A vice-presidente do Conselho de Administração do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, Ana Fontes, declarou na semana passada que “um por cento da população mais rica no Brasil tem um rendimento médio 31 vezes maior do que os 50% mais pobres. Devemos nos incomodar com isso”.
Devemos, ou já naturalizamos essa situação?
Em artigo intitulado “O futuro em 12 perguntas”, o professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, José Eli da Veiga, analisa o “Pacto pelo Futuro” documento de 29 páginas que está sendo escrito na sede da ONU, em Nova York.
Entre as 12 perguntas do professor José Eli, destacamos algumas:
1) “Como a comunidade internacional pode garantir que o princípio de não causar dano seja respeitado na criação e no uso de novas tecnologias, ao mesmo tempo que impulsiona visões inovadoras e estruturas colaborativas para manter a segurança, aprimorar os esforços de edificação da paz, combater o discurso de ódio e o extremismo violento, as raízes do terrorismo?
2) Como as tecnologias digitais podem ser aprimoradas para promover o desenvolvimento sustentável de maneira equilibrada e inclusiva, principalmente diante de desafios como mudanças climáticas?
3) De que maneiras a colaboração e as parcerias multissetoriais podem promover a capacitação e reforçar a cooperação tecnológica e científica para terminar com a exclusão digital entre os países e dentro deles?
4) Como se pode garantir que a criação e o uso de novas tecnologias promovam um ambiente digital inclusivo, aberto, protegido no qual todos – especialmente mulheres e crianças – estejam protegidos contra danos on-line?
São perguntas extremamente pertinentes. Como debater sobre um mundo em que as tecnologias são pensadas, desde as suas origens, para aumentar o lucro e a desigualdade social e digital? Como a chamada inteligência artificial poderá aprofundar ainda mais essas desigualdades?
E no caso brasileiro? A resposta pode ser encontrada na afirmação da Coalizão Direitos na Rede: “é possível garantir o desenvolvimento tecnológico no campo da inteligência artificial (IA) e, ao mesmo tempo, impedir abusos e proteger direitos. Não podemos repercutir a falácia de que regulação impede inovação. Pelo contrário: é por meio deste debate regulatório, leia-se PL 2338, que a sociedade brasileira tem a oportunidade de caminhar, de forma pioneira, no sentido de um avanço tecnológico ético, sustentável, que respeite suas particularidades históricas e culturais e não acentue desigualdades estruturais”.
Apesar da complexidade do debate, é fundamental que discutamos, entre outros aspectos, como barrar a verdadeira cadeirada digital que as grandes plataformas, big techs, tentam nos aplicar, impedindo a aprovação do PL 2338.
Instituto Telecom, Terça-feira, 24 de setembro de 2024
Marcello Miranda, Especialista em Telecom
Fonte: Senge-RJ
Foto: Freepik