Dados do Índice da Condição do Trabalho (ICT-DIEESE) apontam queda brutal da qualidade dos empregos no Brasil. A tendência, segundo a análise, é de que piore com as medidas do governo neoliberal.
A qualidade do emprego no Brasil despencou de 2015 até agora e está em coma, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Esta foi a conclusão a que chegou o sociólogo e diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Clemente Ganz Lúcio, que se baseou no Índice da Condição do Trabalho (ICT-DIEESE), lançado na sede da instituição, em São Paulo, na manhã desta quarta-feira (25), para analisar a qualidade do emprego no Brasil.
O ICT-DIEESE tem o objetito de contribuir, econômica e socialmente, com a análise e acompanhamento sistemático das condições do mercado de trabalho brasileiro. O estudo foi desenvolvido com uma base teórica da doutora em sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Míriam de Toni, e um conjunto de indicadores de abrangência nacional da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílio Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PnadC/IBGE), do período de 2012 à 2018.
Os indicadores revelam que entre 2012 e 2014 houve uma mudança para melhor nas condições de trabalho. A análise levou em consideração os quesitos inserção ocupacional, desocupação (desemprego) e rendimento.
Do primeiro semestre de 2012 até meados de 2014 o índice pulou de 0,49 para 0,62, destacando que a metodologia da pesquisa significa que quanto mais perto de 1,0 há uma melhora na situação geral do mercado de trabalho no Brasil. Neste período, teve mais empregos formais, com carteira assinada, contribuição previdenciária, proteção no emprego e com tempo de ocupação mais longo, ou seja, os trabalhadores ficavam mais tempo no emprego.
A piora começa no final de 2014 e começo de 2015, com uma estagnação chegando ao índice de 0,36. Neste período, aumentaram as taxas de desemprego e a informalidade, a qualidade nos postos de trabalho piorou e menos brasileiros passaram a contribuir com a Previdência Social.
A conjuntura só começou a melhorar entre o terceiro e o quarto trimestre de 2018, mas no final do último trimestre daquele ano voltou a piorar, e a economia despencou. Mais uma vez, aumentou o trabalho informal, o famoso bico.
O ICT-DIEESE mediu o desalento de forma geral no período de 2012 a 2014. Quando analisado o tempo de procura de trabalho, a análise mostra que tinham menos desocupações, e que lentamente e gradativamente, a qualidade dos empregos era cada vez melhor.
“Já em 2016 e 2017, quem estava ocupado ficava ansioso para não perder o emprego e quem estava desempregado não sabia se voltaria ao mercado e nem quais condições”, explicou Clemente, complementando: “No período de 2012 a 2014 o desalento nem existia”.
“Porque as empresas vinham procurar os trabalhadores e as trabalhadoras. Agora é explicito que o número de vagas é menor que o de pessoas procurando emprego e não há perspectiva de melhoras, pelo contrário”, afirmou Clemente.
Tendências
Para ele, baseado nas tendências de crescimento da economia, o Brasil só vai melhorar a geração de emprego de qualidade, quando o crescimento da economia for maior de 3%. “As previsões para 2019 já são piores que 2018, que pode ser menos que 1%. Não dá para ver melhoras no fim do túnel”, lamenta Clemente.
A análise é de que as medidas neoliberais do ex-presidente, Michel Temer (MDB), como a reforma Trabalhista e a terceirização irrestrita, e as propostas do governo de Jair Bolsonaro (PSL), como a Medida Provisória (MP) 873, que aniquila o financiamento sindical, e a reforma da Previdência, apontam que a política do atual governo vai ajudar a piorar o quadro e não melhorar, como “venderam e continuam vendendo” para a população.
Segundo o secretário de Organização e Política Sindical da CUT, Ari Aloraldo do Nascimento, o ICT comprova que a central e o movimento sindical sempre estiveram certos ao dizer que Temer mentia. “O governo mente quando argumenta que as medidas de retirada de direitos, como as reformas trabalhista e previdenciária, são para melhorar a vida da classe trabalhadora”, disse.
“A reforma Trabalhista de Temer só gerou desemprego e desalento, é só olhar as taxas do IBGE. E com a reforma da Previdência não será diferente. A qualidade dos empregos vai piorar ainda mais a vida do trabalhador e da trabalhadora e os empresários vão deixar de contribuir com a Previdência piorando a vida do trabalhador quando ele ficar mais velho. Muitos não conseguirão se aposentar se esta reforma for aprovada.”
Por isso, diz Ari, “em tempos de sigilo de dados, o ICT-DIEESE será de extrema importância para mostrar que as reformas só contribuem para gerar mais lucros e explorar cada vez mais o trabalhador e a trabalhadora”, afirmou Ari.
Ele se referiu a riqueza de transparência de dados do DIEESE que vai na contramão da decisão do governo que decretou sigilo nos estudos que justificam, segundo eles, a reforma da Previdência proposta por Bolsonaro.
Ferramenta de trabalho
Ari parabenizou a equipe do DIEESE responsável pelo estudo e disse que o ITC será uma ferramenta de trabalho de extrema importância para os dirigentes sindicais.
“É um instrumento que nos faltava para ajudar no debate em relação a reforma da Previdência. Entendo que está expondo pela primeira vez e terão vários ajustes que nos ajudarão a instrumentalizar ainda mais nosso trabalho de mostrar para a população que precisamos nos organizar para enfrentar”.
E é justamente na ampliação do ICT que o Dieese vem trabalhando. “A gente vem discutindo a criação de outros indicativos. Estamos estudando fragmentar regionalmente por sexo e faixa etária, entre outros dados, que complementam a análise”, disse a coordenadora de pesquisas e do ICT-DIEESE, Patricia Pelatiere.
“O mercado de trabalho é heterogêneo e complexo e é muito difícil fazer uma análise para todos os ângulos a partir só de um indicador, mas a gente pode agregar outros olhares e vamos trabalhando nisso”, complementou ela.
*No site do DIEESE você encontra outros tipos de indicadores relacionados ao mundo do trabalho.
Fonte: CUT / Escrito por Érica Aragão