O presidente do Sindimetal Niterói, Edson Rocha, alertou para a intenção do governo federal de abrir ao mercado externo a navegação de cabotagem
Alerj (12/08/2019) – Foto: Suellen Lessa/Alerj
A Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval foi relançada nesta segunda-feira (12), em evento no plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval), os estaleiros brasileiros empregam atualmente 25 mil trabalhadores no país, praticamente um terço (31,3%) da ocupação registrada no início dos anos 2000, quando o setor chegou a gerar mais de 80 mil empregos diretos. Uma queda brutal, de 68,75%. O Estado do Rio de Janeiro perdeu, nos últimos quatro anos, mais 25 mil postos de trabalho no segmento.
“Não é possível que um país com uma costa como a que temos não disponha de uma indústria naval à altura”, afirmou, durante a solenidade, Olímpio Alves dos Santos, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ). “Não existe Marinha autônoma, se não houver indústria naval, com toda a sua cadeia produtiva.”
Trata-se de uma questão de soberania nacional, destacou o presidente do Senge-RJ. “Se nós temos uma opção por um país soberano, precisamos ter uma Marinha de guerra capaz de defender este pais. Se não houver isso, para que Amazônia Azul, para que defesa do pré-sal? Nossa força deveria ser a Marinha porque os nossos inimigos não estão na América Latina; estão fora das fronteiras.”
O desmonte do setor naval atingiu, no estado do Rio, principalmente os municípios de Angra dos Reis, Niterói e a capital. Em Angra, os 8 mil empregos que um dia existiram no setor reduziram-se a cerca de 1,8 mil, de acordo com a presidente do sindicato de metalúrgicos da cidade, Cristiane Marcolino, que atribuiu ao grande desemprego o aumento da violência na região. O presidente do Sindimetal Niterói e Itaboraí, Edson Rocha, lembra que há três embarcações paradas no Estaleiro Mauá, virando sucata, ou R$ 1 bilhão “sendo jogados fora”.
Desnacionalização da cabotagem
Segundo Edson, uma nova ameaça estaria sendo preparada contra o setor naval, por meio de uma Medida Provisória para abrir o mercado de navegação de cabotagem. “Está sendo preparada em Brasília. Não sabemos o conteúdo [da MP], não está sendo construída tripartite”, criticou, ressaltando o interesse dos trabalhadores em participarem das discussões.
“Essa ideia da cabotagem, de abrir os portos brasileiros… a Marinha tem que tomar cuidado. Se internacionalizarem nossos portos, nossa cabotagem, vai fiscalizar o que, para quê?”, questionou o presidente do Sindimetal Niterói. “Não podemos deixar esse discurso prevalecer. O Brasil precisa ter um Marinha nacional, desenvolver o trabalho no Brasil.”
Lava Jato
Para o dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, uma das principais responsáveis pelos estragos para os empregos do setor naval – atingindo engenheiros, metalúrgicos, trabalhadores da construção civil, entre outros – foi a criminalização das empresas durante os processos da operação Lava Jato. “Os atuais governantes não enxergam isso – o desemprego, a perda de arrecadação? Enxergam mas não tomam as medidas necessárias, porque estão comprometidos com o golpe e com essa farsa que é a Operação Lava Jato. A cada revelação, o The Intercept deixa mais claro qual foi o objetivo desse dito escândalo de corrupção. O ressurgimento da indústria naval é urgente, nosso povo precisa de emprego. Este governo não tem politica de emprego nenhuma.”
O presidente do Senge-RJ também critica a força tarefa do Ministério Público que inviabilizou algumas das maiores empresas nacionais. “Nós destruímos nosso parque de empreiteiras”, destacou Olímpio. “Os empreiteiros que construíram as estradas de ferro do Oeste americano eram chamados de barões ladrões. Entre eles estava o Morgan, hoje nome de banco, que era tão descarado politicamente que tinha um iate chamado El Corsario. Mas o governo dos EUA nunca destruiu as empreiteiras americanas; quem comete crime não é o CNPJ. Deveríamos procurar os objetivos estratégicos desse processo, por que fizeram isso no Brasil.” Para Olímpio, é muito importante que trabalhadores e empresários do setor debatam juntos para entender as dificuldades da indústria.
Audiência pública
O presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval, deputado Waldeck Carneiro (PT), informou que haverá uma reunião técnica e, em setembro, uma audiência pública sobre o tema. “Nossa primeira ação vai ser reunir agentes que queiram melhorar o setor para debatermos uma saída para a crise”, explica. “O objetivo é contar com deputados federais, vereadores e outros representantes das três esferas de poder.”
O diretor de Engenharia Naval da Marinha, almirante Mário Ferreira Botelho, presente ao lançamento da frente, apontou o apoio governamental como determinante para a existência de uma indústria naval forte. “Infelizmente, no Brasil, a indústria naval vive ciclos de altos e baixos”, avaliou. “Em qualquer país que tenha um forte setor naval há uma grande parceria com o governo, seja nos Estados Unidos ou na China, por exemplo. Essa indústria é de base e precisa de apoio institucional. É assim que funciona no mundo inteiro. Nossos estaleiros são capacitados e precisamos acabar com esses ciclos de prosperidade e crise.”
Também estiveram presentes no evento o deputado Paulo Bagueira (SD), a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o deputado federal Paulo Ramos (PDT-RJ), o ex-deputado federal Luiz Sérgio, e o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego e Renda, Lucas Tristão.
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Fonte: Senge-RJ com informações do Portal da Alerj