Mesmo debaixo de chuva, o ato formou uma corrente humana por 681 metros de calçada.
A chuva e o vento forte da manhã desta sexta-feira (5) não impediram um abraço coletivo ao complexo de prédios de Furnas, que ocupou uma extensão de 681 metros de calçada, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, contra a saída da sede da estatal do seu endereço histórico, onde funciona há 48 anos. O ato também foi um protesto contra as privatizações no setor elétrico, e reuniu contratados, terceirizados, comerciantes e comerciários do bairro, representantes de entidades sindicais.
“Este abraço, que está sendo feito por trabalhadores e trabalhadoras, é a garantia – soberanamente – de defender não só Furnas, mas de defender que o Brasil mantenha sua soberania, que está sendo atacada”, afirmou o deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ), presente à manifestação.
Para o parlamentar, o anúncio da diretoria de Furnas de que pretende deslocar os trabalhadores para um prédio comercial na região da Central do Brasil e de Jacarepaguá, faz parte da ofensiva mais ampla do governo Bolsonaro contra as estatais. “É um desmonte do Estado brasileiro e das suas garantias sociais. Quem ainda não entendeu isso, e que há uma articulação do Judiciário para fazer com que o Brasil seja entregue de bandeja para empresas internacionais, está perdendo o bonde da história.”
Para a dirigente da CUT Rio, Duda Quiroga, a dispersão dos trabalhadores também tem o propósito de dificultar a mobilização em defesa dos seus direitos e da própria empresa, e trará impactos diretos na economia da região, já estagnada com o alto desemprego. “A direção de Furnas pretende separar os trabalhadores para não permitir sua organização, e não leva em conta o impacto no desenvolvimento local. Esta manifestação, hoje, está dentro da nossa luta maior pelas empresas públicas.”
O cerco às liberdades democráticas também exige maior unidade, destacou Luís Mário, diretor do Sindicato dos Petroleiros e da Federação Única de Petroleiros (FUP). “Não existe uma única classe trabalhadora”, alertou. “Eletricitários, metalúrgicos, petroleiros, bancários, trabalhadores da limpeza urbana, todos os trabalhadores têm que se unir. O momento é de ditadura e o povo tem que estar unido contra ela, não podemos ficar separados. Não é luta de um só, mas de um coletivo operário, que temos que construir juntos, tijolo a tijolo, debaixo de chuva , de sol e das opressões que o Estado nos oferece.”
Frente Parlamentar
Nesse sentido, Glauber Braga ressaltou o papel da Frente Parlamentar em Defesa de Furnas, que será lançada em Brasília, no próximo dia 9 (terça-feira). “Essa Frente tem um objetivo importantissimo, que é articular a luta dos trabalhadores com parlamentares progressistas e aqueles que podem ser influenciáveis, para que a possamos acumular forças de uma maneira mais ampla. É uma articulação da sociedade civil, sindicatos, trabalhadores e parlamentares comprometidos com o desenvolvimento soberano brasileiro.”
Para Miguel Sampaio, diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), a privatização no setor elétrico trará tarifas mais caras e barreiras à retomada econômica. “Furnas foi criada, na década de 50, exatamente porque o setor privado que atuava neste mercado não correspondia às expectativas . Agora, que está tudo pronto, e que a iniciativa privada se apoderou do Estado, querem pegá-la de volta. Se precisarmos de novos investimentos, eles vão pedir ao governo, porque o empresário privado não bota dinheiro nisso, nem reduz preço de tarifa. As pessoas vão pagar tarifa mais caras e o país perderá o poder de baratear a tarifa como política de apoio ao desenvolvimento, nas indústrias e em outros setores. Isso a iniciativa privada não faz.”
A intenção de mudar a sede de Furnas foi comunicada pela direção da empresa, antes mesmo de passar pelo Conselho de Administração, observou Felipe Araújo, diretor do Senge-RJ e da Associação dos Empregados de Furnas (Asef). Na sua avaliação, para assustar os empregados – cerca de 2 mil na sede. “Apesar do clima de medo instaurado por este governo, a gente sabia que os trabalhadores de Furnas iam descer para abraçar a empresa, porque eles têm consciência do seu dever de ofício. Furnas é muito maior do que eles imaginam.”
Também houve abraços coletivos em outras unidades de Furnas, como na Usina Termoelétrica (UTE) de Santa Cruz. Na manifestação realizada em Botafogo, estiveram presentes, ainda, representantes dos mandatos da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e do deputado estadual Waldeck Carneiro (PT-RJ). O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), retido em Brasília na Comissão que aprovou o projeto de Reforma da Previdência, justificou a ausência e mandou mensagem declarando apoio à mobilização dos trabalhadores em defesa de Furnas.
O ato contou com a participação de representantes da CUT, CTB e de sindicatos, como o Sindicato dos Petroleiros, a Federação Única de Petroleiros (FUP) e a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Energia (Sintergia-RJ), o Sindicato dos Administradores no Estado do Rio de Janeiro (Sinaerj). Foi convocado pela Associação dos Empregados de Furnas (Asef), a Associação dos Contratados, Ex-contratados e Prestadores de Serviços em Furnas Centrais Elétricas (Acep), Associação dos Aposentados de Furnas (Após Furnas), a Intersindical Furnas e a União Intersindical Furnas.
Fonte: Veronica Couto / Fotos: Comunicação Senge-RJ