Por Roberto Freire*
11 de dezembro é dia do engenheiro e da engenheira e nossas profissões vivem desafios imensos diante da conjuntura nacional. O Brasil passou por eleições que decidiram entre o fascismo e a democracia, elegendo a chapa de Lula/Alckmin para a presidência da República. Nos últimos anos, a engenharia nacional foi devastada por um projeto ultraliberal que intensificou o fechamento das empresas, as demissões em massa e a desnacionalização da economia. Para um engenheiro que também é historiador como eu, rememorar a História é fundamental, tanto para não repeti-la quanto para transformá-la.
Na década de 1980, considerada a década perdida junto com os anos 1990, um engenheiro desempregado virou notícia, pois abriu uma lanchonete na avenida Paulista, em São Paulo, com o nome: “O engenheiro que virou suco”. Os anos 80 e 90 foram marcados pelo aprofundamento do neoliberalismo no Brasil pós-ditadura civil-militar, com descontrole da inflação, enfraquecimento do mercado interno e falta de empregos de qualidade. Já durante os governos Lula e Dilma (2003-2016), presenciamos o boom da engenharia com especulações, inclusive, de um apagão de engenheiros no Brasil, dadas as oportunidades da indústria naval e em petróleo e gás. As universidades recebiam inscrições de estudantes do Brasil inteiro para os cursos de engenharia. Por outro lado, os institutos federais foram interiorizados ampliando as oportunidades de acesso à educação e estimulando a economia local de seus territórios. O país saiu do Mapa da Fome.
Agora, o engenheiro virou Uber. Milhares estão desempregados ou fora da área ou em condições altamente precarizadas. Após o golpe ao mandato da presidenta Dilma Rousseff, houve a implementação da Reforma Trabalhista por Michel Temer, lei que enfraquece o emprego de carteira assinada e não aumentou o número de empregos como prometido. Muitos profissionais são contratados via MEI ou PJ sem garantia alguma de direitos trabalhistas como férias, 13º salário, FGTS. Já no governo Bolsonaro, essa política de desmonte do Estado foi aprofundada com a privatização de estatais como a Eletrobras, o fim dos concursos públicos, o teto de gastos em áreas fundamentais como saúde, educação, ciência e pesquisa.
2023 será um ano de refundação da democracia e de reconstrução do Brasil, e a engenharia tem responsabilidade nesse processo que deverá vir balizado com o compromisso de inclusão social, enfrentamento à fome, geração de emprego e renda, investimento em educação e saúde pública, participação popular e defesa do meio ambiente e da soberania nacional. O que vivemos no passado e vivenciamos hoje deve ser a lente de transformação social para o futuro. E aqui encerro, lembrando do discurso do engenheiro e político brasileiro, Rubens Paiva, na madrugada do dia 1º de abril de 1964 (com o golpe civil-militar em andamento desde o dia anterior): “outros são os golpistas que devem ser repelidos e, desta vez, definitivamente para que o nosso país veja realmente o momento da sua libertação raiar”. Vamos reconstruir o Brasil com soberania popular, engenharia e o movimento sindical.
*Roberto Freire é engenheiro eletricista e presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (FISENGE)