Ubiratan Félix Pereira dos Santos*
O desafio está lançado. Entre os profissionais de engenharia de todo país, inicia-se uma espécie de maratona em prol do aumento dos gastos de investimento socialmente eficientes previstos no PAC. E isto implica numa ação de controle disciplinada sobre os gastos ineficientes, cortando os desperdícios e superposições, e evitando o acúmulo irrefletido de obrigações perdulárias que se projetem para o futuro. A implementação do PAC exigirá novos profissionais, elaboração de projetos e o surgimento de novas empresas. Infelizmente, este processo não é imediato. Levará algum tempo para que possamos construir uma parte daquela que já foi uma das melhores engenharias consultivas e de obras do mundo. E, aos profissionais de engenharia na Bahia agrega-se a responsabilidade de fortalecer um sindicato que comemora este ano 70 anos.
Sem dúvida, temos pela frente um enorme desafio, porque também é hora de aprofundar a qualidade do esforço fiscal, no momento em que a continuidade da queda das taxas de juros economiza encargos e abre espaço para a racionalização e suavização da carga tributária. Isso é condição imprescindível para a execução do PAC e para o Brasil crescer, pondo em prática vários planos e anseios dos engenheiros devidamente comprometidos com o progresso sustentável das cidades e a divisão espacial do território. Não há dúvida que investimentos em infra-estrutura – prioritariamente energia e sistema viário – precisam ser acelerados. Para isso, além da poupança pública, é decisiva a participação do setor privado.
Para sanarmos o déficit de 6 (seis) milhões de moradias, energia e saneamento (abastecimento de água, esgotamento sanitário e lixo), é imprescindível a união entre os investimentos públicos e privados em habitação, setores que têm grande impacto no mercado de trabalho e renda. Este quadro provocará um aumento da demanda por profissionais qualificados, peça fundamental na elaboração de projetos consistentes e viáveis na área de infra-estrutura.
Neste ponto, encontra–se uma das maiores dificuldades para implementação do PAC, pois nos últimos 25 anos o setor de Engenharia (principalmente na área de projetos) foi desmontado, diversas empresas fecharam, equipes foram desconstituídas, profissionais se aposentaram, alguns mudaram de ramo de atividades (auditores fiscais, donos de bar, setor financeiro, taxistas, etc) e, principalmente, não houve renovação dos quadros técnicos.
No Brasil, apenas 9% dos estudantes graduados nas universidades é da área tecnológica. Na China, o percentual é de 66% e na Coréia do Sul, 55%. Este quadro foi provocado pela política neoliberal que desmontou o Estado brasileiro, na crença de que os investimentos em infra–estrutura seriam realizados apenas pelo setor privado.
É preciso entender que a inovação tecnológica é a mola propulsora da criação de dinamismo e capacidade de competir dos sistemas nacionais. Por isso, a inovação no plano empresarial e público deve merecer estímulo e apoio sistêmico com empenho redobrado, como fazem os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento que estão logrando dominar a 3ª onda de progresso industrial e tecnológico. Isso exige olhar o futuro e divisar cenários de longo prazo que auxiliem a definição de rumos e permitam a formulação de estratégias.
As nossas bases empresariais e de engenharia exibem excelência em certos campos e isso deve servir de ponto de apoio para a construção de sinergias e para a busca de especializações competitivas visando a captura das janelas de oportunidade. Não é preciso dizer que esse desafio requer a intensificação da formação de engenheiros e de cientistas aplicados em várias esferas de conhecimento.
A importante cadeia da construção civil, que comanda um amplo conjunto de indústrias fornecedoras de materiais, estimula a indústria de mobiliário e movimenta uma extensa rede de serviços de comercialização, vendas e financiamento, está iniciando um ciclo de expansão que tem tudo para ser duradouro. Desenvolvimento que precisa ser socialmente inclusivo, distribuído regionalmente, gerador de empregos crescentemente qualificados, oportunidades empresariais, de renda e canais de ascensão para os pobres e para os pequenos. Desenvolvimento que precisa ser social e ambientalmente responsável e regenerador das inaceitáveis mutilações de nosso patrimônio natural. Desenvolvimento que sinalize um horizonte promissor para a nossa juventude. Desenvolvimento que precisa ser culturalmente afirmativo e estimulador da extraordinária criatividade do povo brasileiro.
Desenvolvimento que precisa ter, definitivamente, a inovação tecnológica e o avanço científico como eixos estratégicos. Desenvolvimento, enfim, que signifique, nas palavras do grande pensador Celso Furtado, a retomada da “construção interrompida” de uma nação soberana, próspera, mais fraterna e menos desigual com os seus filhos.
*Engenheiro civil e presidente do Sindicato de Engenheiros da Bahia