Mesmo com a feminização do mercado de trabalho, a engenharia ainda carrega a marca da masculinidade enraizada. A profissão continua sendo um espaço eminentemente masculino, tanto no que se refere à formação quanto no exercício da profissão. Os números comprovam, de acordo com o Mapeamento da Participação Feminina Dentro do Sistema Confea/Crea, em Pernambuco, dos 39.158 profissionais registrados no Sistema Confea/Crea, apenas 6.525 são mulheres, ou seja, 16,66%.
Uma das explicações para esta questão é de que a engenharia moderna surgiu nas academias militares, principalmente relacionadas à construção de instrumentos bélicos. O que, na época, afastou as mulheres da profissão. Outra questão que contribuiu para a diminuição da presença feminina na engenharia no Brasil foi a relação da fundação das primeiras escolas de engenharia, no século XIX, com a formação de engenheiros oriundos da classe dominante exportadora de café.
Por outro lado, a educação superior era exclusividade masculina, para as mulheres só restava o ensino básico. As universidades, criadas no século XII, só passaram a admitir efetivamente as mulheres no final do século XIX. Fora das escolas, elas também não podiam desenvolver pesquisas, sendo excluídas das grandes descobertas científicas. Ou seja, um grande descaso no que se refere às potencialidades femininas da época.
Precisou de muita ousadia, determinação e inovação, para que, a partir da década de 1940, as mulheres conseguissem ingressar no ensino superior e demonstrar interesse pela ciência. Eram mulheres originárias de famílias tradicionais, pertencentes à elite econômica e intelectual da sociedade pernambucana. Elas contavam com o importante apoio da família e frequentavam as escolas acompanhadas de suas damas de companhia, uma forma de diminuir a insegurança e desconforto ao entrar em um território masculino.
Hoje, a presença das mulheres nos cursos de engenharia e no mercado de trabalho é marcante. Foram décadas de embate, de enfrentamento e muita luta por empoderamento, pertencimento e visibilidade. Apesar da determinação e da força das mulheres em ocupar espaços na engenharia, tradicionalmente masculinos, a desigualdade salarial e os problemas de hierarquia relacionados aos homens permanecem.
Na modalidade de engenharia química, por exemplo, o rendimento da mulher representa 67,6% do relacionado aos homens. A maior diferença entre as modalidades. Porém, a média segue sendo gritante, as mulheres ganham, de forma geral, 82,1% do salário de um engenheiro. Uma clara diferença, visto que as atividades desempenhadas são iguais e o tempo dedicado a elas também. Além disso, não se pode ignorar o fato que as mulheres exercem dupla jornada e continuam gastando 95% mais tempo em afazeres domésticos do que os homens.
Dentro do Sistema Confea/Crea é ainda mais preocupante. Dos 46 conselheiros titulares do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco, Crea-PE, apenas 4 são mulheres, menos de 10%. Reflexo da realidade nacional, onde apenas 11% dos conselheiros estaduais são mulheres. Em relação aos conselheiros federais, a situação é pior. São 18 conselheiros federais e todos são homens, NENHUMA mulher.
Para a diretora da mulher do Senge-PE e engenheira civil, Eloísa Basto, é necessário seguir garantindo espaços e promover campanhas para atrair mais mulheres para ocupar postos de decisão, seja no mercado de trabalho, seja dentro do Sistema Confea/Crea. “Precisamos ter clareza sobre nossa capacidade de liderança e de representatividade. É tempo de deixar de ser coadjuvante e escrever nossa própria história dentro da engenharia. Muitas mulheres batalharam para garantir que nós estivéssemos aqui, então vamos seguir no enfrentamento e incentivar cada vez mais colegas a ocupar tais espaços. Queremos, primeiramente, mais estudantes mulheres dentro das escolas de engenharia. Essa mudança nos dará mais engenheiras no mercado de trabalho, mais conselheiras no Sistema e uma engenharia inclusiva e igualitária”, afirmou.
Fonte: Senge-PE
Foto: Joka Madruga/Fisenge