O jornalista Breno Altman defende em palestra magna na abertura do 12º Consenge que o projeto político e econômico do atual governo coloca o Brasil de volta na função de colônia e representa um dano ao desenvolvimento econômico e industrial do país
Por Marine Moraes (Senge-PE)
Com o tema “A engenharia, o sindicalismo, a democracia e a soberania nacional”, o jornalista Breno Altman ministrou palestra magna na abertura do 12º Congresso Nacional de Sindicatos de Engenheiros (Consenge), com patrocínio da Mútua e apoio do Crea-RJ. Durante o evento, Altman descreveu o atual momento econômico como regressão do Brasil na divisão internacional do trabalho, com retorno ao colonialismo e queda na taxa de industrialização. O jornalista ainda afirmou que, possivelmente, no final de 2021, o país tenha uma participação na indústria abaixo dos dois dígitos do PIB nacional, o que corresponde a uma economia inferior ao início do século. De acordo com ele, não há saída para o Brasil e para o desenvolvimento brasileiro sem derrotar o bolsonarismo com tudo que ele representa e reestabelecer um bloco de força capaz de retomar o desenvolvimento com base na soberania nacional e na distribuição de renda e riqueza.
“Derrotar esse projeto é fundamental, não apenas para recuperarmos a soberania como categoria geopolítica, e também para recuperar o desenvolvimento. O Brasil não tem como se desenvolver, plenamente, atendendo os desejos e necessidades da população, construindo uma base para o futuro, criando educação, saúde e cultura de qualidade, sem retomar o seu projeto de desenvolvimento que tem na industrialização sua mola mátria, sua mola principal. É um desafio fundamental para nosso país, e ele pressupõe uma luta duríssima contra dois grupos associados: estados imperialistas e nações capitalistas, e uma luta interna contra os distintos setores da burguesia brasileira, que nascida de costas para o país, se transformou numa burguesia inimiga da nação”, disse.
Para Altman, esse processo de relocação do Brasil na divisão internacional de trabalho, se transformando em um país provedor de matéria-prima e de produtos agrícolas, tem uma consequência dramática. “As consequências sobre a sociedade estão muito visíveis: queda da qualidade de empregos, aumento do desemprego estrutural, aumento da concentração de trabalhadores precarizados, aumento dos cinturões das nossas maiores cidades, portanto um aumento da violência urbana, um crescimento brutal da desigualdade social, uma desaceleração dramática da taxa de investimento pública ou privada”, pontuou.
O jornalista avaliou que existe uma guerra entre dois projetos políticos e econômicos. De um lado, a política exercida pelo atual governo com concentração de riqueza e poder econômico nas mãos da fração agrária, que, aos poucos, tem voltado a ser hegemônica na economia brasileira. “Uma economia que não vive mais de investir, produzir e sobreviver, vive de importar e comercializar os produtos, entregando seus ativos aos grandes sujeitos financeiros”, afirmou.
Do outro lado, o projeto que vigorou entre 2003 e 2016, nos governos Lula e Dilma, com a tentativa de reverter a implantação do governo neoliberal, com distribuição de renda e riqueza. “Outro modelo de desenvolvimento, que não era baseado no interesse do capital financeiro. Com expansão do mercado interno de massas, recuperação do papel do Estado, reindustrialização do país”. Altman defende que esse modelo permitia uma melhoria com a retomada do investimento na infraestrutura e no fortalecimento das relações internacionais, em especial, na América Latina e Caribenha e nas relações com a China.
Esse projeto de distribuição de renda e riqueza, de acordo com o jornalista, foi derrotado com o golpe em 2016. “Essas estratégias bateram de frente com os interesses das demais nações do mundo e com o papel que essas nações destinavam ao Brasil. Um país que pudesse retomar seu ritmo de industrialização de forma autônoma, e que o fizesse no dinamismo interno não com dinamismo externo, e ainda um país com reservas, como o pré-sal, é um modelo inaceitável para as grandes potências internacionais, especialmente os Estados Unidos”, finalizou.