“A imprensa negra nunca se calou frente ao racismo”, diz pesquisadora

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Declaração foi feita durante o Seminário ‘Diálogos Democracia e Comunicação sem Racismo, por um Brasil Afirmativo’, que ocorre hoje (29) e amanhã, em Brasília. Transmissão ao vivo pelo link AQUI!

Um panorama sobre a comunicação negra no Brasil abriu o ‘Diálogos Democracia e Comunicação sem Racismo, por um Brasil Afirmativo’, realizado na manhã dessa quinta-feira, 29/05, em Brasília. A pesquisadora, doutoranda da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Ana Flávia Magalhães, fez uma breve conceituação de imprensa negra e um resgate dessas experiências realizadas no Brasil entre início do século 19 e século 21.

Segundo Ana Flávia, comunicação negra vai além do jornalismo, da imprensa escrita e inclui uma rede ampla de profissionais que produzem conteúdos de interesse da população afro-brasileira. “Houve tentativas de silenciamento, mas desde o século 19, em termos de imprensa, os negros nunca se calaram e pautaram de forma diversa e incisiva a questão do racismo”, disse. Ana considera que essa memória precisa ser valorizada, pois é um caminho para que a luta do povo negro na diáspora seja reconhecida.

Os primeiros jornais da imprensa negra – No início do século 19, o Rio de Janeiro respondia pela maior população negra livre das Américas. O primeiro periódico negro, ‘O Mulato’, de 1833, nasceu no estado com foco no reconhecimento da cidadania da população afro-brasileira em tempos de escravização. Ana Flávia, conta que as experiências de liberdade brasileiras foram impactantes para outros países que passavam pelo mesmo processo, pois “em 1872, de cada 10 pessoas negras no país, seis já eram livres”.

O jornal ‘Homem de Cor’, de 1833, já denunciava que uma resposta contra o aumento da população negra livre no Rio de Janeiro era a criação de mecanismos para que os negros não chegassem aos altos postos sociais. A pesquisadora explicou que houve uma tentativa de imprimir no Brasil um principio de nação, partindo das bases da Revolução Francesa de igualdade, liberdade e a fraternidade, a fim de provocar uma união entre os indivíduos, mas isso acabou garantindo a exclusão da população negra.

Do Rio de Janeiro para Recife, que já vivia uma crise no sistema escravista, o periódico ‘O Homem’, na segunda metade do século 19, trazia em seus artigos que os negros acreditaram e se dedicaram à proposta de nação, mas que logo viram que estavam sendo preteridos dos espaços públicos e discriminados racialmente.

Já em São Paulo, contou Ana Flávia, o ‘A Pátria’, era publicado por um grupo de pensadores que colocaram o desafio da abolição e apostam na República como resolução final do que era proposto pelos abolicionistas. “Eles combatiam qualquer tentativa de apoio ao regime monárquico, dando visibilidade aos processos que a historia apagou como o Clube Republicando dos Homens de Cor”. Ana avalia que essas ações revelam o protagonismo dos homens negros na trama social do Brasil do início do século 19. “Essas praticas foram retiradas das paginas da historiografia. Cabe agora recuperar o legado dessas experiências negras para a abolição e o enfrentamento do racismo no país”, completa.

A jornalista também falou sobre a experiência gaúcha com o jornal Exemplo (1982 – 1930), fruto da reunião de um grupo de amigos numa barbearia, na Avenida dos Andradas, em Porto Alegre, para discutir estratégias de inserção do povo negro e de enfrentamento ao racismo. De volta a São Paulo, Ana Flávia falou também sobre o periódico ‘O Progresso’, que trazia em suas páginas críticas a República, às estratégias de imigração europeia e a desqualificação do trabalhador negro.

Ana Flávia enumera outros os jornais da imprensa negra surgidos no século 19. Ao que considera ser sua paixão, a pesquisadora ressalta a imprensa negra como um exemplo de esforço coletivo para produção de conhecimento tanto para combater o racismo quanto para o fortalecimento das comunidades negras.

Século 20, 21 e as novas mídias negras – Durante a exposição, Ana Flávia falou sobre os veículos de comunicação voltados para valorização das identidades negras que se estabeleceram nos anos seguintes, principalmente a partir do nascimento do Movimento Negro Brasileiro, assim como a experiência das mulheres negras na imprensa.

Sobre a entrada desses veículos negros na internet, a pesquisadora atribui ao aumento da produção de informação e da necessidade de difusão de conhecimento produzidos ao longo dos séculos. “Somos 53% da população temos o direito de ter opiniões diferentes e a valorização desses veículos contribuiu para a desmistificação do que é ser negro, negra nesse país”, disse.

Segundo Ana, esses meios de comunicação permitem reconhecer uma tendência de aglutinação de temas compartilhados, mas o desafio que permanece é a questão da sustentabilidade dessa imprensa e o fortalecimento da relação com os outros segmentos da cultura negra.

Fonte: Fundação Cultural Palmares

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