogo, garantimos a soberania tecnológica e o fortalecimento de nossa categoria.”
Fonte: Imprensa Federação Nacional de Arquitetos/FNA