Desde a primeira mesa e a primeira cadeira da federação. Maria José Salles, a Zezé, participou não apenas da organização da estrutura da Fisenge, como também e, principalmente, do fortalecimento do movimento de engenheiros na luta por mais direitos e por outra sociedade justa e igualitária. Zezé foi diretora financeira da Fisenge de 1993 até 2002.
Como foi a construção da Fisenge?
Rompemos com a FNE, porque nos aproximávamos mais da CUT, do que de outra central. E rompemos no trabalho, porque tínhamos uma visão diferente de como levar a luta dos engenheiros, que devia ser dentro da luta dos trabalhadores, não apenas a luta corporativa. A gente entrava em choque em todas as arenas. Aí, chegou o momento que não deu mais e a gente rompeu. Decidimos que a sede ia ser no Rio de Janeiro. Na época, a gente não tinha dinheiro, foi uma briga com a FNE.
A fundação se deu justamente durante a década perdida. Como foi vivenciar esse momento?
Os sindicatos de engenheiros tiveram uma atuação muito grande na luta contra a privatização. E a Fisenge nasceu com essa essência: somando e chamando pela luta dos trabalhadores. A luta contra a privatização promoveu uma série de debates importantes. Deu uma densidade à discussão dos trabalhadores, de um modo geral. Não é ser contra apenas por ser contra, significava um projeto claro de disputa da sociedade. Desta forma, politizamos o debate apontando os prejuízos da entrega do patrimônio. Fugimos daquela luta puramente e exclusivamente reivindicatória e corporativa. O meu setor, por exemplo, o saneamento, foi muito discutido e, obviamente, não foi só a luta dos trabalhadores que levou a não privatização do setor naquele momento, foi a luta dos trabalhadores dentro do setor saneamento que puseram obstáculo à privatização da área.
Que momento você destacaria nessa trajetória?
O “Fora Collor” veio trazer uma injeção de ânimo, porque, de repente, apareceram os caras pintadas. Um dia, eu fui para as ruas, como de costume, e comecei a gargalhar no meio das pessoas. Não eram mais os mesmos rostos conhecidos, era gente jovem reunida. O “Fora Collor” foi um momento incrível.
Você acha que agora a gente consegue avançar mais nas transformações sociais do país?
Eu acho que consegue sim. As recentes mobilizações populares mexeram com todo o Brasil. Eu não sei dizer para onde vai, mas mexeu com alguma coisa que não volta para o lugar mais.