Por Ubiratan Félix*
Se há algo que marcou o ano de 1968 foi o movimento estudantil. No Brasil e em outros países, os estudantes saíram às ruas protestando contra a guerra e o ensino arcaico e pela paz. Apesar das reivindicações específicas de cada país quanto às reformas universitárias e os problemas locais, há questões comuns a todos, como o anti-imperialismo refletido na revolta contra a interferência dos EUA no Vietnã, e a crítica à esquerda convencional que optou por reformas consentidas pela burguesia e pela política de colaboração de classes.
Em relação à universidade, os estudantes recusavam as formas tradicionais e desinteressantes do ensino, sua elitização e mesmo o fato da ciência e da cultura serem usadas como formas de dominação da burguesia. Com a força de contestação que perpassava o meio universitário, os estudantes ganham as ruas e a adesão de setores da sociedade que, quando não se engajam diretamente nas greves e passeatas, mostram-se solidários ao movimento.
As manifestações estudantis ocorreram durante todo o ano na Alemanha, Itália, EUA, Argentina, Argélia, Tchecoslováquia, Polônia, Chile, França, Brasil e muitos outros países. Na França, em 20 de março de 1968, teve início o movimento que ficaria conhecido como “maio de 68 ou maio francês”, com a ocupação da universidade de Nanterre pelos estudantes, em protesto pela a prisão de um colega que pertencia ao comitê “Vietnã contra a guerra”.
O movimento chega a outras universidades até atingir as ruas em 1º de maio de 1968. A Sorbonne já havia se juntado à Nanterre e sofrido invasão da policia em 02 de maio. O movimento assume um caráter nacional, partindo para a contestação geral do governo, da sociedade, da arte e da cultura. Quase todas as universidades francesas param e são ocupadas pelos alunos e, em seguida, serem ocupadas pela polícia. Nas ruas, erguem-se barricadas. A violência policial cresce e centenas de pessoas são feridas nos confrontos.
De 04 a 11 de maio, as barricadas tomam as ruas, e, então, começam as adesões. Durante a noite, entre 10 e 11 de maio, fica conhecida “a noite das barricadas”. No dia 13 de maio, todas as universidades estão ocupadas. No dia 15 começa a greve geral condenada pela CGT (Confederação Geral do Trabalho), ligada ao Partido Comunista Francês. Mesmo assim, dez milhões de trabalhadores param no dia 30 e o general Charles De Gaulle, presidente da França, dissolve a Assembleia Nacional e convoca eleições. Começam as negociações entre patrões e empregados para por fim à greve. O acordo “põe fim” a maio de 1968, excluindo os estudantes. Em junho, alguns focos ainda resistem. Em julho, o movimento já não existe mais.
No Brasil, o movimento estudantil explode. Primeiro, no Rio de Janeiro, com a morte de Edson Luís. Depois, em São Paulo, com o enfrentamento dos estudantes da faculdade de Filosofia da USP (Universidade de São Paulo) com estudantes da Mackenzie simpatizantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas).
No início do ano de 1968, a política do regime militar oscilava entre o diálogo e a repressão aos movimentos populares. Os fatos sucediam com rapidez com grande repercussão nacional, como o movimento de “estado de alerta” contra os acordos MEC-USAID que contrariavam os interesses nacionais.
A polícia cercaria o prédio da Reitoria da UFRJ, com o objetivo de prender todos os líderes da UNE (União Nacional dos Estudantes), e contra os quais são expedidos mandatos de detenção. Na saída do prédio houve intensos conflitos e centenas de jovens foram acuados num campo de futebol das proximidades, sofrendo espancamento coletivo, antes de passarem horas deitados. Tais fatos, que se repetem em todo país, dão origem à passeata dos 100 mil, momento em que a ditadura executa um recuo tático, retirando o aparato militar das ruas. Em julho de 1968, Costa e Silva proíbe as passeatas em todo território nacional. No dia 12 de outubro de 1968, a Polícia Militar paulista dissolve e prende violentamente 1.249 estudantes que participavam do 30º Congresso da UNE, em Ibiúna.
50 anos depois a luta ainda continua, contra novos e velhos inimigos. Estudantes continuam em protesto, como se viu com a ocupação dos secundaristas em todo país contra a Reforma do Ensino Médio. Segue a luta conta a ditadura do capital e o imperialismo, contra a discriminação racial e de gênero e contra a LBGTfobia e também pela liberdade, pela democracia, pelas reformas agrária e urbana. Definitivamente, o sonho não acabou.
*Ubiratan Félix Pereira dos Santos
Presidente do SENGE-BA
Professor do IFBA
Vice-presidente da FISENGE
Crédito Foto: Ana Paula Bispo